Jean Wyllys e seus moinhos de vento

Jean Wyllys e seus moinhos de vento

 

Jolivaldo Freitas

 

Claro que a República perde com a saída de Jean Wyllys da Câmara dos Deputados, queira-se ou não queira. Sua desistência em fazer a resistência LGBT em Brasília cria um vácuo surpreendente e causa, principalmente, comoção e traz medo para toda comunidade que ele representava, que já vem insegura desde quando dos resultados das últimas eleições. O mundo LGBT está se sentindo realmente numa orfandade sem limite. O medo cresce, a insegurança grassa e o futuro a Deus pertence.

Claro que não se pode deixar de chamar a atenção para a realidade da atuação de Jean como deputado pelo PSOL, pois muitas das vezes seu partido se retroalimentou da polarização política nacional e ajudou a criar um certo caos. Pode-se também argumentar que o deputado que estava indo para seu terceiro mandado, tinha uma postura teatralizada, o que enfraquecia alguns pontos de vista, mas que ele era de extrema importância para o equilíbrio de forças políticas e para defesa das minorias, era e pode até a continuar a ser, se, de onde estiver morando quiser continuar sendo um porta-voz.

Mas, quando o ex-presidente do Uruguai José Mujica disse para ele que mártir não é herói, Jean Wyllys se conscientizou que era hora de sair do Brasil. Desde o assassinato da vereadora Marielle Franco, no Rio de Janeiro que ele procurou se preservar, passando a levar a sério as ameaças de morte constante que vinha sofrendo. O incomodava bastante o fato de ter de viver com a presença de uma tropa voltada para sua segurança.

É uma das maiores vítimas de mentiras, Fakes News, de pirraça, buylling e pragas da história do Brasil. Sua vida está mesmo em risco, pelo que pode notar nas redes sociais ao longo da sua trajetória. Muitas mentiras serviram para amalgamar o ódio que parcela do brasileiro nutre por ele. Por exemplo quem não lembra que inventaram que ele era a favor da pedofilia. Imagine o que ser acusado de pedófilo, sendo esta uma coisa terrível em que a população clama de imediato por linchamento. O ex-deputado procurou desmentir, mas até hoje tem quem acredite.

Outra acusação falsa é de que ele teria entrado com solicitação e usar a Lei Rouanet para obter patrocínio para um filme que mostraria Jesus Cristo como uma liderança gay. Foi mais uma Fake News que o brasileiro desinformado acatou e até hoje ainda compartilha e debate. E o Kit Gay, que disseram que foi um dos seus projetos na Câmara Federal (até o presidente Jair Bolsonaro quando em campanha repercutiu a mentira).

São muitas a acusações infundadas contra Jean Wyllys que vem sofrendo ameaças todo o tempo. Ameaças contra sua vida e contra elementos da sua família no Rio de Janeiro e na Bahia. Ele é mais uma vítima da polarização que o Brasil vivencia em que ninguém respeita a opinião do outro e a falta de bom senso é generalizada e cada um só ouve aquele que fala o que agrada aos seus ouvidos e ninguém mais tem razão.

Jean, assim como todo espectro de esquerda, está sendo demonizado pela opinião pública de direita: pelos bolsonaristas, pelos evangélicos e até pela ala carismática da Igreja Católica. Vem sendo ameaçado por milícias, por homofóbicos e pelos políticos e intelectuais extremistas. Ele sentiu medo e tem razão. Sua luta é um duelo contra moinhos de vento cortantes. Lancinantes. Como eu disse antes, quem sai perdendo é a minoria hostilizada que fica numa situação cada vez maior de temor. Sem uma voz para enfrentar a realidade atual, relembrar o pretérito e criar uma barricada para o futuro. Jean Wyllys, é sim, uma cabra retado. Queiram ou não. Perde a República. A frágil democracia brasileira. A civilização brasileira.

Escritor e jornalista: Jolivaldo.freitas@yahoo.com.br

 


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Timothy Bancroft-Hinchey