Morre sindicalista e preso político saharaui

Morre sindicalista e preso político saharaui após ser torturado e passar vários dias em greve de fome

O preso político saharaui Brahim Saika,  morreu dia 15 de Abril num hospital em Agadir (Marrocos), depois de estar em coma há vários dias,  após ter sido detido arbitrariamente e torturado na esquadra de Guelmin.

Brahim Saika, de 31 anos, graduado da universidade com um mestrado em sociologia, foi um dos líderes da Coordenadora dos saharauis desempregados, preso no dia 1 de abril  por policias marroquinosdepois de sair da sua casa na cidade de Guelmin (Marrocos). A sua detenção ocorreu quando tentava realizar um protesto pacífico para chamar a atenção para a situação dos desempregados saharauis. Sem mandado de captura , nem de busca e apreensão, os mesmos agentes voltaram com o sequestrado à casa da sua família. Abriram a porta com a chave que Brahim tinha com ele e entraram ilegalmente na casa da família, agredindo física e verbalmente a sua mãe e os seus irmãos.

Em seguida levado para a esquadra, onde foi torturado durante horas. Durante os interrogatórios, foi ameaçado de morte caso não se arrepende-se e pedisse perdão por "sujar a imagem do país (Marrocos) no estrangeiro" e que ninguém viria em seu socorro nem a Amnistia Internacional nem outras "organizações fantoches".

Brahim, decidiu iniciar uma greve de fome para protestar contra os maus-tratos a que estava a ser submetido, tratamento habitual a que são sujeitos os presos políticos saharauis.

Poucos dias depois, a 6 de Abril, a sua saúde deteriorou-se tanto, que foi internado em estado grave no hospital de Guelmin, antes de ser transferido para o hospital provincial de Agadir. Continuou num estado de saúde de extrema gravidade, acabando por falecer na tarde de 15 de abril, no mesmo hospital. Brahim esteve algemado  à cama do hospital desde o primeiro dia, falecendo assim.

As autoridades do hospital recusam a realização de uma autópsia que ateste o motivo de sua morte, apesar do pedido repetido da sua família.

Saika Brahim era um preso político saharaui que já tinha sido preso, em 2008, quando era estudante na Universidade de Marraquexe, pela sua participação em protestos pacíficos.

Dezenas de saharauis em  Agadir, Guelmin e Smara saíram à rua em manifestações após saberem da morte de  Brahim Saika no dia 15 de Aril, em protesto contra mais um assassinato de um saharaui pelas autoridades de ocupação marroquinas.

Esta morte é mais uma, na longa lista de Marrocos, que continua impune perante a lei e a comunidade internacional.

Mais uma vez as autoridades recusam-se a realizar uma autopsia, mas já informaram a familia que a morte se devia a "mordida de ratazana e envenenamento devido à mesma", uma explicação sem base cientifica ou factos corroborantes.

A impunidade com que as autoridades torturam cidadãs saharauis em Marrocos e no Sahara Ocidental ocupado, é alarmante. O desrespeito absoluto por qualquer lei, seja nacional (marroquina) ou convênios e acordos internacionais subscritos pelo Reino de Marrocos e subsequentes violações dos direitos humanos mais elementares, não podem continuar sem que haja algum tipo de actuação por parte da comunidade internacional, nomeadamente a UE e seus países membros que mantêm relações económicas e políticas de proximidade com este Estado.

A ONU através dos seus organismos, nomeadamente o Conselho de Segurança permite com a sua falta de actuação não só a prorrogação de uma conflito que dura há mais de 40 anos, com uma ocupação ilegal, como também a perseguição selvagem de todos os que se opõem de forma pacifica a esta ocupação.

Isabel Lourenço

(activista de direitos humanos)

 


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Timothy Bancroft-Hinchey