O canal nicaragüense: Um caminho para o desenvolvimento

Managua (Prensa Latina) Para Nicarágua, dezembro é o mês dos grandes acontecimentos e neste 2014, para muitos, ficará marcado na história do país e do mundo: as esperadas festividades natalinas vêm acompanhadas do início da construção do "Gran Canal". 

Há 42 anos, nos últimos dias de 1972, Managua acordou devastada por um terremoto de 6,2 graus de magnitude na escala de Richter que causou a morte de mais de 10 mil pessoas e enormes danos materiais.

Em contraste, quatro décadas depois, a capital e o país todo celebram o cumprimento de um anseio centenário: a edificação de uma obra que promete se converter em uma valiosa via comercial e de comunicação, além de dar um importante impulso ao desenvolvimento dessa nação.

Para o presidente Daniel Ortega, o projeto cumpre com as aspirações do herói nicaragüense Agusto César Sandino e é um feito da america latina e do mundo.

Em 1929, o General de Homens Livres considerou o canal como uma rota que constituirá "tanto o íman como a chave do mundo" e será uma válvula maravilhosa para o desenvolvimento material e espiritual.

Quase um século depois, os nicaragüenses vêem especificar-se a possibilidade sonhada e apostam em uma obra cujo alcance ultrapassa as fronteiras nacionais.

Pela manhã do último 22 de dezembro, Wang Jing, presidente de HKND, empresa chinesa concessionária do projeto, anunciou o início da construção dessa estrutura durante um ato celebrado no departamento do sul de Rivas.

"Convido-os a guardar na memória este grande momento que seguramente ficará escrito na história", afirmou.

Nesse mesmo dia, em outra cerimônia celebrada na capitalina "Casa de los Pueblos", Ortega assegurou: não é casualidade que esta obra se desenvolva quando em nossa América temos conseguido dar um salto histórico para a integração e a unidade.

"Durante a cúpula da Comunidade de Estados Latinoamericanos e Caribenhos, terei a oportunidade de dar a conhecer que com o Gran Canal se começou a fazer realidade em Nicarágua o supremo sonho de (Simón) Bolívar apresentado por (Augusto César) Sandino", destacou.

Desafios e perspectivas

No ano do centenário da via interoceánica no Panamá, o início de uma obra similar retoma velhas esperanças, no entanto cria novos desafios e chama a atenção de todo o mundo.

A longitude do canal nicaragüense, cuja rota foi anunciada em julho, será de aproximadamente 278km, dos quais um trecho de 105 será no lago Cocibolca.

Passará pelo rio Brito, em Rivas, a uns 100 quilômetros desta capital, cruzará o lago e percorrerá as cercanias do rio Tule até a desembocadura do Ponta Gorda.

Seu custo total é valorizado em 50 bilhões de dólares e espera-se que esteja terminado em 2019.

Informes oficiais indicam que assumirá o 5% do transporte da totalidade do comércio mundial, duplicará o Produto Interno Bruto de Nicarágua e gerará mais de 250 mil empregos.

Além do canal, serão constrídos: um aeroporto, várias estradas, uma zona de livre comércio, complexos turísticos e dois portos, um do lado do Pacífico e outro no Atlántico.

Durante os últimos dois anos, investiram-se ao redor de 200 milhões de dólares no projeto e, segundo HKND, conta-se com um plano integral, o qual compreende a avaliação de setores interessados e as operações para cotar na bolsa.

Por outra parte, decidiu-se aumentar os custos dos estudos de viabilidade e os recursos destinados a eles com o propósito de garantir uma maior proteção ao meio ambiente.

De acordo com Wang Jing, a indenização das pessoas instaladas nas áreas próximas à rota prevista se baseará em "leis nicaragüenses, no mercado e em princípios humanos".

Os cidadãos dessa zona terão a possibilidade de escolher entre uma compensação monetária, mudança de suas terras por outras ou seu translado a novas moradias.

"Tudo isto se realizará através de negociações cordiais cara a cara. Ser-lhes-ão explicados seus direitos e as normas existentes para que realizem a melhor escolha", assegurou.

O plano de trabalho concebido por HKND para 2015 contempla a continuidade da medida e aquisição de propriedades nos territórios próximos à rota durante o primeiro trimestre do ano.

Ademais, serão contruídas estradas de acesso e começará a licitação para o desenho preliminar da estrutura.

Durante esse período, será completado e apresentado um estudo sobre o impacto ambiental da obra e posteriormente se dará o início das escavações.

No quarto trimestre, será realizada a licitação e desenho das eclusas.

"Ainda há muito pela frente e muitos desafios para superar, mas já não há como voltar atrás. Dedicaremos toda nossa sabedoria e valor para cumprir esta tarefa histórica (...). Viemos para trazer riqueza e dignidade e a deixar para trás à pobreza e o atraso", disse o empresário chinês.

Para o assessor principal do projeto, Bill Wild, este representa um desafio à engenharia, em especial, por seu tamanho superior aos similares já existentes.

Segundo os analistas, os principais desafios estão relacionados às escalas das estruturas, além das condições climáticas da Nicarágua e a constante ocorrência de movimentos sísmicos.

Não obstante, HKND assegurou que foram realizadas "prospecções, desenhos e investigações frutíferas e eficazes, estabelecendo uma base sólida" para sua edificação.

Uma via para o desenvolvimento

No último mês de outubro, o presidente Daniel Ortega destacou a importância da dita obra como meio para fazer frente à pobreza e impulsionar o desenvolvimento desta nação.

"É esta a única forma da Nicarágua, nas atuais circunstâncias, poder contar com um recurso que lhe dê utilidades para avançar na luta contra a pobreza, (e) qualificar as atividades produtivas", afirmou.

Por sua vez, Telémaco Talavera, presidente do Conselho Nacional de Universidades, assinalou que o canal é um meio para o desenvolvimento humano e aproximação dos povos do mundo.

É uma obra monumental. Transformará a sociedade nicaragüense e influirá de modo determinante na unidade latinoamericana e caribenha. 2015 estará marcado pelo rumo que tomar esse projeto, declarou à Prensa Latina Jacinto Suárez, secretário de Relações Internacionais da Frente Sandinista de Libertação Nacional.

Com o som das maquinarias em Rivas pelo início neste dezembro de obras auxiliares como a construção ou ampliação de estradas e o porto Brito, começaram a se tornar realidade na Nicarágua as aspirações de séculos e se abriram enormes possibilidades para o desenvolvimento econômico e social não só desta nação, mas também do mundo.

*Correspondente da Prensa Latina em Nicarágua

Texto: / Postado em 05/01/2015 ás 09:26

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Timothy Bancroft-Hinchey