Às 19 horas já estava claro que o salão de atos do colégio Rosário seria lotado. As expectativas dos organizadores do comitê gaúcho e dos militantes estavam se cumprindo: mais de 1000 pessoas, vindas de várias partes do estado, se fizeram presentes para confirmar a força do movimento no Rio Grande. Realizado na esteira dos vitoriosos atos do RJ, SP, Goiânia e Belém, o ato gaúcho contou com ativistas de diversas categorias que deram um novo impulso para a construção do novo partido. Assim, um dia que começou com as greves dos policiais civis - que completavam seu quinto dia de greve - e seguiu com a assembléia dos trabalhadores em educação no Gigantinho, com cerca de 15 mil trabalhadores decidindo pela deflagração da primeira greve da categoria durante o governo Rigotto, foi completado com a afirmação da necessidade da construção de uma alternativa de esquerda e socialista diante da falência do PT como partido defensor dos trabalhadores, cujo giro à direita foi mais uma vez confirmado com o escândalo de corrupção Waldomiro Diniz, ao aprofundar sua aliança com parcelas da burguesia representadas no capital financeiro e nas oligarquias corruptas dos Sarney, ACM, Jader Barbalho e, como se não bastasse, pela reafirmação da política econômica de ajuste, mesmo diante da queda do PIB e da redução da popularidade do governo. No ato estavam presentes centenas de ativistas dos trabalhadores em educação. Com as bandeiras do CPERS/Sindicato, cantaram seu hino da greve (quando Neida Oliveira, em nome dos ativistas do CPERS usou a palavra no ato) e deixaram claro que estão empenhados na construção de uma nova ferramenta, uma convicção iniciada já no governo estadual de Olívio Dutra, quando esta mesma vanguarda encabeçou a greve de março de 2000. Neida, a principal liderança do sindicato, lembrou que naquela ocasião Luciana Genro havia enfrentado a primeira punição no PT por apoiar os trabalhadores em educação. Também esteve no ato uma pequena representação dos grevistas da Polícia Civil. Junto com os trabalhadores em educação estavam os trabalhadores da previdência, os ativistas da greve nacional de 2003. José Campos, dirigente do sindicato e uma das mais importantes referências políticas do Estado (recentemente se desligou do PSTU junto com militantes históricos deste partido para ajudar a fundar o movimento pelo novo partido) foi um dos oradores da noite, afirmando o caráter anticapitalista do movimento e sua ligação profunda com a vanguarda lutadora. Também o ato contou com a presença de ativistas de vanguarda dos correios, de vários setores do serviço público e suas entidades, como Andes, Unafisco, Sindicaixa, Febem; trabalhadores rodoviários, da Varig, e os comerciários de Santa Cruz, uma representação de observadores do ATTAC do RS, sendo Carla Ferreira a mais conhecida e os responsáveis pela revista de esquerda "Porém". No público, encontravam-se professores como Luiz Miranda e Luiz Lopes, vários advogados, lideranças do movimento popular, feministas e militantes independentes como Jussara Cabeda e Ana Elusa, o ex-dirigente do PT gaúcho Cláudio Hiran, e outros de muita tradição do PT. Na mesa, estava representada a riqueza do movimento. Os quatro parlamentares foram recebidos com merecida e calorosa festa. Sua jornada havia começado cedo, com inúmeras entrevistas em rádios e televisões. Em dupla ou todos juntos seguiram um roteiro que contou, além de entrevistas, com visitas a greves e assembléias: a greve da Polícia Federal, da Polícia Civil, a assembléia do IBGE e dos trabalhadores em educação, com seus mais de quinze mil presentes, sendo também aí recebidos com muito apoio. No ato todos eles usaram a palavra e ressaltaram a necessidade do novo partido, a importância das lutas, a necessidade de organizar uma alternativa capaz de apresentar propostas de ruptura com o FMI e o capital financeiro, capaz de enfrentar o latifúndio e os grandes capitalistas. Praticamente todos os oradores lembraram a importância do nome de Heloísa para as eleições de 2006. Ao mesmo tempo todos deixaram claro que não somos o partido das eleições, mas da organização e da luta dos trabalhadores pelos seus interesses, o que inclui também a participação inteligente nas eleições e a capacidade de apresentar também neste terreno um pólo de referência. Nas palavras de Luciana Genro, tal participação significa, sim, apresentar um nome forte para dizer claramente para os trabalhadores e o povo pobre que somente com a organização e a mobilização dos próprios trabalhadores se poderá conquistar um governo dos próprios trabalhadores, somente assim poderão os trabalhadores mesmos tomar o poder e mudar o país, construindo uma república socialista. Usaram a palavra, ainda, os representantes do movimento do novo partido que atuam no Andes, o professor Lucas Gonçalves, que atualmente preside a entidade; na Unafisco, representados pelo companheiro Marcelo; no Sindisprev, representados por José Campos; no CPERS, através de Neida Oliveira; e Israel Dutra pela juventude. Vindos de outros estados, tivemos a satisfação de contar com a presença e escutar o companheiro Milton Temer, ex-deputado federal do PT e por duas vezes candidato da esquerda do PT à presidência do partido quando ainda se podia polarizar no PT por um curso à esquerda; Temer hoje é parte da Comissão Nacional pelo novo partido. Junto com Temer, tivemos a presença do combativo dirigente socialista Martiniano Cavalcanti.
