Toda a coleção de gravuras de Debret foi levada do Arquivo Geral da Cidade, no centro do Rio.
Debret (foto) foi um dos pintores e desenhistas que vieram ao Brasil com a missão de artistas franceses, solicitada por Dom João VI, em 1816, para retratar o país. Ficou aqui até 1831, dedicando-se à pintura e ao ensino da arte. Mais do que a paisagem, ele retratou a sociedade brasileira, destacando a forte presença dos escravos. Ao voltar para a França publicou, em Paris, a obra Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil, com uma série de gravuras sobre aspectos, paisagens e costumes brasileiros, de valor fundamental para nossa história do começo do séc. 19.
Além da coleção de gravuras de Debret - 87 pranchas, reproduções de uma edição limitada a partir da coleção dos Museus Castro Maya - os ladrões também levaram 146 estudos feitos pelo pintor Lucílio de Albuquerque e 2 mil cartões postais, 38 estereoscópios (técnica do século 19 em que duas imagens eram colocadas lado a lado, permitindo que a paisagem seja visualizada em terceira dimensão).
O acervo de Augusto Malta, de 15 mil fotos, também foi bastante dilapidado. Os criminosos levaram 19 álbuns e deixaram oito, com fotos rasgadas e capas arrancadas. A diretora do Arquivo, Beatriz Kushnir, não informou o número de fotografias, porque o levantamento ainda não havia sido concluído nas 1006 pastas, mas a Polícia Federal informou que são cerca de mil imagens.
"O material roubado era suficiente para encher um caminhão", informou o delegado federal Deuler Rocha, que investiga o furto, provavelmente cometido no feriado prolongado de Corpus Christi.
Os criminosos não arrombaram nenhuma das sete portas no trajeto até o acervo. O prédio, no centro do Rio, não tem sistema de segurança. Apenas três vigilantes em turnos de 12 horas cuidam dos bens guardados ali. Eles disseram que não perceberam movimentação estranha.
O assalto ocorreu 40 dias antes da instalação de um novo sistema de segurança. O prefeito Cesar Maia não explicou por que o Arquivo, com acervo tão importante, com registros desde o período colonial, não era guardado por câmeras e sensores de presença.
A Polícia Federal requisitou a listagem dos pesquisadores que estiveram no Arquivo nos últimos oito meses para tentar identificar possíveis mandantes do furto. Esses nomes serão comparados com os dos visitantes do Museu da Chácara do Céu, da Biblioteca Nacional e do Museu da Cidade, que também tiveram parte do seu acervo roubado no último ano.
"A Polícia Federal tem um banco de dados e vamos buscar a coincidência de frequência nessas instituições no período que antecedeu o roubo para identificar suspeitos", afirmou Deuler Rocha.
Por determinação da PF, as salas que guardam os bens foram lacradas. Na terça-feira, seis peritos passaram o dia recolhendo impressões digitais e fotografando a área do roubo. Hoje, após as salas serem reabertas para os funcionários, foi constatado o desaparecimento dos demais itens.
O sumiço dos bens foi notado na manhã de segunda-feira, quando uma fotografia de Malta foi procurada e não localizada no acervo. Deram por falta de 18 imagens de Augusto Malta, o fotógrafo oficial da prefeitura entre 1906 e 1936.
A diretora fez um apelo para que leiloeiros e colecionadores não negociem essas obras. São bens com públicos que não podem ser privatizados.
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