Baku, Azerbaijão. O local perfeitoo para o Sétimo Fórum Global sobre a Aliança das Nações Unidas de Civilizações, que promove a harmonia entre os povos e as nações, empenhando-se em processos de paz e reconciliação, compreensão intercultural e sociedades inclusivas.
Timothy Bancroft-Hinchey*
Decapitar prisioneiros, como se viu recentemente nas Filipinas e no Oriente Médio nas mãos do Estado Islamita, como se viu no Kosovo, onde os terroristas albaneses decapitaram sérvios, cometendo genocídio, massacres, estupros em massa, práticas que não só fomentam ódio entre as próximas gerações e ainda aumentam o círculo vicioso da violência... tais atos são tão antigos quanto à própria humanidade. Notícias...e palavras de ódio que o perpetuam.
Com isso presente, a Aliança das Nações Unidas de Civilizações (UNAOC, na sigla em inglês) esforça-se para promover a harmonia entre as nações, contrariando as narrativas de ódio e desconfiança que geram violência endêmica e extremismo. Durante a sessão de abertura do Sétimo Fórum Global na capital do Azerbaijão, Baku, o Alto Representante da UNAOC Nassir Abdulaziz al-Nasser, declarou: "A Aliança é a ferramenta de poder brando criado a fim de contribuir para um mundo mais pacífico, pela luta contra a radicalização e polarização, promover maior compreensão intercultural e pelo engajamento em projetos e programas que promovam essas metas".
O tema deste ano é, "viver juntos em sociedades inclusivas: um desafio e um objetivo", que caminha lado a lado com os preceitos básicos da Carta das Nações Unidas - nomeadamente paz e segurança, direitos humanos, o Estado de direito, e a palavra-chave: desenvolvimento. O objetivo de Desenvolvimento na Agenda Desenvolvimento Sustentável 2030 promove "sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável."
Com tantas zonas em conflito em todo o mundo - Kosovo, Ucrânia, Iraque, Síria, Líbia, Saara Ocidental, focos amiúde em todo o continente africano e desestabilização em muitas partes da Ásia, apesar dos esforços conjuntos da ONU através de suas agências e atores internacionais, regionais e locais, parece que os ciclos se repetem com frequência.
Muitas dessas áreas de conflito são resultado direto de uma abordagem ocidental unilateral na gestão de crises, junto de uma política neocolonialista de interferência. Vimos isso no Iraque, onde um país estável foi desestabilizado a ponto de se tornar um Estado fragmentado; vimos o mesmo na Líbia, anteriormente o país com o maior Índice de Desenvolvimento Humano da África, relegada ao que é hoje - um Estado falhado onde o Estado Islâmico está (e é) firmemente infiltrado, já não só na parte oriental desse país mas em Trípoli, cidade capital, em plena fronteira com a Europa; temos visto o mesmo na Síria, onde mensagens imperialistas como "Assad tem que ser derrubado" quando a maioria do seu povo deseja que ele permaneça, onde grupos terroristas foram apoiados abertamente por aqueles que querem que o Presidente Assad se demite, apontam ao fracasso total de tais políticas. Vimos o mesmo no Afeganistão, onde uma década e meia depois, os Taliban estão longe de serem derrotados; vimos a mesma abordagem na Ucrânia onde o Ocidente apoiou abertamente um golpe ilegal encenado por fascistas, com massacres de civis praticados por bandidos armados, disseminando ódio.
Nem todos os atores ocidentais são culpados
A mão da OTAN pode ser vista em muitos desses conflitos, o que não significa que todos os atores no Ocidente sigam a mesma política negativa de violência, que por sua vez criam ódio e perpetuam conflitos. Nas palavras sobre UNAOC, "Muitos anos de experiência demonstram que as abordagens de linha dura e um foco único sobre medidas de segurança, fracassaram".
Basicamente, significa que as causas de todos os problemas de hoje em todo o mundo, derivam da interferência e nas abordagens de cima para baixo que não levam em consideração as necessidades, costumes e tradições locais. Outros fatores que criam a marginalização e a exclusão são listados como as disparidades de riqueza e oportunidades no seio das sociedades, a desigualdade de gênero e desemprego, sobretudo o desemprego juvenil. Todos estes são vetores que empurram as pessoas, especialmente os jovens, ao extremismo e à radicalização, porque sentem que não têm esperanças, nem futuro.