De Goiás, veio a Porto Alegre para prestigiar o ato e se dirigiu para os militantes gaúchos com um forte chamado à necessária luta contra a barbárie capitalista. Somado a muito trabalho, o ato teve também seus momentos de arte: a música Construção e a declamação de uma parte do poema de Morte e Vida Severina. A coordenação do ato ficou por conta de Érico do Sindicaixa, Giussepe do Sindprev e Roberto, da Comissão Nacional. No início, a palavra foi aberta para uma intervenção do PSTU (partido que optou por não participar do movimento unificado constituído em 19 de janeiro de 2004 no Rio de Janeiro e vem se dedicando ao seu próprio movimento desde novembro de 2003) e para uma calorosa saudação do jovem deputado da esquerda socialista argertina, o companheiro Tomas Devoto, do agrupamento "povos em luta", deputado de Buenos Aires, cuja intervenção assinalou a necessidade de um partido que reagrupe a esquerda socialista Argentina, como estamos começando aqui. Tal necessidade de reagrupar a esquerda socialista deveria ser um fator de reflexão e ação para a esquerda petista. Não tem sido o caso, infelizmente.
Como todos sabem, no ato pelo novo partido em SP, na sexta-feira, dia 19, foram mais de 700 pessoas e muitas das quais petistas lutadores que querem defender as bandeiras históricas do partido abandonadas pela cúpula do PT e pelo governo. Pois como se tentassem concorrer com o movimento pelo novo partido, as correntes da chamada esquerda petista realizaram no dia seguinte ao ato pelo novo partido em SP um evento que supostamente serviria para construir um pólo de debate por alternativas de política econômica. Foram vários deputados presentes e um público com cerca de 600 pessoas. Na mesa, além de deputados da chamada esquerda petista, entre os quais João Alfredo, Chico Alencar, Ivan Valente, economistas próximos do PT como João Machado, havia também deputados do campo majoritário, como José Eduardo Cardoso e representantes do governo, como o ministro Patrus Ananias. O resultado da reunião foi o esperado: críticas à política econômica, mas com claras explicações de que não estavam em oposição, nem ao governo, nem ao ministro Palocci. Um resultado nem quente, nem frio: morno. Tudo, portanto, muito diferente do ato do movimento pelo novo partido em SP, realizado um dia antes do morno evento petista. Na sexta, foi reafirmado, sem medo, a necessidade de lutar por uma alternativa de ruptura com o FMI e o capital financeiro, chamando os partidos e políticos corruptos por seus nomes. O Rio Grande do Sul seguiu na mesma trilha quente da sexta paulista.
Foram mais de 1000 pessoas. Nas palavras de Heloísa Helena, a última e mais esperada oradora do evento, "somos aqueles que têm lado, o lado do trabalho contra o capital". Por isso, contamos com a presença notável da juventude.
Além dos jovens presentes de vários setores, cidades e categorias, entraram organizados possivelmente cerca de 100 jovens cantando palavras de ordem anticapitalistas. Com bumbo, faixas e cantos foram os principais agitadores do evento. Vale lembrar que estes mesmos jovens foram vanguarda da luta contra os aumentos das passagens de ônibus em Porto Alegre e em defesa da educação pública em Pelotas. Um momento importante do evento gaúcho foi quando lideranças estudantis petistas que haviam se desligado do MÊS, quando este resolveu romper com o PT, anunciaram a adesão ao movimento por um novo partido. São lideranças estudantis como Gilvandro Antunes, diretor da UNE, Danilo, coordenador do DCE da Unisinos, e outros ativistas estudantis que enriquecem agora com sua presença este movimento inaugurado e celebrado em Porto Alegre neste histórico de 26 de março. Estes camaradas mostraram seu grande valor socialista com este passo. Finalmente, como homenagem a inúmeros socialistas de outros países presentes no ato e que estão ajudando a construir o movimento por um novo partido no Brasil (Pedro Fuentes, Roberto Ponge, Charles André Udry, Enrique Morales, Adolfo Santos) e como afirmação da necessidade do internacionalismo na construção desta nova alternativa, o ato foi encerrado com o hino da Internacional Socialista. Cerca de 900 pessoas, de pé, levantaram suas vozes para afirmar a continuidade da luta e da tradição do movimento dos trabalhadores e do socialismo internacionalista.
Roberto Robaina, da Comissão Nacional Do boletim da Luciana Genro
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