Camila Carduz*
A Amazônia, ampla região arborizada que abarca uns sete milhões de quilômetros quadrados da América do Sul, constitui hoje a maior reserva natural do planeta e, no entanto, está em perigo.
Brasil, Venezuela, Equador, Colômbia, Peru, Bolívia, Venezuela, Suriname e Guiana são os estados abençoados por essa riqueza, junto ao território da Guaiana Francesa. No Suriname, estado caribenho e sulamericano, a região amazônica constitui a maior porção do país, abarcando quase 90 por cento de seu território, de 163 mil 820 quilômetros quadrados.
Ali, misturam-se flora, fauna e descendentes dos primeiros habitantes do Caribe com a vida da cidade, mas o plano de desenvolvimento econômico e a tecnologia põem em risco a estabilidade do bosque.
Impõe-se então uma forte disjuntiva: em tempos em que a mudança climática afeta a sobrevivência humana por fenômenos como contaminação ambiental e desmatamento será apropriado proteger o ecossistema ou permitir o desenvolvimento em uma zona, onde natureza e homem vivem em perfeita harmonia?
Nessa região, além de centenas de plantas e animais centenários, vivem povos indígenas e comunidades maroons, que representam cinco por cento da população nacional do Suriname (510 mil habitantes).
Baseados em sua sabedoria ancestral e como contraparte à modernidade, eles se esforçam em demonstrar a necessidade de preservar o meio, vital para a sobrevivência, especialmente agora que o meio ambiente sofreu danos, alguns irreparáveis. Distribuídos em tribos fundamentalmente nas margens dos quatro principais rios do Suriname, os guerreiros amazônicos tentam vencer obstáculos, cada vez maiores, para garantir a vida.
Companhias madereiras, mineiros e exploradores de bauxita, aluminio e metais preciosos, vão em busca de suas metas ignorando a necessidade de manter o equilíbrio ecológico e minimizam a quantia dos prejuízos que suas práticas ocasionam.
As operações de multinacionais não só contaminam as águas e deterioram os bosques, senão que afetam a vida animal e provocam a emigração de aldeias completas, de lugares habitados por gerações.
Com freqüência Organizações Não Governamentais e Meios de Difusão informam sobre litigios entre habitantes dos bosques e multinacionais e alguns danos, provocados pelo uso dessas terras.
Só um exemplo, o caso dos terrenos do Povo Saramaka que foram dados em concessão para companhias madereiras e mineiras em 1997, ao qual se opuseram os moradores originários.
Outra demonstração é o lago artificial Brokopondo Stuwmeer, criado há várias décadas, depois da construção de uma planta hidroelétrica próxima ao Rio Suriname.
Este lago artificial abarca 130 mil hectares do que seria selva tropical, habitada por 28 povos maroon, que tiveram que ser relocalizados.
Paradoxalmente, o homem, em busca de desenvolvimento e fontes energéticas alternativas, desloca seu similar, levando também seu patrimônio e identidade, sem esquecer o impacto na vida animal, cujos danos são extensivos.
A isto se soma a expansão dos buscadores de ouro, presentes na floresta deste estado caribenho, que tentam fortuna em zonas antes respeitadas.
Por isso os povos indígenas se opuseram ao deterioro da Amazônia e organizados em associações exigem o respeito ao seu lar e ao planeta.
Defender a região, por sua importância para a vida, é prioridade em encontros entre líderes indígenas, que unidos, analisam o estado dos bosques, as novas ameaças e elaboram planos para fazer frente ao desmatamento e à mudança climática, entre outros temas de interesse.
Para eles, a relação com a mãe terra é a base de sua existência e a forma adequada de manter modos de vida construídos em perfeita simbiose com as leis da natureza.
Negar-lhes a possibilidade de conservar o meio é pôr fim a séculos de sabedoria, à prática da cura a doenças com remédios naturais e à subsistencia através da caça e da pesca.
Estudos científicos revelam que a vegetação tropical mundial abarca cerca de 200 bilhões de toneladas de carbono, delas 70 bilhões de toneladas são processadas pelas árvores amazônicas. Sabe-se, também, que a Amazônia é a zona tropical que contém a maior reserva biológica da Terra, com 30 por cento de todas as espécies.
Por outro lado, também é certo que a construção de plantas hidroelétricas aumenta a disponibilidade de energia local e substitui a geração termoelétrica. No entanto, a construção de estradas e o desenvolvimento do gado e agricultura, incentivam a produção e diversificação agrícola e aumentam as exportações e a geração de empregos, o que permite desenvolver a área e ao mesmo tempo, o país.
Dado o controverso do tema, requer-se um processo sério de análise entre as partes, governos, líderes comunitários, executores de obras.
Se a recente Cúpula de Mudança Climática de Copenhague foi um fracasso, corresponde aos povos tomar suas próprias decisões pelo próprio bem e do planeta. Urge encontrar políticas adequadas.
(*) Especialista da Prensa Latina em temas caribenhos.
http://www.patrialatina.com.br/editorias.php?idprog=46cd618b83bec844b0dc2c7258f4de11&cod=5364
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