O vice-presidente do Conselho Federal de Economia (COFECON), Aurelino Levy Dias de Campos, levantou recentemente algumas questões relevantes relativas à retração do mercado de trabalho do economista, no Brasil, e também sobre a redução do interesse pelo estudo da Economia.
Questionado sobre os fatores que têm levado à redução do interesse pelo estudo da Economia no país Levy argumenta que embora algumas instituições tenham fechado seus cursos, não acreditamos ser o desinteresse pelo estudo da Economia o motivo central que levou a tal situação, principalmente porque temos tradição no estudo, inclusive, com muitos acertos nos diagnósticos elaborados (derrubamos a inflação, conseguimos a estabilidade econômica etc.) e pelos desafios que ainda temos a vencer.
Segundo ele, o que de fato levou ao fechamento de alguns cursos de Economia diz respeito ao quadro conjuntural momentâneo, de desesperança.
PESQUISA
Na opinião, de Levy, o economista não deixou de ser interessante no mercado de trabalho; pelo contrário. As organizações nacionais e internacionais contratam cada vez mais o profissional de Economia. Tanto os governos como as empresas valorizam este profissional. No Brasil de hoje, somos mais de 80 mil economistas.
O vice-presidente do COFECON diz, ainda, que o Conselho estuda a possibilidade de refazer a pesquisa realizada em 1996 na qual um cenário interessante foi sobre o perfil do economista foi então delineado.
Para ser ter uma idéia diz ele basta observar os resultados alcançados: 82,3% dos economistas eram do sexo masculino, e apenas 17,7% do sexo feminino. Quanto à raça 84,7% declararam brancos, 11% pardos, 2,6% negros, 1,6% amarelos e 0,1% indígena.
PERFIL
Na Região Centro-Oeste a predominância foi a de economistas nascidos na Região Sudeste. Ainda, 65,3% dos profissionais de economia concentravam-se na faixa etária de 30 a 39 anos, o correspondente a 31,8% e, na faixa etária de 40 a 49 anos, 33,5%. Na realidade, a idade média do economista apontada foi de 42,4 anos.
No orçamento doméstico, a pesquisa registrou que 68,3% dos economistas contribuíam para a manutenção das despesas familiares. Interessante destacar que a decisão para estudar economia não surgiu por influência da mãe ou do pai. Pelo contrário, 73,7% dos economistas não tinham pais com curso superior completo.
Para a escolha da profissão de economista, 43% dos profissionais levou em conta a vontade conhecer e entender os problemas dos países, 15,5% a conquista de emprego, e apenas 11,3% a facilidade de acesso ao curso.
MERCADO DE TRABALHO
Na formação acadêmica, 92% dos economistas tinham especialização, 6,3% mestrado, e apenas 1,7% doutorado. Dos profissionais entrevistados, 53% vieram das instituições particulares, 46,9% das públicas, e apenas 0,1% do exterior.
Na ocupação profissional, o maior contingente ficou por conta dos empregados, com 46,3%. Como funcionários públicos, 26,9%, empregadores, 10,4%, e autônomos, 9,6%. O empregador principal foi o setor público, com 45,6%. Nas empresas privadas nacionais e multinacionais, 40,9%. O economista não mudava com freqüência de emprego e encontrava-se satisfeito com a profissão.
A experiência profissional influenciava no rendimento mensal, onde o economista mais velho ganhava duas vezes mais que o mais jovem, e o mais experiente 45% a mais que o profissional mais velho. Interessante observar que o economista servidor público ganhava 20% a menos que o rendimento médio da categoria. À época, 54,3% dos profissionais de economia tinham expectativa de evolução da carreira. Das previsões de melhora, 35,3%; de permanência 37,9%; e do mercado piorar apenas 26,8%.
ESTABILIZAÇÃO ECONÔMICA
Tanto homens como mulheres preferiram os cursos noturnos, assim expressos: homens com 71,4% e mulheres com 57,2%. Durante os estudos da graduação, 95,1% dos homens e 88,6% das mulheres trabalharam. Na questão referente à evolução profissional, as mulheres se revelaram mais pessimistas, talvez porque ganhavam 79% menos que os homens. No orçamento doméstico as mulheres contribuíam com menos, ou seja, 35,2% contra 75,5% dos homens.
Os cursos de especialização eram priorizados por 62,6% dos economistas. A necessidade de melhorar o ensino de economia era apontada por 57,4% dos economistas. Com relação às entidades da categoria, 49,4% reivindicava um maior rigor na fiscalização do exercício da profissão.
A estabilização econômica era o sonho de 71% dos economistas, sendo que 73,9% concordavam que a inflaçãoprecisava ser reduzida. Sobre o Mercosul, 58,3% dos economistas manifestaram-se favoravelmente, e 53,7% dos profissionais acreditavam na necessidade da realização da reforma agrária.
MÍDIA
Por regiões, a pesquisa identificou que enquanto no sudeste 51,4% dos economistas encontravam-se empregados na empresa privada, no Centro-Oeste apenas 19,1%. O forte na região Centro-Oeste ficou por conta do setor público com 34,8% dos economistas contra 16,8% da região sudeste.
