por Fernando Soares Campos
Provas da existência de Deus, na forma em que ateus e deístas exigem, precisariam ser corroboradas pela ciência. Somente os fanáticos de qualquer orientação doutrinária, aqueles que se acomodam a uma ditadura dogmática, creem naquilo que, para eles, não se deve contestar a existência, nem mesmo por meio de uma proposta de representação especulativa. O problema é que a ciência nem sempre comprova a existência daquilo que ela própria diz existir ou ter existido. Em razão disso, muitos homens de ciência também impõem dogmas, certamente sob argumentações falaciosas. Isso ocorre, provavelmente, por mero orgulho próprio, ou mesmo pelo equivocado sentimento corporativista em defesa dos interesses da classe profissional a que o indivíduo pertence.
Ao formular uma teoria, mesmo que seja de caráter científico, podemos partir de premissas fundamentadas em indícios verificados na ocorrência de acontecimentos factuais. Prosseguimos considerando possíveis resoluções de cálculos e equações matemáticas, verificamos dados estatísticos que incidam sobre o objeto teórico e submetemos as conclusões a princípios filosóficos que redundem em raciocínio lógico. Pode-se até mesmo lançar mão de recursos literários, com o propósito de tornar a teorizadora proposta o mais inequívoca possível. Também precisamos considerar os critérios aplicáveis à distinção entre aquilo que possa ser tido como ciência, não-ciência, ou mesmo ao que tratarmos por pseudociência. Devemos, ainda, fazer clara distinção entre os conceitos religiosos e filosóficos em confronto com as leis da Física e da Biologia. Dessa forma pode-se conduzir a elaboração de uma teoria evidenciando o seu caráter “científico” ou “não científico”.
Pelo visto, como já dissemos em outras ocasiões, quando nos encontramos na bifurcação entre criacionismo e evolucionismo, pretendendo tomar um desses caminhos, precisamos criar, pelas vias de uma investigação transcendente às realidades manifestas, o "elemento" que deu origem a um ou outro processo tido como criacionista ou evolucionista. E acredite nele quem tiver imaginação.
Vejamos, por exemplo, a Teoria do Big Bang, que se desdobra em duas matrizes, a do Big Bang Quente e a do Frio, ambas permeadas de adendos que tentam corrigir ou complementar as ideias sobre a origem e evolução do Universo.
Analisando a Teoria do Big Bang, pode-se constatar que os métodos tidos como científicos, aplicados na sua elaboração, não se enquadram nas determinações de uma metodologia científica, mas são simplesmente explicáveis por "terminologias” científicas. Porém, nesse específico caso, nem mesmo a terminologia empregada pode ser considerada genuinamente científica, pois tratam de um ponto no Nada (um espaço inexistente), ou, como querem, no espaço atemporal (um possível absurdo geométrico ou mera representação artística). Daí, enchem o ponto no Nada de partículas subatômicas que teriam vindo do Nada e tratam de suas reações, sem determinar a ação inicial, a causa que teria gerado combinações “aleatórias”. Tudo isso sempre usando uma suposta terminologia científica.
Acontece que tudo leva a crer que o universo conhecido não é único nem existe em número limitado. Os universos são infinitos, multiverso, ao infinito, em infinitas dimensões cósmicas. Isso é o que podemos imaginar, baseados nos avanços científicos desta Era Quântica. O problema é que, apesar de desejarmos ou acreditarmos na sobrevivência da alma por toda a eternidade, não apreciamos as ideias de infinito e eternidade. Pensar em infinito e eternidade pode nos levar a pensar no Nada, aquilo que existe não existindo, o que pode nos induzir o pensamento de que nem mesmos nós existiríamos concretamente.
Ao imaginarmos o espaço infinito, estabelecemos, inconscientemente, um “início” da infinitude, sempre a partir da nossa própria existência material, ou seja, sempre concebendo um começo sem fim, de nós para o infinito. Isso contraria o conceito fundamental das palavras “infinito” e “eternidade”, que, em suas definições, deve constar “aquilo que não tem começo nem fim”.
Partindo de nós, tendemos a pensar sob uma visão de macro infinito, sem assimilarmos, simultaneamente, a posição simétrica do segmento que parte de nós para o micro infinito (o infinitesimal), pois tudo parece partir de nós para o universo conhecido, visível e tangível. Dessa forma, nos colocamos, por assim dizer, como sendo o centro do Universo, na condição de um deus, ou mesmo de Deus, o que não é de todo errado, como já vimos em capítulos anteriores.
Imaginemos uma estrela (corpo esférico) irradiando sua luz em todas as direções, seus raios percorrendo o espaço em direção ao macro infinito (macro universo). Agora tentemos imaginar esses raios em movimento oposto, em direção ao micro infinito (micro universo, o infinitesimal). Provavelmente, ao imaginar esse movimento retrocedente, paramos no ponto de luz (nesse caso, a estrela). Visualizamos o cintilante objeto esférico, a partir do qual emanam raios luminosos. Entretanto, não estou me referindo simplesmente aos raios visivelmente externos em relação ao ponto de luz, no caso, a estrela. Refiro-me ao sentido interno do ponto de luz, quero dizer que precisamos projetar mentalmente o sentido do raio indo ao infinito pela via macro infinita e também sua propagação ao micro infinito (o infinitesimal). Podemos, dessa forma, imaginar que a luz da lâmpada que desligamos "nunca se apagaria", em nenhum sentido: nem do ponto de iluminação para o macro universo, nem desse mesmo ponto para o micro universo. Os raios simétricos levam a luz de sua fonte geradora para o infinito externo, mas aí temos o ponto de partida, o começo, portanto ainda não estamos falando propriamente de infinito (infinito não tem começo nem fim). Estaríamos tratando de um ponto num segmento de reta em direção ao macro infinito, com suas partes simétricas no sentido oposto.
