Missões de Paz da ONU Davam Lanches a Crianças Haitianas em Troca de Sexo

Crianças de até 12 anos submetidas a práticas sexuais no Haiti, algumas em média quatro vezes por dia em troca de petiscos por "soldados de paz" do Sri Lanka, sem condenação. Nenhuma novidade para "Missões de paz" da ONU. Onde estão as grandes potências ocidentais, auto-proclamadas guardiãs dos direitos humanos ocupadas em "intervenções humanitárias" à base de invasões e bombardeios?

Missões de Paz da Organização das Nações Unidas (ONU) no Haiti estão envolvidas em abusos sexuais contra crianças de até 12 anos de idade, em troca de lanches ou alguns poucos dólares segundo investigação da agência de notícias Associated Press (AP).

A investigação detalhou como, de 2004 a 2007, ao menos 134 membros das "forças de paz" do Sri Lanka na ilha caribenha foram chegaram a explorar até nove crianças por dia, algumas relatando ter feito sexo diversas vezes por dia com os "militares da paz" cingaleses. A AP também descobriu que cerca de 150 denúncias de abuso e exploração sexual por soldados da ONU e de outro pessoal foram relatados apenas no Haiti entre 2004 e 2016, dos quase 2 mil casos mundiais.

No caso dos cingaleses, enviados de volta ao país insular asiático 144 após emissão de um relatório interno da ONU sobre o escândalo, até agora nenhum deles respondeu perante a Justiça pelos abusos.

"Eu nem sequer tinha seios", disse uma menina conhecida como V01 - Vítima Número 1. Ela afirmou aos investigadores da ONU que dos 12 aos 15 anos de idade, teve relações sexuais com quase 50 pacificadores, incluindo um " comandante" que lhe havia dado 75 centavos de dólar. Às vezes, ela dormia em caminhões da ONU estacionados na base militar.

V03 identificou 11 tropas cingalesas através de fotografias, uma das quais ela disse que era um cabo com uma cicatriz de bala entre a axila e cintura. V04 relatou que tinha 14 anos quando teve relações sexuais com os soldados todos os dias em troca de dinheiro, biscoitos ou suco.

A vítima denominada Número 8, um menino, disse que havia praticado sexo oral e que tinha sido ainda sodomizado por mais de 20 "soldados da paz" do Sri Lanka. Frequentemente, os militares tinham o cuidado de retirar a identificação para levá-la aos caminhões. Outro menino disse aos investigadores que, por três anos, fez sexo com mais de 100 "soldados de paz", em uma média de quatro vezes por dia.

A investigação da Associated Press sobre as missões da ONU no decorrer dos últimos 12 anos encontrou quase 2 mil denúncias de abuso e exploração sexual por parte das forças de paz e outros funcionários em todo o mundo - sinalizando que a crise é muito maior do que se tinha conhecimento. Mais de 300 das inúmeras denúncias envolveram crianças de acordo com a AP, mas apenas uma ínfima parte dos criminosos acabou condenada.

A ONU não tem poder legal sobre as forças de paz, deixando que a punição esteja a cargo dos países que contribuem com as tropas. Através de entrevistas com vítimas, ex-funcionários da ONU, investigadores e com governos de 23 países, constatando que nada tem sido feito para investigar os casos. Com raras exceções, poucas nações responderam às repetidas solicitações de julgamento, enquanto os nomes dos culpados são mantidos em sigilo, tornando impossível determinar a responsabilidade de cada um deles.

As Missões de Paz da ONU chegaram ao Haiti em 2004, após um golpe apoiado pelos Estados Unidos contra o então presidente Jean-Bertrand Aristide. O Haiti é o país mais pobre das Américas e um dos mais pobres do hemisfério ocidental, onde se vive com uma média menos de 2 dólares por dia.

Quais Vidas Valem Mais?


Este repórter noticiou, em março do ano passado, que Ban Ki-moon, então secretário-geral da ONU, havia relatado naquele mesmo mês 99 abusos sexuais em 2015 por suas tropas: 69 deles em países onde operam essas mesmas "missões de paz", e 30 em outros envolvimentos da Organização (leia Denunciados 99 Abusos Sexuais por Tropas da ONU, e Abusos Sexuais por Tropas da ONU sob Omissão Conivente de Washington). 

Ocupações militares, ardentemente defendidas por governos imperialistas e sub-imperialistas, deveriam ser substituídas por ajudas humanitárias ao estilo, por exemplo, venezuelano e cubano no próprio Haiti: petróleo a preços preferencias através da Petrocaribe, auxílio médico e educacional entre outras medidas voltadas à assistência social.

Enquanto pouco se escuta falar desses casos na grande mídia internacional, muito menos se tem notícia de indignação por parte dos principais tomadores de decisão internacionais, perguntemo-nos a nós mesmos: que deveríamos esperar se as vítimas fossem europeias ou norte-americanas, de "soldados da paz" venezuelanos, bolivianos e árabes islamitas?

Pois onde estão agora as desmoralizadas grandes potências ocidentais, auto-proclamadas guardiãs mundiais dos direitos humanos, especialistas em "intervenções humanitárias" à base da força? Certamente, muito ocupadas com invasões e bombardeios em busca de interesses econômicos e estratégicos contra nações ricas em petróleo e recursos naturais, que defendem a soberania nacional vítimas de falsas acusações de violações aos mesmos direitos humanos pelos quais, neste horrendo caso haitiano, essas potências se calam. Ainda há quem acredite na sinceridade e eficiência delas?

(*) Edu Montesanti escreve para Revista Caros AmigosPravda BrasilPravda Report (Rússia) e Global Research (Canadá). Autor do livro Mentiras e Crimes da 'Guerra ao Terror' (2012), é tradutor dos sítios na Internet de Abuelas de Plaza de Mayo(Argentina) e Revolutionary Association of the Women of Afghanistan (Afeganistão).

 


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Timothy Bancroft-Hinchey