Wilza Carla, a Gisele Bündchen de minha adolescência

– Vênus de Willendorf – Trata-se de uma estatueta encontrada em 1908, na região de Willendorf, Áustria. Teste de carbono 14 revela que tal obra de arte foi esculpida há, aproximadamente, 28.000 anos e, naqueles tempos pré-históricos, representava o mais significativo padrão de beleza e fertilidade humana. Assim, vulva, coxas, seios e barriga excessivamente volumosos refletiam os conceitos de fertilidade e abundância, na condição de uma vênus: deusa da beleza e do amor.

  

por Fernando Soares Campos


Na década correspondente aos anos 1960, vivi as fases referentes às minhas pré e plena adolescências. Naquele estágio de transição para a vida adulta, eu ainda não tinha total percepção dos procedimentos que determinavam a evolução psicossocial de alguém. 

 

Tratando especificamente de minhas preferências e decisões em relação às atividades sexuais, eu costumava escolher minhas companheiras para o namoro e relacionamento íntimo (fosse para relação pessoal corpo a corpo, ou para “recreação” por meio de solitária fantasia) com base em critérios superficiais, como a aparência física e a idade. “Até aí morreu Neves”, diria o leitor. Entretanto, no meu específico caso, é aí que entram dois fatores a serem analisados com profundidade e acuidade psicanalítica. Refiro-me às minhas preferências sobre a idade e a aparência física das eleitas.


Bem distinto daquilo que, em geral, meus amigos adolescentes almejavam, ou seja, mulheres que exibissem padrões de beleza hollywoodiana, enquanto eu sentia fortes pulsões sexuais pela mais rechonchuda celebridade artística da época, alguém que poderia ser identificada e associada à imagem da Vênus de Willendorf, a atriz e comediante brasileira Wilza Carla, que, em seus “bem distribuídos” 160 kg, inspirava-me a lhe “prestar homenagem” durante o banho.


Quanto à preferência pela idade, mesmo ainda vivenciando aquela fase de adolescência, já havia quem me classificasse como “balzaquiano”. E não era sem razão, tinha tudo a ver, pois, diante de uma mulher amadurecida e de fala ligeiramente rouca (que ninguém me pergunte o porquê de tal fixação, simplesmente porque eu não saberia responder), quase sempre eu me sentia estimulado ao ponto de os sintomas da estimulação serem tão flagrantes que não me permitiam dissimular tal alteração do meu estado de ânimo.

Somente depois dos vinte anos de idade e uma rápida experiência conjugal (traumática) com uma mulher vinte e cinco anos mais velha que eu e com o peso bem acima do recomendado para sua estatura, foi aí que o meu senso de estética e beleza e o interesse por determinados perfis foram, pouco a pouco, mudando, até eu passar a me interessar prioritariamente pelo estereótipo hollywoodiano, à base de “Minha garota é Mae West e eu sou o Sheik Valentino” (Rita Lee, em “Flagra”).


O tamanho do documento


Em se tratando das duas estátuas em forma de pênis, com 60 metros de altura cada, no templo de Vênus, em Herápolis ao lado das quais encontra-se a inscrição “Consagrei estes falos a Hera, minha sogra”, até o presente não se obteve esclarecimento sobre tal distinção. Entretanto, podemos imaginar que, sendo Hera esposa de seu próprio irmão Zeus, com quem constantemente discutia devido às aventuras amorosas do Supremo Deus do Olimpo, era também mãe de duas deusas: Ilítia e Hebe. Esta segunda casou-se com seu meio irmão Héracles (Hércules, na mitologia romana), um semideus, que também era filho de Zeus, mas não com sua esposa Hera, e sim com a mortal Alcmena.


Na Grécia Antiga, foi escrito um poema intitulado Escudo de Héracles, em que se menciona Alcmena, sua mãe, como a mulher mortal mais bela do mundo. Em se tratando de beleza plástica, Alcmena competia com a deslumbrante Hera, sogra do seu filho. Assim, a frase “Consagrei estes falos a Hera, minha sogra” pode ter sido proferida por seu genro Héracles, num gesto que deve ter sido a forma como este finalmente resolveu seu “complexo edipiano”, transferindo para Hera a pulsão sexual que o impelia a um incestuoso relacionamento com a própria mãe, Alcmena. Bem, isso é tão somente um palpite, pois ninguém mais que o poeta Homero, nascido na Jônia, no século VIII a.C., autor dos mais conhecidos poemas épicos da Grécia Antiga, Ilíada e Odisseia, poderia confirmar tal sugestão.


A verdade sobre Édipo e o enigma da Esfinge


Em dezembro de 2006, publiquei, no diário espanhol La Insignia, artigo intitulado “A verdade sobre Édipo e o enigma da Esfinge”, no qual destaquei as seguintes informações e minhas próprias impressões sobre as escolhas de nossas parcerias conjugais: “Pesquisa realizada pela Universidade do Rio Grande do Norte e corroborada por banco de dados do IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - revela que as chances da mulher brasileira se casar depois dos 30 anos de idade são consideravelmente reduzidas. Segundo as informações coletadas, aos 35 a mulher conta apenas com 19% de probabilidade de levar um homem ao altar ou ao juiz de paz. Aos 45 ela tem mais chances de acertar numa das loterias da Caixa do que realizar seu sonho de amarrar um parceiro pelos laços matrimoniais (acertando na loteria, provavelmente suas chances voltam a se equiparar às de uma sensual jovem de 18)”

 

(...)

 

“Na verdade, em se tratando de casamento, essa questão encerra um intrigante paradoxo, pois (acredite) tanto o homem quanto a mulher preferem companhias mais maduras, por representarem quadros psicológicos de pessoas supostamente mais experientes. Além disso a imaturidade não é fator de atração sexual; exceto para os pedófilos, uma perversão que foge àquilo que predomina na natureza humana. Porém, se ambos decidissem impor suas preferências, ou seja, homens buscando parceiras mais maduras, e mulheres igualmente procurando conquistar homens de idade superior às suas, estaria criado um impasse, nem um nem outro encontraria o parceiro ideal. Por isso, desde o princípio das civilizações, tornou-se necessário que um dos dois fizesse predominar a sua vontade.”


Sobre essa questão, lá no encerramento do artigo, arrisco dizer que... 

 

“Apesar de ser, como toda mulher, electriana, Jocasta foi obrigada a se casar com Édipo. Certamente, se dependesse de sua vontade, teria desposado alguém bem mais velho. Porém a descoberta de que Édipo era seu filho culminou com suicídio de Jocasta, condenando todos os homens a optarem por mulheres mais novas e, como medida de segurança, limitando o mais cobiçado objeto de consumo de todos os tempos a um prazo de validade máximo de 30 anos”.

 

Fernando Soares Campos é escritor; atualmente, aos 73 anos, cursando psicanálise clínica (via modalidade EaD em ambiente virtual), pelo - IBPC - Instituto Brasileiro de Psicanálise Clínica - Campinas (SP).

 

 


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Fernando Soares Campos