Mauro Lourenço Dias (*)
SÃO PAULO - Faz parte da tradição brasileira que sempre alguém aparece com uma tranca nas mãos quando uma porta amanhece arrombada. E não foi diferente o que se deu em relação ao Porto de Santos. Um dia após um incêndio de grandes proporções -- felizmente, sem vítimas -- ter destruído o Armazém X (10 externo) da Rumo Logística, a Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp) e a Agência Nacional de Transoportes Aquaviários (Antaq) anunciaram que farão uma revisão dos procedimentos de segurança para as operações dos terminais do porto.
Segundo técnicos, uma das principais causas do incêndio em terminais açucareiros seria o acúmulo de melado (açúcar) nos roletes das esteiras de transporte, o que provocaria o aquecimento dos motores e favoreceria a ocorrência de curto-circuito. A outra possibilidade - aventada por aqueles que estão diretamente ligados às operações, ou seja, os trabalhadores - é a presença de roedores nas instalações.
Por experiência própria, os trabalhadores sabem que os ratos, atraídos pélo açúcar que acaba cobrindo os fios elétricos, costumam roer os cabos até atingir o metal condutor de eletricidade e produzir faíscas. Essas faíscas podem atingir o açúcar que corre pelas esteiras, fazendo o fogo se expandir rapidamente. Sem contar que o açúcar, a exemplo da lona e da borracha, é também um produto de alta combustão.
O curioso é que quem trabalha no cais sabe disso há muito tempo. E que, provavelmente, essa foi uma das causas do incêndio que destruiu seis armazéns do Terminal Açucareiro Copersucar, no dia 18 de outubro do ano passado. Mas, ao que parece, nenhuma providência foi tomada à época para evitar a repetição de um desastre que pode colocar em risco não só os navios atracados no terminal como as vizinhanças, além de causar danos ambientais, como a morte de peixes e da fauna marinha.
É de lembrar que as empresas que operam os terminais - Rumo Logistica (Cosan), Copersucar e Cargill - precisam redobrar a vigilância em suas normas de segurança, pois a ocorrência ferquente de acidentes não contribui para a imagem do País, o maior exportador do produto. Precisam cumprir também rigorosamente as normas de higiene, com processos periódicos de dedetização e desratização.
Até agora, as empresas têm investido mais na revitalização da malha ferroviária para melhorar o transporte do commodity até o cais de Santos, que escoa pelo menos 70% do produto cujos destinos principais são África, Oriente Médio e Rússia. A outra preocupação é aperfeiçoar o carregamento durante o período de chuvas, com a instalação de capas retráteis sobre os porões dos navios e nos berços de atracação dos terminais. A partir de agora, espera-se que a segurança esteja entre essas preocupações. E que não venham a se repetir semelhantes desastres.
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(*) Mauro Lourenço Dias, engenheiro eletrônico, é vice-presidente da Fiorde Logística Internacional, de São Paulo-SP, e professor de pós-graduação em Transportes e Logística no Departamento de Engenharia Civil da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). E-mail: [email protected] Site: www.fiorde.com.br
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