Brasil: O Dia Seguinte

O Dia Seguinte

por Pedro Augusto Pinho

"Não se pode olhar para a política pelo velho espectro da esquerda e direita", (Marine Le Pen, Paris, 19 de março 2018)

 

Como será o Brasil de 2019?

Será que os eleitores de ambos candidatos a Presidente estão pensando, além de seus pequenos umbigos, na crise que se avizinha? Na transformação do mundo e na minúscula posição que o governo Temer, com seus Ministros das Relações Exteriores, verdadeiros lobistas de interesses estrangeiros, posicionaram o Brasil?

Não sou melhor nem mais arguto analista que qualquer outro. Talvez a distância que tomo das ideologias, o interesse único no Brasil Soberano, Livre e Cidadão, permitem-me observar certos fatos sem o óculos da política partidária nem as deformações da pedagogia colonial.

Parto de nosso estado colonial. Salvo em pequenos e fugazes momentos de rebeldia, para construir algo de nacional - sempre me vem à mente alguns momentos de Vargas, JK e Geisel - o Brasil jamais deixou de ser colônia.

Até 1990 fomos colônias de Estados Nacionais, a partir de então de um sistema que denomino banca, o sistema financeiro internacional.

Mas há sempre um poder e um desejo de poder, uma situação e uma oposição. A eleição de Donald Trump, o plebiscito do Brexit, no Reino Unido, o nacionalismo russo e o neomercantilismo chinês mostram a pluralidade de caminhos tomados pelas nações.

Há quase três anos venho insistindo na eclosão de nova crise financeira. Não que a economia mundial esteja em dificuldade, ela colocou-se em dificuldade no momento em que se submeteu aos objetivos da banca. E procurou desconhecer a existência de regimes democráticos, da necessidade de bilhões de seres humanos e da emergência da China.

Vejamos o que disse Steve Bannon, que não pode ser minimizado como marqueteiro de Trump, no discurso ao Congresso da Refundação do Front National, francês, em março passado, na tradução sempre magnífica do Vila Mandinga:

"E em Washington, DC, essa semana nosso amado presidente Trump finalmente pôs porta a fora os globalistas. Já era mais do que hora!

Vocês viram na Itália, o movimento 5 estrelas e a Lega, não que concordem em tudo, não, de fato o movimento 5 estrelas é movimento de centro-esquerda. Mas uniram-se para votar contra a elite política de Roma e de Bruxelas".

Ou seja, abrem-se nos Estados Unidos da América (EUA) e na Europa (Itália)  duas frentes contra a banca. Mas esta, por óbvio, reagirá. E como o fará?

Tanto os economistas da Associação pela Tributação das Transações Financeiras para Ajuda aos Cidadãos (ATTAC), quanto aqueles dos Departamentos do Fundo Monetário Internacional (FMI) e diversas consultorias europeias, estadunidenses e asiáticas estão prevendo para muito breve - até 2020 - o detonar da crise que, estes mesmos analistas estimam, será a maior de todas, desde 1929.

Mas para onde a banca dirigirá a crise. Já manifestei que via no euro o epicentro da crise. Mas também imaginava que os pensadores, os estrategistas da banca deveriam temer a queda das moedas ocidentais e uma vitória do yuan chinês.

Na luta pelo domínio do mundo, defrontam-se a banca - com seus objetivos de apropriação dos ganhos pelo sistema financeiro e da concentração de renda - impondo a ideologia neoliberal, os EUA, com seu modelo colonial econômico e cultural, e a China com um neomercantilismo, buscando assumir a condição de  fornecedora única ou majoritária de todos produtos consumidos no planeta.

É conveniente ter sempre em mente que a banca acolhe todos os resultados das ações ilícitas em todo mundo. Não é exagero afirmar que os traficantes - de drogas, de seres e órgãos humanos, de armas - assim como os corruptos, nos variados níveis, são sócios da banca. E que ela vê os Estados Nacionais como inimigos.

Em julho de 2009, Anthony Guinada Baah e Herbert Jauch editaram "Investimentos Chineses na África: Oportunidade ou Ameaça para os Trabalhadores?", onde se lê (tradução livre):

"O termo "consenso Beijing" foi usado para descrever a maneira que a China trata outros países. A aproximação da China centra-se sobre o comércio bilateral e um papel forte para o estado. Pouco ou nada de privatização e livre comércio. Ao contrário dos programas de ajuste estrutural que os neoliberais Banco Mundial e FMI impõem à África, a China não exige privatização, liberalização de comércio, nem corte de despesa social e sustenta, preferivelmente, projetos baseados em acordos bilaterais".

Dados de 2008, em plena crise, mostravam a transferência de cerca de US$ 28 bilhões da África para China (quase metade em petróleo angolano) e de  US$ 26 bilhões da China para África.

Em 2017, o estoque de investimentos diretos chineses nos países latino-americanos e caribenhos alcançou cerca de US$ 115 bilhões, de acordo com a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL).

O Brasil não pode nem deve se curvar diante destes três conquistadores. Não se trata de escolher mal menor, mas de firmar-se como País Soberano.

Para tanto temos território, população, recursos naturais de toda ordem, no campo das energias, dos minérios, terras raras, aquíferos, solo, recursos da flora, especialmente na biodiversidade, e polos de conhecimento em áreas relevantes como a nuclear, aeroespacial, petróleo, energias "limpas". Falta-nos a área relevante, desconstruída e demolida depois do Governo Geisel, das tecnologias da informação e da comunicação.

A este Brasil se opõe, evidentemente, interesses colonizadores externos e a elite política e econômica que nos dirige desde o Império.

A crise será uma oportunidade de construção deste novo Brasil?

Pergunto então, será possível, com os compromissos que, a cada dia, nos são revelados pelos dois candidatos, termos esta expectativa libertadora. Ou continuaremos vivendo, sob governo autoritário ou democracia jurídico-parlamentar, numa Pátria colonizada?

Como já apontei, a questão nacional não entrou nas pautas eleitorais. Nenhum dos temas aqui tratados foi objeto de debate ou de programa de governo ou propaganda eleitoral. Que Brasil surgirá então em 1º de janeiro de 2019?

Pedro Augusto Pinho, avô, administrador aposentado

 


Author`s name
Timothy Bancroft-Hinchey