A Carta de Conjuntura do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), divulgada na quinta-feira (26), projeta um crescimento econômico entre 4,2% e 5,2% em 2008. O documento aponta que o atual ciclo de crescimento da economia brasileira tem uma característica especial e de alta qualidade que é o aumento, há 12 trimestres, do investimento a uma taxa 2,4 vezes superior, em média, à taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB).
Para o Grupo de Análises e Previsões (GAP) do Instituto, que elabora o documento, os investimentos e o consumo das famílias, que lideraram a expansão da economia neste primeiro trimestre, devem continuar a fazê-lo ao longo do ano. Já a demanda externa, com o forte crescimento das importações em relação às exportações, vai desacelerar o Produto Interno Bruto (PIB) a cada trimestre, segundo explicação do coordenador do GAP, Marcelo Nonnenberg.
O documento diz ainda que, apesar do aperto monetário iniciado em abril pelo Banco Central do Brasil (BCB), as perspectivas para a evolução do investimento no decorrer do ano continuam positivas, mesmo porque os planos de investimento já em andamento seriam pouco afetados pelo aumento das taxas de juros. Além disso, o patamar atual da taxa de câmbio estimula e facilita as importações de bens de capital, aumentando a capacidade produtiva da economia.
Para o Ipea, a economia internacional continua a enfrentar dois problemas: o ritmo de crescimento mundial mais baixo provocado pela crise americana e o aumento da inflação devido à elevação do preço dos alimentos e das commodities,especialmente petróleo e metais. Mas o cenário é de crescimento econômico modesto e não de recessão.
Inflação No Brasil, de acordo com a Carta, a inflação é explicada basicamente pela inflação do item alimentos, que variou em maio (acumulada em 12 meses) mais que 14,5%, percentual muito superior à inflação. Miguel Bruno, um dos coordenadores do GAP/Ipea, explica que o ajuste de preços faz parte dos mecanismos de mercado e que os preços estão aumentando por diversos fatores, inclusive externos.
A ascensão da Índia e a China, com sua enorme população, por exemplo, provoca um aumento da demanda por alimentos, o petróleo sobe e alguns insumos, como os fertilizantes, ficam com o preço elevado. "Os alimentos estão em alta, sobretudo pelos custos da produção, então talvez seja o caso de se fornecer subsídios em algumas áreas e retirar em outras, esses são alguns instrumentos de política agrária que podem ser utilizados", diz.
Para ele, a economia brasileira não está em processo de alerta e nada indica que os preços não irão se ajustar com o tempo. "Não vejo o aumento de preços como uma escalada inflacionária irrefreável", afirma. Segundo Bruno, em alguns casos, o aumento dos preços também pode ser benéfico, porque significa que a população está consumindo mais e também pode fazer com que os empresários façam mais investimentos. "Quando o preço sobe, é sinal de que vai ser necessário aumentar a produção, o produtor vai ter de se ajustar à demanda", diz.
Mercado de trabalho A avaliação do Ipea é de que o mercado de trabalho da economia brasileira vem demonstrando excelente dinamismo. O número de desalentados diminui, isto é, aqueles que já tinham desistido de procurar emprego voltaram a procurá-lo e encontraram vagas disponíveis. Outro fator positivo é que o grau de formalização da força de trabalho atingiu em maio seu maior nível: 49% das pessoas ocupadas possuem atualmente carteira de trabalho. Além disso, houve elevação dos rendimentos médios reais de 2,6% no primeiro quadrimestre do ano em relação ao mesmo período de 2007.
Banco Central ajusta projeção de inflação para 2008
O Relatório Trimestral de Inflação, divulgado na quarta-feira (25) pelo Banco Central, projeta inflação de 6% para 2008, 1,4 p.p. superior ao projetado pelo Relatório de março. Segundo o documento, a projeção acumulada em doze meses parte de 5,9% no segundo trimestre de 2008, atinge o valor máximo de 6,3% no terceiro, desacelera e encerra o ano com 6%. Valor acima do centro da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) de 4,5% (que pode variar 2 p.p. para cima ou para baixo) em razão do descompasso entre a demanda doméstica e a oferta em um período de alta mundial dos preços de commodities agrícolas. Em razão disso, o BC tem elevado a taxa de juros básica desde abril.
Em um de seus textos analíticos, o BC apresenta estudo sobre a eficácia que as políticas monetárias preventivas têm no combate à inflação tanto em economias maduras quanto nas emergentes. Segundo o documento, ciclos contracionistas preventivos são relativamente mais curtos, mais brandos, mais eficazes e menos custosos do que os reativos. Portanto, nos países que adotam o regime de metas para a inflação, como o Brasil, ações de política monetária preventivas parecem ser mais eficazes no sentido de reduzir a inflação, bem como implicam menores custos em termos de atividade. O documento aponta que a política adotada pela autoridade monetária está no caminho certo.
O Comitê de Política Monetária (Copom), segundo informações da ata de sua última reunião, acredita que a atual postura de política monetária, a ser mantida enquanto for necessário, irá assegurar a convergência da inflação para a trajetória das metas.
Fonte: Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República
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