Brasil: O fim de um sonho

Brasil: O fim de um sonho


Não faz tanto tempo assim. 
No ano de 2001, cerca de 20 mil pessoas se reuniram em Porto Alegre para participar do Primeiro Fórum Social Mundial sob o lema de que Outro Mundo é  Possível.
Realmente era possível ou isso foi mais uma prova da nossa ingenuidade política?
Naquele ano - 2001 - Olívio Dutra era o primeiro prefeito petista de Porto Alegre e Lula, desde 2000, o Presidente do Brasil.


Lula foi criticado por não ter vindo ao evento de Porto Alegre, mas ter ido a Davos, na Suíça, onde os ricos se reuniam para discutir como continuar governando o mundo.
Seria já um sinal das muitas concessões que ele faria em seu governo?
Na terceira edição, em 2003, Lula viria a Porto Alegre, para explicar sua ausência do primeiro e prometer, numa grande concentração popular no  anfiteatro Por do Sol , que como presidente tudo faria para tornar esse novo mundo possível.
Verdade que fez muito, mas deixou também de fazer muitas outras coisas que prometeu.
Do mesmo jeito como murcharam aquelas flores plantadas em 2001, o Fórum foi perdendo força.


Com o passar dos anos, esse evento iria definhando, na esteira da retomada, no mundo inteiro, dos governos por forças neo-liberais, quando não ostensivamente de direita, como no caso dos Estados Unidos e mais recentemente do Brasil.
Prova disso é que o Fórum, depois de reunir na sua edição de 2009 - quando  o Brasil pretendia se incluir entre as seis maiores potências econômicas do mundo -  cerca de 120 mil pessoas em Belém do Pará,  passou a definhar e praticamente desapareceu.
No ano passado, em Salvador, mesmo com a presença de Lula, já próximo de ser preso, teve pouca repercussão e esse ano, em Poro Alegre, passou praticamente despercebido. 
Na Assembléia Legislativa, poucas pessoas, no final do último mês de janeiro, foram ouvir alguns discursos de representantes dos poderes mais afrontosamente contrários aos ideais dos lançadores do fórum.


O discurso oficial no evento, totalmente ignorado pela mídia, foi proferido pela Secretária de Desenvolvimento Social e Esportes da Prefeitura de Porto Alegre, a auto denominada Comandante Nádia
Independentemente do que ela possa ter dito, o que ficou foi a imagem da derrota dos melhores sonhos humanitários  dos brasileiros e uma prova de que Geraldo Vandré tinha razão , em sua música Caminhando, quando duvidava de que as "flores podem vencer os canhões".


E se quisermos lembrar outras letras de músicas populares brasileiras para retratar a nossa desdita atual, nada melhor do que ouvir Belchior prever, na voz  de Elis Regina , há alguns anos , em 1976, o que seria hoje o país dos bolsonaros, dos moros, da imprensa vendida, das milícias assassinas, do Lula preso e das esperanças perdidas : "Por isso cuidado meu bem/ Há perigo na esquina / Eles venceram e o sinal  Está fechado pra nós."
Pelo jeito com que as coisas andam, esse sinal vai ficar fechado para nós e esse novo mundo que sonhamos um dia,terá sua chegada adiada por muito tempo.


Mas não percamos a esperança, um dia ele chegara, como nos assegurou Carlos Drummond de Andrade no seu poema A Cidade Prevista.  
Irmãos,cantai esse mundo que não verei, mas virá um dia, dentro em mil anos, talvez mais... não tenho pressa. Um mundo enfim ordenado, uma pátria sem fronteiras, sem leis e regulamentos, uma terra sem bandeiras, sem igrejas nem quartéis, sem dor, sem febre, sem ouro, um jeito só de viver, mas nesse jeito a variedade, a multiplicidade toda que há dentro de cada um. Uma cidade sem portas, de casas sem armadilha, um país de riso e glória como nunca houve nenhum. Este país não é meu nem vosso ainda, poetas. Mas ele será um dia o país de todo homem. 


Marino Boeira é jornalista, formado em História pela UFRGS

 


Author`s name
Timothy Bancroft-Hinchey