Com a costumeira desfaçatez, o presidente Lula tenta fugir à responsabilidade, inequívoca e exclusivamente sua, de ter contratado uma crise com os militares ao desautorizar o comandante da Aeronáutica, que havia mandado prender os sargentos controladores de vôo insubordinados.
Certamente após ter sido avisado por seus muitos e incompetentes assessores - e onde estava a ministro da Justiça nesta hora? - que havia despertado a ira da caserna, além de ter incorrido em crime de responsabilidade, Sua Excelência tenta agora encobrir a verdade dizendo que os controladores agiram de modo traiçoeiro. Mas a desculpa destoa da realidade, porque foi Lula quem sublimou a autoridade do comandante da Força e a transferiu ao ministro do Planejamento, Paulo Bernardo.
Seis meses de incúria no trato de uma questão que a burocrata Dilma Roussef, ministra-chefe da Casa Civil, encarregada de cuidar do caos, longe de corresponder à competência que seria de se esperar de alguém com tanto poder, havia classificado como algo simples de resolver. Simples para quem, cara-pálida, se seu chefe nem sequer consegue demitir Waldir Pires, ministro da Defesa, que já deu sobejas e irrefutáveis provas de sua magnífica incapacidade?
Os controladores perderam a razão quando partiram para a ignorância, pode-se dizer, cometendo crime de insubordinação, do qual foram liminarmente absolvidos por Lula, ao impedir sua prisão e quando mandou seu ministro e uma diretora da Agência Nacional de Aviação Civil ANAC negociarem com eles sem a presença dos chefes militares. Não é possível que um ministro de Estado ignore algo tão óbvio como a hierarquia militar, não pode ser. Talvez Bernardo tenha sido progressivamente anestesiado pela leniência e patrocínio deste governo com ações descaradas de afronta ao estado de direito, como os atos de bandidagem do MST, que na semana passada mantinha uma família inteira em cárcere privado em Santana do Araguaia (PA), onde não há sequer delegado de polícia.
Tudo isso é também reflexo da tomada de assalto, vulgo aparelhamento, da máquina estatal por protegidos indicados por todos os partidos da famosa coalizão administrativa, cantada em prosa e verso pelo presidente Lula e pelo deputado pemedebista Michel Temer, entre outros. Vale a indicação política; jamais, com raras exceções, o currículo profissional. Vale o aparelhamento dos cargos estratégicos da Câmara, a começar pela presidência da Casa na figura de Arlindo Chinaglia, que se recusa a instalar a ComissãoParlamentar de Inquérito (CPI) que deverá investigar as razões, que podem profundas em todos os sentidos, do descalabro em que se encontra a aviação nacional.
Estes são os heróis de Lula, os homens e mulheres que desfazem o Brasil, que desonram mandatos que não lhes pertencem e mudam as leis, se preciso, para se perpetuarem em suas práticas malsãs.
O presidente Lula vai à televisão para pedir (mais) paciência jamais se desculpar -, como se seis meses já não fossem uma generosa demonstração de tolerância por parte dos prejudicados. Certamente se esquivará de empregar a expressão nunca antes, que deveria preceder as palavras ...o país passou por algo parecido.
Pode-se dizer, com propriedade, que nunca antes neste país um presidente chegou ao ponto de receber, merecidamente, um ultimato do Clube da Aeronáutica, que ameaça ir ao Supremo, agora sim com data e hora, 21 horas de quarta-feira, 4 de abril de 2007, exigindo sua deposição caso não reveja sua posição.
A diretora da ANAC, Denise Abreu, fumando charuto numa festa de casamento enquanto os usuários passavam apuros nos saguões dos aeroportos remete à lembrança da deputada-dançarina Angela Guadagnin, que rebolava no Congresso enquanto a sociedade era afrontada com a absolvição de mais um deputado mensaleiro. Uma reprise daquele deboche, acrescida de cavalar dose de incompetência e descaso. Talvez mais que isso, a moça é um ícone deste governo apocalíptico.
Luiz Leitão
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