Milton Lourenço (*)
Até o século XX, uma forma que toda grande nação encontrava de ocupar espaço e reafirmar hegemonia era o expansionismo baseado no poderio militar. No século XXI, o expansionismo não foi enterrado, mas, pelo contrário, adquiriu uma nova forma, ou seja, a comercial. Isso significa que qualquer país que, por seu potencial econômico, tenha alguma importância deve claramente ter traçada uma estratégia de expansionismo comercial, sob o risco de ser ultrapassado por aqueles que já têm esse tipo de objetivo definido.
O Brasil, em que pese ter aumentado nos últimos quinze anos o seu comércio internacional, não definiu até hoje uma estratégia de expansionismo comercial, como o fez, por exemplo, a China a partir da década de 1980. A prova é que, embora nos últimos oito anos as exportações tenham triplicado, o País continua a se satisfazer com ínfimo 1% de participação no comércio global, o que é muito pouco. Sem contar que grande parte dos números das exportações é proveniente da venda de commodities - minério de ferro e soja, especialmente - e não de produtos de alto valor agregado.
Para piorar, nos últimos meses, houve um crescimento da entrada no País de produtos de tecnologia ou manufaturados, especialmente porque a indústria local, sem competitividade, acaba estimulando a importação. Segundo dados da Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), entre 2004 e 2010, o consumo interno de bens de média e alta tecnologia cresceu 76%, a produção apenas 40% e as importações 177%. Em contrapartida, o País, que ocupa a 58ª posição em termos de competitividade, tem agora pela frente outro obstáculo em sua pretensão de aumentar o valor agregado de sua pauta: a queda do dólar.
Diante disso, está mais do que na hora de o País adotar uma agenda estratégica de expansionismo comercial que deve começar pela simplificação e desburocratização das operações de comércio exterior, passando por um fortalecimento dos órgãos fiscalizadores de práticas ilícitas e de defesa comercial, até uma política de negociação mais ampla e ostensiva, que inclua a assinatura de acordos de livre comércio.
Ninguém é contra o crescimento das importações. Pelo contrário, desde que esse crescimento seja acompanhado pelo aumento das exportações, especialmente de produtos de valor agregado, a fim de que a balança comercial não entre em desequilíbrio. Ao que parece, porém, esta é uma agenda que ainda não faz parte dos planos do atual governo.
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(*) Milton Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC).
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