Denunciado, Prefeito paulistano salda dívida de R$ 90,9 mil de IPTU pendente desde 2002

Denunciado, Prefeito paulistano salda dívida de R$ 90,9 mil de IPTU pendente desde 2002

Poucas horas após ter sido denunciado em Sessão Plenária na quarta-feira (29) pelo líder do PT na Câmara dos Vereadores de São Paulo, Antônio Donato, por possuir desde 2002 dívida de T$ 90,9 mil referentes ao IPTU da mansão no bairro nobre dos Jardins, o prefeito paulistano João Doria (PSDB) acabou quitando-a.

Edu Montesanti

"O prefeito não paga o IPTU da sua mansão. Tem uma dívida de R$ 90 mil com a prefeitura", afirmou o vereador Donato na tribuna da Câmara. "Temos visto o prefeito Doria vestido de gari, de pedreiro, porque ele considera que o exemplo é importante e acho que é um aspecto importante mesmo do administrador público. Mas o exemplo tem que ser em todas as áreas", acrescentou o líder petista. 

Apesar da alegação da Prefeitura através de nota emitida logo após o pronunciamento de Donato, de que Doria ainda não havia sido notificado que deveria saldar a dívida, em 2013 a Justiça havia considerado que o Município deveria receber o valor contestado há onze anos pelo empresário e atual prefeito que acabou tendo o nome incluído na lista de devedores da cidade de São Paulo.

Não era necessário, contudo, ter vindo à tona que o dono de fortuna avaliada em R$ 179 milhões para que se constate o engodo que representa o prefeito da maior cidade da América Latina, que se elegeu no ano passado com o precário argumento de ser "gestor" e não político, tem doado seu salário do Executivo paulistano, além de um dos tantos auto-denominados combatentes da corrupção nacional apoiados em forte apelo (falso) moralista deste País. 

O profundo casuísmo envolvendo os ditos e feitos de Doria é evidente levando-se em conta que, logo que assumiu o Palácio do Anhangabaú, tem feito uma mal-disfarçada "faxina" social em relação aos moradores de rua, aplicado a mesma política agressiva contra viciados em drogas de seus partidários, e cortado investimentos em educação, assistência social e saúde (que já era um caos) que chegam a R$ 2,6 bilhões.

Ao invés de fazer doações de seu salário de R$17.948 a instituições de caridade, posando para fotos e arrancando suspiros dos mais distraídos pelo glamour da capacidade persuasiva da hipócrita elite paulistana, Doria faria um bem muito maior à cidade de São Paulo se ao menos mantivesse os investimentos da gestão anterior, do prefeito Fernando Haddad (PT), e ao invés de criminalizar a pobreza e combater viciados em drogas, oferecesse dignidade e tratamento. 

Neste último caso, a "política" do "gestor" envolve "combate" ao uso de drogas e internação compulsória, algo no mínimo muito questionável. No primeiro, uma dispersão dos pobres e cerco a seus locais de moradia" pelas ruas da cidade com telas, a fim de escondê-los da sociedade. 

Além de péssimo gestor, Doria é mau político por, implicitamente, criminalizar a política negando ser político - pavimentando o caminho para golpes ainda maiores à democracia -, e político corrupto. Isso deve ser deixado bem claro a uma sociedade perdida entre tanta demagogia, sem nenhum senso cidadão como subproduto da desinformação da grande mídia e de um sistema educacional falido, o qual o "gestor" de turno trata de precarizar ainda mais.

Os fatos falam por si só; nada mais oportunista que a "gestão" de Doria, uma hipocrisia bem à altura da classe política e das classes dominantes brasileiras seguidas por uma classe média, em geral, igualmente incauta que, sob a histeria justiceira pediu pelo impedimento de uma presidenta da República sem nenhum envolvimento em casos de corrupção, se cala agora no caso de Doria, e diante de casos semelhantes como o de Paulo Skaf, "industrial sem indústria" conforme observado pelo jornalista Pedro Zambarda de Araújo: dentre os que mais ferrenhamente protestou contra a corrupção no País, mais recentemente Skaf, que em 2014 já havia sido denunciado por ter recebido R$ 2,5 milhões de empresas investigadas pela Operação Lava-Jato, teve o nome envolvido nas delações premiadas da Odebrecht pela recepção de propinas no valor de R$ 6 milhões.

Pouca hipocrisia é sempre uma grande bobagem quando os setores reacionários - e suas massas de ignorantes e histéricos que caem em qualquer politicagem barata, mal-disfarçada - entram em cena. Isso tudo diante de uma cínica, dessituada, apática, inerte, mesquinha e sisuda"esquerda" que, por outro lado sofre de esquizofrenia democrática, pode-se concluir que o que menos se tem feito no Brasil é justiça e promoção do Estado de direito.

Mais esta falaciosa, ridícula "faxina anti-corrupção" no Brasil possui seletividade fundamentada no ódio, na discriminação e nos interesses político-partidários em um falido sistema de Partido Único a serviço de uma oligarquia mesquinha, à qual o próprio PT se aliou. E João Doria é o novo bobo da Corte arranjada pela cínica e altamente corrupta burguesia brasileira, aplaudido alegremente por um picadeiro de baixíssimo nível intelectual - as ignorantes classes média e alta paulistana, evidentemente.

 

Edu Montesanti

 


Author`s name
Timothy Bancroft-Hinchey