O peso do pássaro morto

Belíssimo Romance O PESO DO PÁSSARO MORTO de Aline Bei: a magia da contação que alça voo na leitura...

 

"Todo escritor é útil(...) se

acrescenta à lucidez do leitor,

livra-o da timidez(...), faz com

que ele veja e sinta o que não

teria visto nem sentido

sem ele (Margherite Yourcenar)

 

-Um romance que, nidificando, come pelas beiradas... Você acaba a "leção" e cobra-se: -Quando vai ter o Peso do Pássaro Morto, O Retorno, continuação? Sim, um romance nada linear, proseado com palavras soltas, como voos dispares que se arremessam e se agregam, como se em estética de poesia e em nele tendo a poética narrativa, num feminilirismo gracioso, tocante, que você começa até mesmo em pensar, como o fera Marcelino Freire - que tive já o prazer de resenhar uns cantos negros dele anos atrás - descobriu (levantou a asa criativa) de uma escritora pássara-flor desse naipe?

-Menininha quando dorme, põe a mão no coração, diz a cantilena popularesca, mas escritora que se faz menininha na criação, quando sonha, bota a mão  na pá-lavra, e dela vira menininha, mocinha, mundos e fugas, fragrâncias e reinações, e assim cresce a mão, cresce a personagem criança, cresce com a gente, e como a gente, e, como se diz que a imaginação pode mais do que o conhecimento, no caso da Aline Bei bota talento, imaginação e cantárias em prosa do que ela refinada, entalha e ria...

-Amigo virtual também é para essas coisas... volta e meia troco livros, ou recebo um e outro, para leitura crítica, palpite, pitacos, dicas, orelhas, prefácio, posfácio, resenha que seja, e com isso descubro mundos além dos meus já limitados e passados de priscas eras, conheço caras novas, amigos virtuais que selam uma baita amizade virtual bonita de ser e de se saber sendo, e quando se vê, um livraço bem editado (Editora Nós), salpica de estrelas e açúcares nossa vazão de encontros e redondezas de encantos. Acertei na moça. E no livro, bonito também técnico-editorialmente falando.

-Mulher escritora é bicho esquisito, dá couro na gente, tira filé de granito. Não, baby, não existe cura para a tal da existencialização, principalmente nesse tempos tenebrosos de muito ouro e pouco pão. Mas existe apuro, fermentação, purgação, arte como levitação, tudo junto e misturado botando para fora os nós, e mesmo os nosotros, já que, afinal nos restamos todos furtivos, as vezes Hamlets, as vezes espelhos quebrados de Alices no país das armadilhas em pontos de fuga. E escrever desmonta a engrenagem da máquina humana que somos e que não somos, quando se vê, a arte cria vida, personifica, dá nome a borboletras, bois e boys, e quando menos se espera, Evoé arco e lira, descobre-se um livro que é rio, que é pássaro, nuvem, e a morta pelanca de nós sobreviventes do antes que ainda reside e resiste em nós é lixada, trazida à tona de novo a carne-vida da palavra bem torneada e nos dando gosto de barulheza de infância de tempos idos, lucidezas de criação, e então rimos, sentimos, choramos, acordamos de novo pra vida com orgulho e benção de ter lido algo embonitado pela alma femina de quem mostra seu tempo e as trilhas do seu tempo...

-Ah o menino Jesus fora da manjedoura, o Luís Benzedor, a escola, o choro, as árvores, a morte na  cabeça da doidinha da pá virada e da pá varrida, personagem içando intenções, descobertas, miras e prumos. O jogo de palavras, as montagens graciosas como acordes de uma sinfonia-voo-de-pássaro-morto, feito uma corruíra de palavras tecendo acontecências, armários, Ventos, distâncias, noturnos e flashes de auroras e crepúsculos... Romance de, na leitura, se catar com as mãos de menino atiçado (e ledor voraz e feroz) os parágrafos curtos, bicudinhos-rápidos, verbos, orações, como epigramas/fotogramas, e, já disse Drummond, o mundo não pesa mais do que a mão de uma criança no ombro...

-Um romance com narrativas maviosas e as vezes entrelaçadas para todas as idades, para se contar na escola, para o jovem descobrir um mundaréu em contagem progressiva, para um adulto pegar na mão da menina e ser pai dela, irmão dela, namoradinho dela, e ainda assim e por isso mesmo também, filho dela... Já pensou que pássaro-livro arisco de se conter na emoção de lê-lo? Acabei e pensei com meus borbotões, é pouco. Cadê o bem-virá do quero mais, tipo Quero Quero ciscando nas laudas da autora, teatralizando as palavras em cenas breves, rápidas, passageiras, e ainda assim um bem-te-ler de fazer gosto?... Ah o deusinho da arte na manjedoura das palavras... e o menino (menina) livro?

-Aline Bei nasceu em São Paulo, em 1987. É formada em Letras pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e em Artes Cênicas pelo Teatro Escola Célia-Helena. É editora e colunista do site cultural OitavaArte.

Aline-se, eis o verbo.

-O PESO DO PÁSSARO MORTO é um livro tão graciosamente leve, ao mesmo tempo um romance de peso estimativo em qualidade e literatura fina, que você sai da leitura meio que, ponhamos, encantado...

-Encantado? Então é um gostar de arregalar-se.

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Silas Corrêa Leite

E-mail: poesilas@terra.com.br

www.artistasdeitarare.blogspot.com/

Professor, escritor, autor de TIBETE, De Quando você não quiser mais ser gente, Romance, Editora Jaguatirica, Rio de Janeiro, 2017.

BOX:

O PESO DO PÁSSARO MORTO, Romance, Aline Bei.

Editora Nós, SP, 2017

www.editoranos.com.br

166 páginas.

Link:

http://editoranos.com.br/nosso-catalogo/o-peso-do-passaro-morto/

Autora:

https://alinebei.wordpress.com/author/alinebei/


Author`s name
Pravda.Ru Jornal