Os economistas mais otimistas com relação ao futuro da profissão, ou seja, 58%, foram os do Centro-Oeste. Dos economistas do Centro-Oeste, 44,3% recomendou o fortalecimento dos Órgãos de representação.
No território nacional, os economistas desse período liam, segundo a preferência: Conjuntura Econômica, Suma Econômica, Revista Brasileira de Economia, Jornal do Brasil, Jornal do Economista, América Economia, Jornal do Cofecon, IOB, ERA (USP) e indicadores FEE. Enquanto nas outras regiões, 54% dos economistas se posicionou de forma favorável à abertura comercial e financeira, a região Centro-Oeste se posicionou com 55,3%.
TAXAS DE JUROS
Quanto às taxas de juros reais elevadas e ao déficit fiscal, 58% dos economistas do Norte e do Centro-Oeste posicionaram-se de forma contrária a manutenção. As críticas se estenderam também à tentativa de permanência das taxas de juros elevadas como fator de atração de capitais estrangeiros, com 52,7% expondo restrição.
O déficit permanente da balança comercial e o aumento da dívida externa eram vistos por 59,3% dos economistas como a causa principal da fragilidade econômica brasileira. Nessa época, 40% dos economistas discordavam de que as privatizações e as reformas em andamento seriam suficientes na garantia do equilíbrio fiscal.
A adesão à reforma agrária como fator de ampliação para a produção de alimentos e matérias-primas teve um reflexo bastante modesto na região Centro-Oeste, de 38 a 40%. Contudo, a taxação maior das terras improdutivas teve uma adesão de 53,8% dos economistas brasileiros, sendo muito pequena as diferenciações entre as regiões. Repensar o papel do Estado na Economia Brasileira foi destacado por 52,5% dos economistas.
PESQUISA PAULISTA
O estudo mais recente sobre a profissão de economista foi realizado em fevereiro de 2006, pelo Conselho Regional de São Paulo- CORECON/SP. Com pesquisa quantitativa, por amostragem, e entrevistas pessoais, traçou-se um retrato mais atualizado da profissão de economista naquele Estado, que na atualidade representa um pouco de todo o Brasil, embora as especificidades sejam bem diferentes. Em relação à formação acadêmica, 77,3% são formados em instituições privadas, e 19,7% em instituições públicas.
No que se refere às expectativas profissionais, 88,8% estão satisfeitos. A maior deficiência constatada foi a falta de trabalhos práticos, com 36,5%. Pelos resultados apresentados, 45,4% cursou ou está cursando algum tipo de pós-graduação.
Para se manterem atualizados, 55% dos economistas de São Paulo tem optado pela leitura de livros técnicos; 40,7% pela leitura de revistas, das quais destacam-se: Exame (44,1%), Veja (22,9%) e Isto é (10%); 36,1% pela leitura de periódicos técnicos, com destaque para Jornal O Economista (68,2%) e Valor Econômico (11,9%); e 32,1% pela leitura de jornais, assim ressaltados: Folha de São Paulo (41,2%), Gazeta (20,9%) e O Estado de São Paulo (6,7%).
ESTUDO DA ECONOMIA
Na formação do cidadão brasileiro, 82,1% consideram essencial o conhecimento de Economia, e 87,1% sugerem a inclusão de alguns conceitos de Economia no ensino médio. Trabalham na área de economia, 85,0% dos profissionais, sendo que 42,5% tem um rendimento mensal acima de R$ 5.001,00, 28,3% dos profissionais de R$ 3.001,00 a R$ 5.000,00, e 20,9% com rendimento mensal até R$ 3.000,00.
Na área de atuação-serviços, destacam-se com 23,9% consultoria-auditoria, seguido de 17,6% pelas Instituições Financeiras, 16,4% pelo setor público, 13,1% pela indústria, 10,5% pelo comércio, e 10,3% na avaliação e perícia. Na opinião dos entrevistados, 73,7% responderam que os economistas estão perdendo espaços para outras profissões: Administradores (71,4%), Engenheiros (67,6%), Contadores (39,5%), Estatísticos (10,3%) etc.
NOVA PESQUISA
Levy argumenta, ainda, que muita coisa mudou ao longo dos anos. Ele destaca, por exemplo, que as mulheres estão cada dia mais atuantes no espaço público, que diversas empresas públicas foram privatizadas, que a máquina estatal fez umgrande enxugamento, que o desemprego no país aumentou, que a reforma agrária não foi implementada e que o papel do Estado encontra-se, de certa forma, indefinido.
Por esta razão, segundo Levy, o Conselho Federal de Economia começa a considerar a possibilidade de realização de um novo estudo, em caráter de urgência, sobre a situação do cenário brasileiro na atualidade, numa tentativa de apontamento de soluções para o restabelecimento da expectativa da evolução da profissão.
Contatos:
Rita de Cássia Arruda
Assessora de Imprensa do Conselho Federal de Economia
Aurelino Levy
Vice-presidente do COFECON
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