Ante a derrota, EUA 'ameaçam' balcanizar a Síria

Os comentários ácidos, amargos, em que John Brennan chefe da CIA pôs em dúvida o futuro da Síria como país soberano, no Fórum de Segurança de Aspen, Colorado, ontem, mostram o alto nível de frustração dos EUA ante as realidades que emergem dos combates em solo (Reuters). As forças do governo sírio, apoiadas por forças russas, iranianas e por combatentes do Hezbollah cercaram afinal a estratégica cidade de Aleppo, no norte do país. Dentro da cidade, presos na arapuca, estão os grupos extremistas que EUA e aliados apoiaram na guerra.

A Rússia anunciou a criação de 'corredores humanitários' para facilitar que os civis que lá estejam deixem a cidade e os terroristas rendam-se. O anúncio dos russos fez os EUA parecerem idiotas, regionalmente, tão amplamente cercados e derrotados.

O secretário de Estado John Kerry imaginou que conseguiria enrolar Moscou em alguma 'via diplomática', discutindo algum cessar-fogo e a excitante possibilidade de a Rússia participar de operações conjuntas sob comando dos EUA, na Síria, enquanto, ao mesmo tempo, garantia tempo para os grupos da oposição se recuperarem em Aleppo. Como agora se sabe pelo recente anúncio da Frente al-Nusra, de que se separa da Al-Qaeda, o plano dos EUA sempre foi ganhar tempo para 'legitimar' o apoio dos EUA à Frente al-Nusra e blindá-la, protegendo-a dos ataques russos.

Os russos, por sua vez, deixaram a conversa em fogo baixo, enquanto davam sinal verde para que prosseguissem as operações militares conjuntas com Damasco e Teerã para retomar Aleppo.

'Corredor humanitário' é faca de dois gumes. A situação humanitária é realmente crítica e os suprimentos que os russos fazem chegar à população são, sim, mensagem de reconciliação. Mas, por outro lado, os refugiados que saem da cidade têm os olhos em destinos europeus; e pode haver terroristas entre eles.

Os seguintes excertos de um comentário da agência de notícias iraniana FARS (ligada ao Corpo de Guardas Revolucionários do Irã) mostram bem o triunfalismo que reina em Teerã, para quem EUA e Arábia Saudita foram os grandes derrotados na guerra síria:

A mãe de todas as ironias será que países europeus enfrentarão o espectro de terroristas que chegarão às portas de suas cidades... os mesmos terroristas que a CIA treinou e armou! A ameaça de Brennan, de que balcanizará a Síria, não passa de teatro, porque qualquer ação tresloucada naquela direção enfrentará oposição decidida não só de Teerã, Damasco e Moscou, mas também de Ancara (Al-Arabiya).

Teerã anunciou que uma delegação chefiada pelo presidente da Comissão de Assuntos Externos e Segurança do Majlis (Parlamento) iraniano, figura chave do establishment das Relações Exteriores do Irã, visitará Damasco em missão de cinco dias, para discutir com o presidente Bashar Al-Assad a trajetória política e diplomática a ser trilhada daqui em diante, para colher 'os dividendos da paz' (Tehran Times).

Lê-se comentário dos russos (ing.) sobre o mesmo assunto, em Four Reasons Why Liberation of Aleppo Would Mean an End to the Syrian War [Quatro razões pelas quais a libertação de Aleppo significa um fim possível para a Guerra Síria] .*****

 

31/7/2016, MK Bhadrakumar, Indian Punchline
http://blogs.rediff.com/mkbhadrakumar/2016/07/31/faceing-defeat-us-threatens-to-balkanise-syria/

 


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Timothy Bancroft-Hinchey