A partir de ontem a Venezuela oficialmente entrou no Mercosul. O protocolo de adesão de Caracas à grande organização económica regional foi assinado nas vésperas da festa nacional dos venezuelanos 195o aniversário da independência. Na solenidade estiveram presentes os presidentes dos países fundadores do Mercosul Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai.
Com a adesão do quinto país, o bloco passará a ter 250 milhões de habitantes, área de 12,7 milhões de quilômetros quadrados e um Produto Interno Bruto (PIB) de US$ 1 trilhão, 76% do total da América do Sul.
Segundo as agências de notícias o presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva em seu discurso saudou nesta a entrada da Venezuela no Mercosul e pela primeira vez apoiou publicamente a candidatura do país para uma vaga rotativa no Conselho de Segurança das Nações Unidas. "Nas Nações Unidas e na OMC somamos nossas vozes para ajudar a modificar as regras e procedimentos que não respondem aos interesses de nossa região", afirmou.
Lula foi aplaudido de pé ao pedir a redução das assimetrias no bloco sul-americano, que enfrenta uma de suas piores crises. Ele defendeu mecanismos que melhorem o comércio entre os países do bloco, facilitando as exportações das economias menores. Sustentou, também, que são necessários mais investimentos que fortaleçam a produção. "Nós não vamos encontrar uma solução para o Mercosul se ficarmos jogando a culpa dos nossos problemas nas costas dos outros", disse.
O pronunciamento de Lula pregando o resgate dos princípios que nortearam a criação do Mercosul, foi feito um dia depois de o presidente do Paraguai, Nicanor Duarte, escancarar as divergências entre os parceiros e chamar o Brasil e a Argentina de "egoístas e hipócritas".
Duarte chegou a ameaçar tirar seu país da aliança caso brasileiros e argentinos não ponham um ponto final nas práticas "protecionistas" que permitem acordos de comércio bilateral com países fora do Mercosul. "Se não há alternativas para nossa economia melhorar e para diversificar nossos mercados a fim de sermos competitivos, qualquer um de nós pode desconectar o respirador que mantém o Mercosul vivo", afirmou o presidente do Paraguai, que reivindicou ajuda para pagar uma dívida de US$ 19 bilhões com a Itaipu.
Suas declarações, publicadas no jornal britânico Financial Times, causaram forte reação em Caracas. Após encontro reservado com Duarte, no Palácio Miraflores, Chávez anunciou que a Venezuela comprará US$ 100 milhões em bônus do Paraguai. "Temos falado de uns US$ 100 milhões como uma linha de crédito para comprar bônus, seja do Tesouro paraguaio ou da instituição financeira", declarou ele, ao lado de Duarte.
A despeito da crise, Lula afirmou que a entrada da Venezuela dá "novos horizontes" e confere uma "dimensão continental" ao Mercosul. Ele rebateu as avaliações que a entrada de Hugo Chávez no bloco azedará as relações com os Estados Unidos - alvo de pesadas críticas do líder venezuelano. "Ninguém vai importar ou vender ideologias: nós vamos trocar experiências científicas e tecnológicas, trocar produtos", afirmou Lula.
Além dos presidentes de Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela, também participou da cerimônia o presidente da Bolívia, Evo Morales, que recentemente entrou em choque com o Brasil ao colocar seu exército em frente às refinarias da Petrobrás.
No momento, a Petrobrás negocia novos preços para o gás da Bolívia, e Lula deixou claro que o assunto não foi tratado. "Se o Evo Morales quisesse conversar comigo sobre gás, ele não viria aqui só para isso. Na hora em que ele quiser conversar, tenho o ministro das Minas e Energia, tenho o presidente da Petrobrás e na hora em que ele sentir necessidade faremos tantas reuniões quantas necessárias", disse.
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