O pensar e o agir

O professor Ladislau Dowbor falou no Plenarinho da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul sobre capital financeiro, tema do seu livro mais recente A Era do Capital Improdutivo. De cara, o professor Dowbor apresentou uma grande qualidade: ele usa a língua portuguesa para expor suas idéias e não o dialeto preferido de alguns analistas, o economês.

Quem já ouviu falar da campanha da professora Fatorelli sobre o Sistema da Dívida Pública, ou freqüenta alguns sites de esquerda, há muito já estava informado de como o capital financeiro, no mundo e também no Brasil, cada vez mais detém as rédeas do poder econômico e por conseqüência, o poder político.

O que o professor Dowbor acrescenta, fruto principalmente da sua atuação como pesquisador da ONU, são dados estatísticos e fatos que mostram como o capitalismo financeiro se transformou num câncer que está destruindo toda a civilização.

Depois daquela clássica afirmação de todos os economistas de esquerda, de que a visão de Marx sobre a luta de classes não deveria estar mais centralizada na oposição entre patrões e operários, mas sim no contraste entre o sistema financeiro e o sistema produtivo, o professor Dowbori apresenta os eixos em torno do quais o capital financeiro espalha suas maldades: no meio ambiente, destruído pela ânsia dos lucros; na sociedade, com o endividamento programado das famílias e no econômico, com a transferência dos investimentos para o setor financeiro, que não gera nenhum benefício para a sociedade.

Nessa altura, o professor Dowbor foi extremamente didático, apresentando uma série de exemplos para demonstrar como funciona o modelo e as diferenças de como opera esse capital financeiro em países desenvolvidos e no Brasil, onde taxas de juros escandalosas, tornam sua ação ainda mais nefasta para a população.

Feito o diagnóstico, quais são os remédios. Pelo menos na sua palestra, ele não avançou no detalhamento de quais são eles, embora todos nós saibamos que seu nome seria Auditoria da Dívida Pública, com o não pagamento do que é claramente uma extorsão dos grandes bancos sobre o governo e a sociedade.

Mas, para fazer isso, é preciso dispor do poder político. Quando os brasileiros estiveram o mais próximo disso - os 14 anos de governo do PT - nada foi feito nesse sentido.de agir contra o capitalismo financeiro. Ao contrário, Inclusive no segundo governo da Presidente Dilma, ela convidou para dirigir a política financeira do governo um funcionário do Bradesco, o maior agente no Brasil desse processo.

Ficou célebre um comentário de Marx sobre os filósofos "Os filósofos sempre se limitaram a interpretar o mundo.O que importa agora é mudar o mundo'

Talvez isso possa valer também para economia, embora, ao que parece, o professor Dowbor não pretende destruir a ordem capitalista e sim reformá-la.

Esse parece ser também o sonho da nossa esquerda, apostar suas fichas num processo constitucional, que a cada quatro anos, permite que as pessoas sejam chamadas para escolher entre determinados candidatos e não usar sua força (se é que tem alguma)para conscientizar as pessoas sobre a necessidade de uma revolução.

Aliás, essa nossa esquerda parece ter excluído do seu vocabulário, como já fez a burguesia a décadas, a palavra revolução.

Na palestra do professor Dowbor,estavam políticos importantes do PT, como Raul Pont e Miguel Rosseto. Fico curioso em saber com que armas eles pretendem enfrentar o capital financeiro, principalmente o Rosseto, sempre apontado como candidato em potencial ao Governo do Estado.

Marino Boeira é jornalista, formado em História pela UFRGS

 


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