Realizadora angolana é sucesso no Open Doors de Locarno

Por Aqui Tudo Bem, o primeiro filme da realizadora angolana Pocas Pascoal tem dois anos, mas foi recebido como novidade vinda da lusofonia africana e aplaudido por uma sala cheia, dentro da mostra Open Doors do Festival Internacional de Cinema. Essa mostra se divide na projeção de sete filmes de cineastas confirmados e da apesentação de projetos de filmes selecionados e aguardando financiamento.

Com diversas curtametragens, Pocas que foi a primeira cameraman de Angola, logo depois da guerra colonial e da independência, pela qual ela também lutou. Enquanto diversas tendências religiosas oprimem as mulheres ou tentam restringir seus direitos recentemente conquistados, Pocas afirma que a luta angolana marxista pela independência garantiu às mulheres uma participação ativa na sociedade e direitos como ao aborto, ao divórcio, à contracepção e igualdade de oportunidades no trabalho não existentes na quase totalidade dos países africanos.

Por Aqui Tudo Bem não é um filme autobiográfico, mas conta uma parte das experiências de Pocas e sua irmã que tinham fugido de Angola para Lisboa, na época da guerra colonial. Ambas viveram momentos difíceis, tanto que Pocas decidiu retornar a Angola enquanto sua irmã se refugiou na França. Posteriormente, Pocas foi se encontrar com a irmã em Paris, onde estudou cinema, o que lhe permitiu fazer carreira como camerawoman em Luanda, onde nasceu.

Entrevista exclusiva com Pocas Pascoal

Pergunta - Voce já tem outro filme de longa-metragem em preparação?

Pocas Pascoal - Sim, estou na escrita do roteiro e o filme terá um produtor francês, será rodado em Angola e uma parte na África do Sul. Trata de uma história de amor e a personagem principal é também mulher.

Pergunta - Como você considera a situação da mulher em Angola?

Pocas Pascoal - a mulher em Angola sempre teve um papel muito importante. É uma heroína, uma mulher que combateu durante a colonização pela independência de Angola. É uma mulher que continua a lutar e tem um grande lugar na sociedade angolana. Hoje em dia 30% das mulheres são representadas no governo, pois temos ministras mulheres e temos a sorte de termos uma grande liberdade em Angola, portanto a mulher tem grande liberdade uma situação que não existe em todos os países africanos.

Pergunta - No mundo e no Brasil, em consequência de pressões religiosas, os direitos das mulheres correm o risco de serem retirados, em muitos países nunca foram concedidos, direitos como aborto e liberdade sexual, como está a situação na África e em Angola?

Pocas Pascoal - Há sempre o risco deve-se sempre ter cautel, mas repito há uma grande liberdade para as mulheres em Angola, isso em consequência de tantos anos de governo socialista marxista em Angola. As mulheres conquistaram e aprenderam a ter liberdade e, dentro de clima, criaram seus filhos.

Em Angola, as mulheres não estão sujeitas a nenhum tipo de repressão, mesmo se ainda existem casos de violências e humilhações feitas às mulheres. Em todo caso nós mulheres temos muita força e muito poder e continuamos a lutar para não perder essas conquistas. Na África, Angola é o país onde as mulheres têm mais poder e isso é uma vantagem e um privilégio.

Pergunta - E o cinema, em Angola e na África ? O diretor do Festival disse que o cinema africano enfrentar sérios problemas de produção e financeiros. Em muitos países, sem ajuda não se pode fazer cinema. Mas mesmo o país tendo dinheiro o cinema não parece ser prioritário...

Pocas Pascoal - Infelizmente ainda nao há uma indústria cinematográfica na África e talvez a Nigéria seja a única exceção. Em Angola, também não existe nenhuma estrutura para o cinema. Acho que o fato de termos vivido muito tempo em clima de guerra e por ser um país novo, Angola não dá prioridade ao cinema.

Há outras formas culturais ue estão sendo apoiadas pelo governo mas o cinema tem ficado de lado, infelizmente. Eu e meu colega José Gamboa temos lutado por isso.

Temos estado a falar com a ministra da Cultura em Angola e talvez um dia possamos falar com o presidente da República, que é uma pessoa muito atenta ao que se passa no país. Acho importante que possam entender que através do cinema podemos não só divertir como contar a história e fazer um retrato da sociedade hoje e no passado. Ainda não temos esse poder financeiro para o cinema mas felizmente existem pessoas que fazem cinema mas são vídeos.

Os realizadores e os distribuidores são eles mesmos, ou seja, as salas de projeção ou cinemas estão fechados e quando esses realizadores têm um filme, alugam essas salas e ficam eles próprios na caixa a vender os ingressos.
Espero que um dia tenhamos o apoio necessário para o cinema.

Pergunta - Existe a possibilidade de uma colaboração com o Brasil em termos de cinema. Fala-se nisso?

Pocas Pascoal - Sim, fala-se, hoje em dia em termos de televisão. Há muitos brasileiros que promovem formação em Angola, trabalham para a televisão e fazerm telenovelas, embora talvez não seja o melhor em termos culturais, muitos brasileiros que estão a levar a Angola essa cultura brasileira do cinema na televisão, as telenovelas. Há, portanto, uma grande troca brasileira cultural e de formação hoje em dia em Angola.

 

Rui Martins

 


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Timothy Bancroft-Hinchey