Uma semana em Havana, não me dá nenhum direito de tentar responder a questão que sempre se coloca ao viajante de uma forma inquisitiva:
- Então, como é a vida em Cuba?
Implícita na pergunta, está a questão:
- Valeu a pena ter feito uma revolução, ou seria melhor para os cubanos se o país fosse como Porto Rico, por exemplo?
Eu, pessoalmente, nunca tive essa dúvida e sempre fui um defensor, ainda que distante, da Revolução e dos seus líderes, Fidel, Che, Cienfuegos e Raul.
A visita a Havana apenas reforçou esse sentimento e com ela pude perceber muitas das conquistas da Revolução e ao mesmo tempo, sentir que os problemas a serem resolvidos são ainda muito grandes.
O que vou relatar a seguir são as impressões de um viajante simpático ao que pude ver, em companhia do meu filho Conrado, de 18 anos.
Havana é uma cidade profundamente musical. Pelas ruas da Cidade Velha, há sempre a música cubana saindo das dezenas de bares, executada por pequenos grupos de músicos e cantores. Numa sexta-feira, à tarde, numa das inúmeras praças da cidade, sem qualquer anúncio prévio, encontro uma grande orquestra brindando o público com um concerto ao ar livre.
- Outra constatação: homens e mulheres são extremamente comunicativos e abertos ao diálogo com os visitantes. Contam das suas dificuldades (principalmente os salários baixos), mas se orgulham das conquistas que não temos aqui no Brasil: saúde e educação de primeiro mundo, de graça, da maternal à universidade; direito de moradia e alimentação básica subsidiada.
- Havana é uma cidade que preserva como nenhuma outra toda a sua maravilhosa arquitetura colonial. Os grandes prédios e arranha-céus ficam fora da chamada Havana Velha. Há um grande esforço de preservação dos prédios, principalmente nas áreas mais nobres do centro e na orla do Malecon. Nas ruas internas, porém, falta dinheiro para conservar os prédios, que em alguns casos viram quase cortiços.
São velhos prédios de dois ou três andares, habitados por famílias mais pobres, que evidentemente, não têm condições de investir na sua recuperação. Um detalhe: ao contrário do Brasil, por exemplo, os pobres não são expulsos para a periferia da cidade. Moram no centro da cidade, próximos do seu trabalho.
Uma cidade sem mendigos e sem riscos de assaltos, mesmo na madrugada, é algo que o brasileiro, acostumado com o que vive em suas cidades, custa a acreditar, mas, segundo todos dizem, é uma realidade em Havana.
Uma cidade de brancos, negros e mulatos, que parecem em momento algum perceber qualquer tipo de preconceito. No luxuoso Teatro Nacional, onde assisto Don Quixote pelo Ballet Nacional de Cuba, dirigido por Alicia Alonso, na fila à minha frente, um grupo de jovens negras cubanas sentam ao lado de turistas alemães. O ingresso, que a mim, como turista, custou menos de 100 reais (compare com os preços do Teatro São Pedro), para elas custou a metade.
Havana é uma cidade livre dos outdoors que enfeiam nossas cidades. Um dos poucos que vi e fotografei, chama as pessoas para algo que alguns dizem não existir em Cuba: eleições. Seu processo eleitoral é extremamente democrático, começando em pequenos núcleos populacionais, até chegar à Assembléia Nacional. Mesmo assim, o dirigente escolhido por esse processo, é chamado de ditador pela imprensa brasileira, enquanto o que chegou ao poder no Brasil por um golpe parlamentar, é chamado de Presidente.
Marino Boeira é jornalista, formado em História pela UFRGS
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