China Zomba do G7: "Convescote de endividados".

E alerta que "Confronto será desastre para a Europa" -- 15/6/2015,Zero Hedge

Vladimir Putin não foi convidado para a reunião do G7 na Bavária de Angela Merkel semana passada, o que significa que o presidente russo não apenas perdeu dois dias no cinematográfico Castelo Elmau, mas também perdeu a chance de sair com Obama para comprarem calças curtas de couro (lederhosen). Obama, a julgar pelo que disseram testemunhas oculares e algumas fotos divertidas, deixou sair o Clark Griswold que vive nele, enquanto caminhava pela cidade bávara de Krun. 

O G7 não está gostando nada-nada do modo como a Rússia vem-se comportando no Leste da Europa e, assim, Putin foi excluído daquele 'Clube do Bolinha' universal plus Merkel, até que o Kremlin decida-se a promover os valores democráticos ocidentais.

Mas o G7 também é excelente oportunidade para exclusionismos, o que significa que não só exclui ex-super potências, como também exclui super potências em ascensão, e ninguém viu à mesa por lá tampouco Xi Jinping.

Mas "Xi, Tiozão" (como é afetuosamente chamado na China) não parece estar perdendo o sono, porque, aos olhos de Pequim, o G7 - muito parecido, nisso, com o FMI e o BDA (Banco de Desenvolvimento da Ásia) - não passa de relíquia inoperante de uma ordem econômica e política global que está adiantadíssima na trilha rumo à obsolescência, se já não chegou lá.

Global Times (o qual, nunca me canso de repetir, pertence ao jornal do Partido Comunista governante, o People's Daily) tem muito mais a dizer sobre por que o G7 é muito amplamente irrelevante no mundo moderno.

Das páginas do The Global Times:


A reunião de cúpula do G7 chegou ao término na Alemanha, semana passada. Especialistas e a mídia chinesa não mostraram qualquer interesse por aquela instituição informal ultrapassada, exceto quanto a uma Declaração sobre Segurança Marinha emitida por ministros de Relações Exteriores do G7. A declaração manifestou as preocupações dos signatários quanto a "ações unilaterais" no Mar do Sul da China; a China foi o alvo óbvio.

A julgar pela agenda e resultados da reunião do G7 esse ano, ela caminhou na direção oposta à tendência global a favor da paz, do desenvolvimento, da cooperação e converteu-se em mera ferramenta geopolítica.

Desde os primeiros tempos de existências do G7, sempre foi um clube de ricaços onde se reúnem as grandes potências ocidentais, e tem o objetivo de manter a hegemonia coletiva do Ocidente sob mando dos EUA. Sempre se focou em questões da economia mundial, e depois passou a ocupar-se também de negócios políticos e de segurança. Depois da Guerra Fria, a Rússia foi incluída no grupamento, que por pouco não se converteu em centro da governança global, e parecia que estavam resolvidos a substituir o Conselho de Segurança da ONU.

Mas os demais membros do G7 jamais trataram a Rússia como parceiro igual. A Rússia só era autorizada a discutir política e segurança, nunca assuntos financeiros e econômicos.

Quando o mundo entrou no século 21, novas economias começaram a emergir e o centro político e econômico do mundo foi-se transferindo gradualmente para o Pacífico Asiático. A crise financeira global de 2008 empurrou os membros do G7 para um impasse, e essas nações começaram a aperceber-se de que só conseguiriam livrar-se da crise com a ajuda das economias emergentes. Foi quando os EUA propuseram definir um G20 como a principal plataforma para discutir problemas econômicos internacionais. Dentro do G20, por mais que o G7, como um subgrupo, tente dominar a construção da agenda, o G7 nada pode fazer sem a cooperação de novas economias cujas vozes são mais claramente audíveis atualmente.

Contudo, países como os EUA e o Japão não conseguem, sem muita dificuldade, aceitar o crescente prestígio internacional das economias emergentes, e relutam em ceder a própria hegemonia. Quando a crise financeira amainou um pouco, a mídia 'ocidental' pôs-se a propagandear vigorosamente o "renascimento" do G7. Mas a performance econômica dos membros do G7 mostra que a reunião foi um convescote de endividados.

Em certa medida, o papel do G7 na governança econômica global é negativo. O FMI e o Banco Mundial são controlados por membros do G7. Essa é uma das razões da baixa capacidade de implementação do G20.

No campo da política e da segurança, as potências ocidentais jamais se cansam de destacar a grande importância que teria o G7. Mas o G7 já mostrou que não é capaz de manter a estabilidade regional e, em vez de construir alguma estabilidade, levou o Oriente Médio ao caos. Depois da crise na Ucrânia, o ocidente excluiu a Rússia do G8 original, com o que criaram o atual G7, formato que já está a caminho de converter-se em relíquia da Guerra Fria.

