As massas populares derrotaram o golpe na Bolívia

As massas populares derrotaram o golpe na Bolívia

 

"O triunfo eleitoral de Luis Arce na Bolívia neste domingo foi a resposta democrática do povo boliviano ao massacre que se seguiu ao golpe do ano passado, quando dezenas de pessoas foram assassinadas, o triunfo da democracia, que abre caminho à retomada do programa democrático-popular e do ciclo progressista na América Latina", escreve o jornalista e dirigente comunista José Reinaldo Carvalho

Por José Reinaldo Carvalho (*)

Luis Arce, ex-ministro do governo de Evo Morales e um dos principais líderes do Movimento ao Socialismo (MAS), alcançou uma retumbante vitória nas eleições presidenciais deste domingo (18). 

A eleição, que se mostrava polarizada e esteve ameaçada por manobras de última hora, sugestivas de fraude e intervenção de forças policiais e militares, acabou sendo surpreendentemente decidida em primeiro turno, embora no momento em que estamos escrevendo os dados ainda sejam extraoficiais e a contagem dos votos esteja em marcha.

A boca de urna revelou que Arce obteve 52,4 por cento dos votos, mais de 20 pontos à frente do segundo colocado, Carlos Mesa, sobre quem parte significativa da direita nacional e o imperialismo estadunidense depositaram expectativas de continuidade do regime golpista antidemocrático e pró-imperialista iniciado em novembro do ano passado quando o presidente Evo Morales foi derrubado, logo em seguida à sua reeleição. 

O resultado deve ser confirmado nos dados oficiais que serão divulgados nas próximas 48 horas, de acordo com informes das autoridades eleitorais. 

A presidente ilegítima e golpista, Jeanine Añes que há três semanas fez um apelo à união das candidaturas de direita e vaticinou em tom ameaçador que as forças progressistas jamais voltariam ao poder na Bolívia, foi obrigada a reconhecer a derrota dos golpistas e cumprimentar a chapa vencedora na própria madrugada desta segunda-feira.  

A contundente vitória do MAS deslegitima por inteiro o golpe de novembro do ano passado. Na ocasião, Evo Morales tinha vencido o pleito no primeiro turno, vitória contestada por força de um levantamento de forças policiais e militares e da  interferência da Organização dos Estados Americanos (OEA), que proclamou "fraude". Evo foi impedido de se empossar e teve seu legítimo mandato interrompido. 

O triunfo eleitoral de Luis Arce neste domingo foi a resposta democrática do povo boliviano ao massacre que se seguiu ao golpe do ano passado, quando dezenas de pessoas foram assassinadas; à repressão seletiva contra quadros dirigentes do governo Evo e do MAS; contra a perseguição pessoal que o próprio presidente sofreu, obrigado a exilar-se no exterior. Posteriormente, Evo teve sua candidatura ao Senado cassada e ainda agora continua com sua liberdade ameaçada por um absurdo processo judicial em que é acusado de "terrorismo". 

O pronunciamento acachapante do eleitorado boliviano contra os golpistas abre caminho para o resgate da democracia, dos direitos humanos, à retomada do programa democrático e popular de governo, à consolidação da República Plurinacional da Bolívia, à plena vigência de sua Constituição, à defesa da soberania nacional e à continuidade da revolução cidadã. 

O triunfo eleitoral do MAS é exemplar também sobre a estruturação orgânica de um movimento político e de massas com raízes profundas nas amplas massas trabalhadoras e populares, sob a direção de lideranças prestigiadas, que são a voz da resistência, da participação popular e da luta por transformações sociais.  

A retomada do ciclo progressista na Bolívia é um sinal também para um novo ascenso das forças democráticas em toda a região. À frente da Bolívia, Luis Arce se somará a outros governos democráticos e progressistas latino-americanos, como os do México e Argentina, e aos revolucionários de Cuba, Venezuela e Nicarágua, reforçando as capacidades geopolíticas da América Latina, para afirmar-se como região de paz, como foi proclamado em 2014 na Conferência de Havana da Celac - Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos, de cooperação e desenvolvimento nacional e compartilhado por povos irmãos.  

(*) José Reinaldo Carvalho é jornalista, editor da Página Resistência, membro do Comitê Central e da Comissão Política Nacional do PCdoB

 

 

                              

 

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