As pessoas não aprendem. Em janeiro de 2008, veio à tona o golpe de US$ 7,2 bilhões aplicado pelo então obscuro operador de mercado Jérôme Kerviel ao banco francês Societé Generale. Antes dele, o caso mais lembrado é o de Nick Leeson, operador responsável pela fraude que levou à quebra do banco inglês Barings, em 1995.
Na Colômbia, também em 2008, a empresa Proyecciones DRFE (Dinero Rápido, Fácil y en Efectivo), tinha 61 filiais dedicadas à captação ilegal de dinheiro, com a velha promessa de multiplicação rápida e farta do capital aplicado. Apesar dos insistentes avisos da imprensa e, em parte, graças à omissão do governo, milhares de pessoas perderam os valores confiados à firma.
Agora, em plena crise financeira mundial, o celebrado mago das finanças americano Bernard Madoff (pronuncia-se mêidóf) é preso por aplicar, durante anos a fio, um dos mais antigos e manjados golpes, a pirâmide financeira, que andou fazendo sucesso no Brasil, em escala amadora, nos anos 80.
Madoff oferecia a aplicação dos sonhos de qualquer investidor: alta rentabilidade proporcionada por alguém da mais estrita confiança, praticamente um membro da família para muitos deles. Carinhosamente chamado de Bernie por muitos, ele seria a última pessoa de quem se haveria de suspeitar.
O rombo de US$ 50 bilhões da pirâmide de Madoff está causando uma tormenta no mercado imobiliário americano, já duramente açoitado pela crise das hipotecas. Vários investidores em imóveis de Nova Iorque poderão ter de vender seus apartamentos e conjuntos comerciais porque deram as aplicações feitas no chamado esquema de Ponzi em garantia de empréstimos bancários, que agora terão de ser substituídas, o que exigirá de muitos a venda dos imóveis, talvez uma tarefa impossível num mercado estagnado.
Embora boa parte do dinheiro aplicado neste buraco negro financeiro seja sujo, não-declarado, havia, também, poupança de gente honesta que perdeu tudo e ficou sem dinheiro para pagar até mesmo a conta de luz.
Alguns consideravam Madoff um mago das finanças. De fato, só um mágico conseguiria dar sumiço em dezenas de bilhões de dólares. Seria bom se a lição servisse de alerta para futuros incautos, mas quando se trata de dinheiro, a ganância geralmente afasta a racionalidade, e dentro de algum tempo este episódio só será lembrado como referência histórica.
Por tudo isso, convém desconfiar sempre e procurar saber qual é o lastro do investimento oferecido, seja imobiliário, nas bolsas de valores ou até mesmo simples títulos de capitalização, um dos piores investimentos que existem, se é que assim podem ser chamados.
Quando gigantes do setor financeiro caem feito moscas abatidas nesta interminável crise e gente experiente se deixa enganar por alguém com um excelente pedigree como Bernard Madoff, ex-presidente da bolsa eletrônica Nasdaq, todo cuidado é pouco.
Até porque bancos que dizem só ter feito operações com os fundos de Madoff a pedido de clientes soam inconvincentes, pois é impossível um esquema fraudulento dessa magnitude ter sido levado a cabo, durante tanto tempo, por uma só pessoa.
Luiz Leitão
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