O fim do TTIP e o Brasil

SÃO PAULO - Por enquanto, o Brasil pode respirar aliviado não só pelo fim definitivo do ciclo que marcou a permanência do lulopetismo no poder e as graves consequências que redundou na economia do País como também pelo fracasso das negociações entre Estados Unidos (EUA) e União Europeia (UE) para a formação do Transatlantic Trade and Investiment Partnership (TTIP), ou apenas Parceria Transatlântica, que, se formalizado, iria abarcar, mesmo sem a China, mais de 75% do comércio de bens do planeta.

Milton Lourenço (*)

Afinal, as tarifas entre EUA e UE já são bastante baixas e, se esse acordo saísse, haveria de estabelecer as regras para o futuro comercial do mundo, pois àquelas nações que não figurassem no acordo só restaria a possibilidade de concordar com tudo sem discussão. Como nesse acordo estariam incluídos os principais competidores na área do agronegócio de Brasil e Argentina, ou seja, EUA, Canadá, Austrália e Nova Zelândia, para o Mercosul restaria uma posição subalterna e a perda de mercados tradicionais.

Por outro lado, as posições do Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) alemão e do governo francês indicam claramente a tendência de um forte recuo protecionista no espaço euro-atlântico, o que faz prever dificuldades também para a conclusão das negociações da UE com o Mercosul. Como se percebe pelas declarações dos negociadores europeus, aquele bloco não admite que sejam questionados princípios essenciais de sua agricultura, que é extremamente protegida por benefícios fiscais.

Para o Brasil, o fracasso das negociações pode ajudar no fortalecimento da Organização Mundial do Comércio (OMC), onde o País está bem situado, já que a direção-geral do órgão está nas mãos do diplomata brasileiro Roberto de Azevêdo. Além disso, em função de um quadro político interno bastante conturbado, o Brasil não dispunha até agora de uma estratégia diante da eventualidade de que o TTIP viesse a ser concretizado, o que, certamente, traria consequências nefastas para as nossas exportações para EUA e Europa, pois os produtos brasileiros, especialmente os do agroneg&oacu te;cio, perderiam poder de competição.

Sem o lulopetismo no poder, o governo brasileiro pode agora partir mais decidido em busca de acordos, por meio do Mercosul ou não, com a UE e com os EUA. Afinal, a filosofia seguida pelos últimos governos brasileiros segundo a qual acordos com países desenvolvidos criariam dependência, mas não crescimento, nunca passou de uma velharia do tempo da Guerra Fria (1945-1991). Só com mais comércio é que surgem crescimento e empregos.

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(*) Milton Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC). E-mail: [email protected]. Site: www.fiorde.com.br

 

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