Aeroméxico Impediu Embarque de Ator por Usar Turbante

Discriminação e petróleo, motores da "Guerra ao Terror". Sociedades fechadas em individualismo e alienação, subproduto da mídia hegemônica, de Hollywood e dos usurpadores de poder político, não têm consciência de que o 11 de Setembro precisa ser recontado

Edu Montesanti *

O ator índio-norte-americano Waris Ahluwalia foi impedido de embarcar em voo da Aeroméxico, que o levaria da Cidade do México a Nova Iorque, por portar turbante do siquismo, religião monoteísta da Índia e do Paquistão que mescla elementos do Islamismo e do hinduísmo.

Ahluwalia afirmou que não se apresenta em público sem o turbante. "É como pedir a alguém que tire a roupa", disse o ator aos funcionários de segurança da empresa de aviação mexicana, que negaram o embarque até que Ahluwalia tirasse o turbante.

Por meio de um comunicado por escritor, a Aeroméxico informou que "é obrigada a cumprir os requisitos federais em termos de segurança, determinados pela Autoridade de Transporte Aéreo dos Estados Unidos para revisão de passageiros".

Este é um dos inúmeros casos de acentuado preconceito contra árabes, materializado por intensa agressividade pós-11 de setembro de 2001. Já houve casos dentro dos Estados Unidos em que se proibiu embarque de passageira por, simplesmente, possuir face com traços árabes.

Um dos mais recentes e tristemente famosos casos da, subproduto da política, da mídia hegemônica e da indústria da propaganda e do medo de Hollywood, esquizofrenia norte-americana deu-se no ano passado em que o passageiro foi agredido verbalmente por outro, impossibilitado de viajar até intervenção de funcionários da Southwest Airlines, que saía de Chicago rumo à Dallas. O motivo da histeria: falar árabe.

E eu com isso?

A "Guerra ao Terror", cada vez mais atolada em mentiras, é movida pelo petróleo e pela discriminação. O mais triste em meio a isso tudo é que o mundo, com raras e honrosas exceções, tacha as poucas vozes no deserto global que tentam recontar o 11 de Setembro e a "Guerra ao Terror", de seres retrógrados.

E no caso específico do Brasil, lamentavelmente a ausência total de consciência - o entendimento de que o 11-S mudou o curso da história levando as sociedades em todo o planeta a viverem em permanente estado de ameaça e vigilância (no caso do Brasil, nas estações de metrô e em todos os espaços, públicos e privados) - não passa junto com o Carnaval... Pelo contrário: tacha-se pesquisadores desta área, generalizadamente, de preocupados em demasia com (pasmem!) os problemas "dos outros".

Tal anestesia da consciência coletiva que gera profunda indiferença, é tudo o que os usurpadores do poder precisam para corromper, para aplicar políticas de linha dura, para ferir liberdades civis e para perpetuar suas mentiras. Ensina-nos a história que este sentimento de apatia e estado de alienação societária são também matéria-prima de regimes fascistas, hoje pateticamente representados pelo agonizante Império e suas marionetes mundo afora.

Sem uma reconstrução da história deste novo século, especificamente dos atentados de 11 de setembro de 2001, a humanidade está fadada ao caos. Faz-se, portanto, urgente que mudemos o estado de espírito, que deixemos a distração com o fundamentalismo religioso d'além mar para nos libertarmos do próprio fundamentalismo do capital, o monoteísmo do mercado que, sutilmente, transforma até cidadãos em mercadorias.


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Edu Montesanti é professor de idiomas, autor de Mentiras e Crimes da "Guerra ao Terror" (Editora Scortecci, 2012), colaborador do Diário Liberdade (Galiza), de Truth Out (Estados Unidos), tradutor do sítio na Internet das Abuelas de Plaza de Mayo (Argentina), da ativista pelos direitos humanos, escritora e ex-parlamentar afegã, Malalaï Joya, e ex-articulista semanal do Observatório da Imprensa (Brasil).

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