Rússia e China foram alvos principais das discussões nessa reunião do G7. Resolveram continuar a pressionar a Rússia, enquanto prossegue a crise ucraniana. Quanto à China, ocuparam-se com questões relacionadas ao Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (BAII) e aos Mares do Leste e do Sul da China. Mas vale a pena registrar que membros europeus manifestaram posição diferente de EUA e Japão, nos dois assuntos.

Se o G7 será convertido em ferramenta geopolítica ou em relíquia da Guerra Fria e coisa que depende largamente dos países europeus. Diferente dos EUA, a Europa mantém laços geopolíticos e econômicos muito íntimos com a Rússia. Se o G7 for convertido em plataforma para confrontação entre o ocidente e a Rússia, sem dúvida será um desastre para a Europa. Buscar solução pacífica para a crise ucraniana com a Rússia, isso sim, serve bem aos interesses europeus. Quanto às disputas nos Mares do Leste e do Sul da China, a milhares de quilômetros de distância do continente europeu, esses países não precisam envolver-se necessariamente.

Durante a reunião do G7, o primeiro-ministro japonês Shinzo Abe tentou atrair países europeus para o vagão japonês anti-China. A China deve continuar a desconfiar muito do governo japonês.


Claro que tudo isso tem de ser tomado com um grão de sal, considerando que vem diretamente do Politburo - mas não há dúvidas de que há aí algumas importantes observações a serem analisadas com atenção.

Por exemplo, a China toma como iguais o G7, o FMI e o Banco Mundial, essas últimas duas instituições que Pequim, pode-se dizer, está desafiando diretamente com seu BAII e o Fundo "Rota da Seda". Em público, a China tem cuidado para manter posição de conciliação em relação a bancos de financiamento multilaterais. Isso, em parte, porque a China não tem interesse algum em arrepiar quaisquer penas entre os países ocidentais que assumiram algum considerável risco político ao jogarem o próprio peso no prato BAII da balança, apesar da feroz oposição de Washington. Além disso, adotar posição declarada e abertamente crítica contra instituições cujos objetivos são ostensivamente semelhantes aos do BAII, cria o risco de enviar mensagem errada aos países que dependem da ajuda de instituições supranacionais. 

Isso posto, fazer equivaler entre eles o FMI, o Banco Mundial, o Banco de Desenvolvimento Asiático e o G7, antes de subsequentemente chamar o G7 de "relíquia da Guerra Fria" é uma espécie de saída pela tangente, sugerindo que as instituições multilaterais dominadas por membros do G7 estão também, por causa das lideranças às quais servem, a caminho da irrelevância.

Além do mais, afirmar que "a performance econômica dos membros do G7 mostra que a reunião foi um convescote de endividados" é, por um lado, hipocrisia (afinal de contas, a China está sentada sobre dívida de $28 trilhões); mas por outro lado dá conta do fato de que, ainda que o crescimento da China seja hoje mais lento, com Pequim fazendo uma difícil transição de uma economia puxada a investimentos, para um modelo de economia movida a consumo, o crescimento econômico no ocidente simplesmente não existe, parou; e quando ao Japão, bem... Tóquio luta desesperadamente contra um pesadelo deflacionário há décadas, doença que a Abe-conomia ainda não deu jeito de curar. 

Em outras palavras, talvez até se possa dizer que o milagre econômico chinês estaria enfrentando um "pouso difícil". Mas com certeza não há como negar que, mesmo nesse estado 'difícil', a máquina econômica chinesa ainda consegue superar, em desempenho, o ocidente.

Por fim, e talvez o mais importante de tudo, a China sugere que a dominação por Washington levou o G7 a adotar políticas externas míopes, que conspiraram para incendiar o caos sectário que se vê hoje no Oriente Médio (hoje, a verdade é que os EUA já não tem nem ideia, nem meios para saber, quem os norte-americanos apoiam, se milícias xiitas, e onde; ou milícias sunitas, e onde). E criaram condições para uma 2ª Guerra Fria no Leste da Europa. 

A exclusão deliberada da Rússia, Pequim está dizendo, ameaça converter o G7 no que seria efetivamente um braço político da OTAN. E isso compromete qualquer possibilidade de a instituição poder ser agente promotor de paz e cooperação. 

Mais uma vez, sim, há aí muita propaganda servida quente, saída diretamente da cozinha do Partido Comunista. Mas... não há como negar que a análise geopolítica subjacente é perfeita e acuradíssima, ainda que nos seja servida em pratos de hiperbólica porcelana. 

O G7, como o FMI e o Banco Mundial, vai-se rapidamente convertendo em vítima da arrogância dos seus membros mais poderosos. Algum senso dominante do excepcionalismo dos EUA pode vir a criar ali o mesmo tipo de autocomplacência e rigidez que paralisou o FMI. E pode acontecer já, antes até de as potências mundiais emergentes superarem corpos políticos já bem firmemente constituídos, exatamente como aquelas mesmas potências moveram-se e superaram instituições econômicas imprestáveis.*****

 


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Pravda.Ru Jornal