Soluções
Com o desenvolvimento, vem a educação. É mais fácil encontrar o combustível para os processos de paz e reconciliação e uma abordagem mais equilibrada entre os instruídos, com melhor capacidade de leitura e mais bem-educados do que entre aqueles cuja material de leitura diária, na melhor das hipóteses, seria as páginas de esportes em um tabloide, o tipo de pessoa que passa as tardes de sábado gritando obscenidades no estádio de futebol, e os sábados à noite quebrando a louça em casa ou batendo na esposa se seu time/sua equipa perdeu o jogo.
No entanto, a violência é apenas uma extremidade do problema da marginalização. A exclusão e o extremismo, por sua vez, são alimentadas por abusos e violações dos direitos humanos e pela negação das aspirações à inclusão, a negação dos meios para desempenhar um papel, e ter voz. Falta de perspectivas e falta de sentido deixam no indivíduo ausência de direção. Um extremista, ou uma causa terrorista, fornece esse sentimento de pertencimento, de união e apresenta um caminho alternativo que pode parecer altamente atraente... para qualquer excluído ou marginalizado.
O ponto-chave é cortar as raízes da violência, do extremismo e do ódio antes que comecem a florescer, pois uma vez que tais processos já se iniciaram, os ciclos endêmicos são postos em movimento com a perda de entes queridos, alimentando gerações de ódio e de antagonismo, e nas ondas de refugiados a criação de mais marginalização e exclusão que, por sua vez, aumentam a polarização, o radicalismo, o extremismo... e mais violência.
Aqui, os meios de comunicação podem desempenhar papel importante na promoção da confiança mútua e respeito, por meio de mensagens de tolerância e compreensão. A começar por relatar a verdade, as verdadeiras causas da raiz podem ser abordadas. Infelizmente, muitos meios de comunicação são apenas um reforço para as agendas daqueles atores por trás dos mecanismos que geram violência e conflito. Novamente usando as palavras de UNAOC, "os estereótipos são perigosos e desestabilizadores. Sensacionalismo pode vender jornais, mas não resolve os problemas".
Conclusão
As palavras-chave mais uma vez são educação e desenvolvimento, multiculturalismo e tolerância, troca de ideias em mesas redondas, projetos conjuntos que colocam as crianças - o nosso futuro - brincando, lendo, pintando e trocando experiências, em clima de amizade, fora da arena política.
E o objetivo fundamental das sociedades deve ser o emprego, proporcionando às pessoas oportunidades e meios para cooperar integralmente. Como podemos dizer que nosso modelo socio-económico é tão bem sucedido, se ele não é sequer capaz de criar empregos para seus cidadãos?
Timothy Bancroft-Hinchey
Pravda.Ru
Twitter: @TimothyBHinchey
tem trabalhado como correspondente, jornalista, editor-adjunto, editor, editor-chefe, gerente de projeto, diretor, diretor executivo, sócio e proprietário de publicações diárias, semanais, mensais e anuais impressos e on-line, emissoras de TV e grupos de mídia impressos, difundidos e distribuídos em Angola, Brasil, Cabo Verde, Timor Leste, Guiné-Bissau, Portugal, Moçambique e São Tomé e Príncipe; tem contribuído para a publicação do Ministério das Relações Exteriores da Federação Russa, Dialog e tem escrito para o Ministério das Relações Exteriores de Cuba nas Publicações Oficiais.
Passou as últimas duas décadas em projectos humanitários, ligando comunidades, trabalhando para documentar e catalogar línguas, culturas, tradições em vias de desaparecimento, trabalhando para formar redes com as comunidades LGBT, ajudando a criar abrigos para vítimas abusadas ou assustadas e como Media Partner da ONU Mulheres, trabalhando para promover o projeto UN Women para lutar contra a violência de gênero e de lutar por um fim ao sexismo, racismo e homofobia.
Vegano, é também Media Partner da Humane Society International, lutando pelos direitos dos animais. Ele é diretor e editor-chefe da versão em Português do Pravda.Ru desde o lançamento em 2002.
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