Conheçam os novos brinquedos chineses

A agressão chinesa está desestabilizando seus vizinhos no Mar do Sul da China. A China só faz trapacear contra o mundo comercial. O mercado chinês de ações é uma arapuca para investidores. A China desvalorizar o yuan é truque sujo. A China está implodindo. O presidente Xi Jinping perdeu toda a credibilidade. E a China é grande ameaça, porque o Pentágono disse que é.

Pouco importa o que digam.

Porque surge o palco dos céus azuis translúcidos sobre Pequim - obtidos com doses gigantescas de vontade política. E aqueles flamantes brinquedos - aéreos e terrestres. Convidados de todo o mundo (ausentes os previsíveis suspeitos ocidentais de sempre). Espetáculo para TV que espetacularmente reduziu a bobagem de amadores o 'show' dos Óscars (e sem discursos lacrimosos de agradecimento pelo prêmio!). O que haveria de errado nisso?! 

É que ali estava, desfilando seu recheio mortal pela passarela de Tiananmen, o Dongfeng-21D. É míssil balístico terra-mar capaz de destruir um daqueles porta-aviões de vários milhões de dólares dos EUA, com um só tiro.

Não é surpresa que o desfile dos chineses para celebrar o fim da 2ª Guerra Mundial tivesse de ser demonizado ininterruptamente, furiosamente.

LEGENDA: Veículos militares transportam os mísseis balísticos terra-mar DF-21D, potencialmente capazes de afundar um porta-aviões da classe do US Nimitz, num só ataque, mostrado durante o desfile comemorativo dos 70 anos da rendição do Japão no final da 2ª Guerra Mundial, realizado em frente à ponte Tiananmen em Pequim, 3/9/2015, quinta-feira (Imagem AP).

O show chinês "Vejam aí meus brinquedos novos" contou com inúmeras estrelas coadjuvantes. O DF-5B - míssil balístico intercontinental projetado para transportar ogivas nucleares. O DF-26 míssil balístico de alcance médio, codinome "Matador de Guam", porque é capaz de causar vasto estrago na conhecida base norte-americana no Oceano Pacífico. O HQ-9, terceira geração do sistema chinês de mísseis terra-ar. Dúzias de lindos drones. Aqui se lê um levantamento parcial dos principais sucessos e de alguns projetos não muito bem-sucedidos como o J-31, geração de aviões chineses stealth de combate.

O roteiro inclui também diálogo inestimável. Xi Jinping passa em revista as tropas, e grita: "Olá, camaradas! Vocês trabalharam duro!". - E recebe a resposta, em uníssono-monstro "Olá, líder! Servimos ao povo!" 

Nenhuma falha no figurino, com a esposa de Xi, a glamourosa e elegantíssima Peng Liyuan, mais uma vez copiada, com um tsunami de lojas online que instantaneamente puseram à venda pela Taobao, resposta chinesa a eBay, cópias do vestido vermelho que ela usou no desfile.

E havia também aquelas fileiras e fileiras de soldados impecavelmente vestidos, saudando Xi com "Seguir o Partido! Lutar para Vencer! Manter conduta exemplar!" Mas não se sabe que tipo de conduta se considerará exemplar para os 300 mil soldados que serão desmobilizados em breve - quando Xi reduzir o contingente do Exército de Libertação Popular.

A redução no exército, para possibilitar que exército, marinha e força aérea recebam a mesma quantidade de recursos, é parte do modo de governar de Xi, com poder centralizado -, o presidente dirige nada menos que oito comitês de altíssimo nível para proposição de políticas, da reforma militar e da cibersegurança à política financeira de curto prazo e planejamento macroeconômico.

É Xi versus Reuters

O desfile do Dia da Vitória da China celebrou especificamente "o 70º aniversário da vitória da China na Guerra de Resistência Contra a Agressão Japonesa."

Como se podia prever, nenhuma das redes japonesas de TV - a NHK incluída - mostrou o desfile ao vivo. O primeiro-ministro do Japão Shinzo Abe, oficialmente convidado, declinou - como a Casa Branca e o Departamento de Estado ordenaram que seus serviçais europeus fizessem. Já examinei como o infantilismo arrogante do 'ocidente' tenta fazer-se passar por "diplomacia".

O jornal People's Daily não errou ao destacar que o desfile "dará ao povo chinês a oportunidade para atualizar a reflexão sobre as lições inestimáveis da história, e servirá como poderoso estímulo na autoconfiança dos 1,3 bilhão de chineses ao pensarem sobre o futuro do país."

Foi modo muito chinês de deixar claro que o que houve há décadas, como parte do "século de humilhação", quando a China era fraca e dividida, não voltará a acontecer. Aqueles brinquedos flamantes lá estavam para isso.

Ainda mais crucial é o que Xi disse: "Aquela guerra causou mais de 100 milhões de mortos militares e civis. Morreram mais de 35 milhões de chineses, e mais de 27 milhões da União Soviética. A guerra é como espelho: olhando ali, entendemos melhor o valor da paz."

Mais uma vez, de modo muito chinês, Xi não atacou diretamente a evidência de que só os atlanticistas têm alvará para celebrar a vitória sobre o fascismo e o nazismo. Quando a Rússia celebra - como no desfile de 9 de maio em Moscou -, ou a China, nessa 5a-feira em Pequim, são tachados de "militaristas", "nacionalistas" ou simplesmente de "uma ameaça".

Xi também disse que o mundo hoje precisa desesperadamente de um senso de comunidade global, de respeito e prosperidade mútua. Explique lá, aos excepcionalistas. Enfatizou que a China permanecerá comprometida com o "desenvolvimento pacífico" - lema oficial, antes do "Sonho Chinês" de Xi. E mais uma vez deixou bem claro que "a China nunca buscará nem a expansão nem a hegemonia. A China jamais infligirá a qualquer outra nação os sofrimentos pelos quais passou."

Mas e se o líder da muito em breve maior economia do planeta mentia descaradamente? Quem sabe que "ameaça" lá estaria, por trás do palavreado doce? 

Não há motivos para preocupações: a Reuters já distribuiu suas luzes por todo o planeta e explicou que "Para Xi, o desfile é bem-vinda distração, para que o povo esqueça o desastre da Bolsa de Valores na China, a economia quase estagnada e recentes explosões num depósito de produtos químicos que matou pelo menos 160 pessoas".

Enquanto ladravam os previsíveis cães do medo/inveja/ressentimento ocidental, o desfile da vitória chinesa passou gloriosamente. *****

 


Sobre o desfile em Pequim e o tratamento 'jornalístico' que recebeu no 'ocidente', ver "China: Desfile da Vitória versus mídia-empresa de acanalhamento", Fort Russ(traduzido) [NTs].

 

3/9/2015, Pepe Escobar, Asia Times Online

 


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Timothy Bancroft-Hinchey