Não bastasse a situação de colapso que se verifica nas vias de acesso ao Porto de Santos, que responde por 24,8% do comércio exterior brasileiro, e em outros portos nacionais, o País ainda corre o risco de enfrentar problemas nos terminais de carga e de embarque/desembarque de passageiros nos seus principais aeroportos. Sem contar que também as pistas de pouso já se encontram sobrecarregadas e próximas de um estágio de saturação, como, por exemplo, o de Viracopos, em Campinas-SP.
Milton Lourenço (*)
Se nada for feito e se o crescimento no número de embarques de passageiros mantiver a média atual, no começo da próxima década de 20, o Brasil estará às voltas com um gargalo no tráfego aéreo tão dramático quanto o que se dá hoje na infraestrutura terrestre.
Estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostra que o Brasil está também com sua infraestrutura aérea completamente defasada e que a eclosão de problemas nos aeroportos é só uma questão de tempo. E de pouco tempo. Até porque o País não vai parar de crescer. Basta ver que, em 2002, foram realizados 36 milhões de embarques no País, número que, dez anos depois, chegaram a 101 milhões. E que são ainda muito conservadores para um país com mais de 200 milhões de habitantes.
Ora, os EUA, com uma população estimada em 316 milhões, realizam em média 650 milhões de embarques por ano. Isso significa que, se o Brasil tivesse alcançado o nível de desenvolvimento norte-americano hoje, o que deverá ocorrer em menos de quatro décadas, andaria às voltas com cerca de 400 milhões de embarques. Segundo cálculos dos técnicos da FGV, o Brasil terá 195 milhões de passageiros em 2020 e 312 milhões em 2030.
Tal como ocorre com a crise nos portos, que levou o governo federal a alterar a legislação para criar terminais e portos privados, a saída para o projetado apagão aéreo passa pela expansão do investimento privado no setor. Aliás, pensando nisso, o governo já começou a fazer licitações nos aeroportos de Guarulhos, Viracopos e Brasília, atraindo investimento da ordem de R$ 16 bilhões.
Por enquanto, ao que parece, o governo está mais preocupado em evitar problemas nos aeroportos por ocasião da Copa do Mundo de Futebol, em 2014, e da Olimpíada, em 2016, o que significa que a maior parte das concessões deverá ocorrer a partir de 2017. Seja como for, o ideal é que haja uma agilização no processo de concessões, contemplando o maior número possível de concessionários, já que, se um ou dois grupos controlarem os principais aeroportos, corre-se o risco de monopolização. Afinal, quanto maior concorrência houver, melhor a qualidade dos serviços.
Por fim, o que se espera é que os terminais de carga também passem por um aperfeiçoamento, com a ampliação de seus serviços para suportar o inevitável crescimento da demanda. E a preços competitivos.
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(*) Milton Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC). E-mail: [email protected]. Site: www.fiorde.com.br.
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