No funeral de Vasco de Carvalho, legítimo líder do PCP desde 1940 até ter sido preso pela PIDE em 1942, realizado esta manhã, foi proferido o seguinte elogio fúnebre - pelo seu antigo companheiro no movimento cooperativista José Hipólito dos Santos:
Duas palavras sobre o Vasco de Carvalho
O movimento da história estudada, escrita e publicada é muito lento.
Vasco de Carvalho viveu uma vida marcada pelo opróbio duma calúnia, que muitos pensavam ser verdade, que muitos outros pensavam ser falsa mas necessária, muitos outros que era totalmente falsa e criminosa.
De temperamento discreto, com uma grande capacidade de diálogo e reflexão, não escondia ser antiestalinista, nem a sua desaprovação pelo que se passava nos regimes ditos socialistas.
Como dirigente cooperativista, integrou um grupo que era acusado de aceitar colaboradores da polícia e traidores à causa socialista. Resistiu e acabou por se impôr!
E era necessário uma grande força moral e convicção política para resistir à perseguição dos "camaradas" e da PIDE.
Já depois do 25 de Abril, à frente da Associação dos Inquilinos, participou activamente num profundo movimento de organização dos inquilinos a nível dos bairros da cidade, mas também do Porto e outras cidades. A Inter-CGTP, opunha-se com frequência a essas lutas que não controlava e, mais uma vez, em Dezembro de 1979, foi organizada uma nova campanha contra Vasco de Carvalho e a sua equipa, acusada de "serem do PPD", isto é, do "inimigo"!
Sob a direcção de Zita Seabra, a AIL foi objecto de assalto e passou ao controle dum PCP sectário e partidário do quanto pior melhor.
Foi um terrível golpe para o Vasco de Carvalho que actualizou as chagas do passado nunca completamente saradas.
A solidariedade de todo um conjunto de amigos e colaboradores e o trabalho de investigação histórica que tem vindo a ser feito, vieram trazer-lhe o ânimo de que a sua memória seria totalmente lavada. Mas sofria cada vez que reencontrava nas notícias manifestações dum sectarismo que se renova cada dia.
Foi um cidadão combativo e discreto, sempre atento aos novos movimentos sociais e culturais a nível mundial.
A sua disponibilidade para ouvir e dialogar, para ajudar a questionar o que nos rodeia, vai fazer falta a muitos de nós.
25 de Agosto de 2006
José Hipólito dos Santos
Subscrever Pravda Telegram channel, Facebook, Twitter