É provável que o maior engano do pensamento metafísico de quem tenta explicar a origem do Universo através da Teoria do Big Bang consiste em falar de suposto espaço sem tempo, espaço atemporal, o que equivale ao Nada.
Acreditamos que o espaço sem o tempo pode ser considerado apenas uma especulação meramente simbólica, representando uma situação em que, na realidade, não caberia a presença de um ser concreto.
A Teoria do Big Bang considera a inexistência do espaço e do tempo antes da explosão do Átomo Primordial e sugere que somente a partir desse fenômeno teria sido criado o espaço-tempo, induzindo o leitor a fazer algum malabarismo mental e, assim, tentar colocar-se do lado de fora do Embrião do Universo, gestado no ventre do Nada, para apreciar o momento da explosão e expansão deste mesmo universo. Nesse caso, solicita uma posição praticamente impossível até mesmo de se imaginar, porque o espaço sem tempo e o Nada têm, basicamente, a mesma "não-essência"; deles não se encontra qualquer parâmetro possível a uma conclusão lógica, mesmo que engendrada sob o mais falacioso silogismo. Resta-nos, portanto, a possibilidade de uma visão artística, planificada, como concebemos a imediata tridimensionalidade (altura, largura e profundidade) a que estamos acostumados a "tangenciar" com a alma. Porém, esse tangenciar é indissociável de uma intuição ainda mais ampla, pois implica sentir, o mais profundamente possível, a quadrimensionalidade conforme Einstein.
Podemos nos colocar em posição de observador dos aspectos interiores do universo conhecido, mas a observação exterior desse universo só seria possível através da imaginação caso se considere o espaço e o consequente tempo. Precisa-se de muita imaginação para colocar-se no Nada, simplesmente porque não podemos concebê-lo.
Como não temos parâmetros sobre os quais possamos tratar do infinito espacial em separado da eternidade, não podemos, portanto, estabelecer a origem do Universo a partir de qualquer teoria que exija a idealização de um "espaço sem tempo", pois todo espaço pressupõe o desenvolvimento de suas dimensões e consequente tempo para percorrê-las. Mesmo um segmento de reta (espaço unidimensional) evoca o tempo que se necessita para percorrê-lo. Daí, conforme já expusemos, podemos ter uma noção conceitual de infinito, que é o espaço que necessita da Eternidade para ser totalmente percorrido. E Eternidade é o tempo necessário para se percorrer o espaço infinito. São, portanto, inseparáveis.
Se o espaço cósmico é infinito, isso significa que qualquer ponto nesse espaço é o seu começo e o seu fim simultaneamente.
Se o transcurso do tempo é um fenômeno eterno, um átimo de segundo desta eternidade é o seu começo e fim simultaneamente. Tal fato caracteriza-se pela ação do eterno presente transformando, instantânea, incessante e eternamente, o futuro em passado. Por isso, conseguimos falar em perpetuidade como sendo aquilo que tem começo, mas não tem fim, simplesmente porque estabelecemos um começo da infinitude, que é, ao mesmo tempo, começo e fim (perpétuo é aquilo que foi eternizado). Portanto, se dividirmos o infinito-eterno ao meio, teremos dois infinitos-eternos, visto que, se imaginarmos um ponto, uma reta ou um plano e colocarmos qualquer deles como representação da imaginária fronteira (espaço-cisão) do infinito-eterno, seria ele começo e fim concomitantemente. Basta que recapitulemos a questão dos raios simétricos que vão simultaneamente em direção ao macro infinito (ou macro universo) e ao micro infinito (ou micro universo), tendo como ponto de partida essa fronteira imaginária. Assim, talvez possamos sentir com maior profundidade a dimensão espaço-temporal, de acordo com a quadrimensionalidade einsteiniana, mas sem qualquer implicação relativista submetida a conceitos da Mecânica Clássica ou de probabilística quântica. Apenas captando esta visão e sentimento imediatos de tridimensionalidade indissociável da transcursão do tempo.
Cientistas de todo o mundo analisam e debatem sobre a ideia de que viveríamos num Universo Holográfico. É como se este Universo observável fosse um infinito holograma. Entretanto, isso não quer dizer que somos meros espectros, imagens flutuantes formadas por zilhões de pixels, como num computador. Não é bem assim. Felizmente, não somos meros reflexos de objetos materiais criados por específicas incidências de feixes de luz.
A tese do universo holográfico, conforme pudemos compreendê-la, tende a revelar que este mundo em que vivemos pode ser, concretamente, uma projeção material (teletransporte), cópias, de nossas próprias vidas em outras dimensões cósmicas, universos paralelos, onde vivem os elementos originais. Se assim for, a proposta da física quântica sobre o tempo pode revelar que vivemos, simultaneamente, as três dimensões temporais (presente, passado e futuro). Se tal condição for comprovada, isso refutará a nossa convicção sobre a existência do tempo conforme sentimos sua transcursão.
Tudo faz crer que o fenômeno espaço-temporal se caracteriza pela sucessão de eventos dos quais participamos (direta ou indiretamente) e os teríamos memorizado, visto que, ao nos tornarmos testemunhas ou mesmo protagonistas dos acontecimentos, estes nos teriam marcado por algum grau de emoção, com impacto afetivo ou moral. Isso pode indicar que sentimos o verdadeiro transcurso do tempo por meio das lembranças dos acontecimentos em que nos envolvemos direta ou indiretamente; não pelas sucessões de anos, meses, semanas, dias, horas, minutos e segundos. Tais segmentos temporais, tidos como unidades de tempo, foram inteligentemente criados para nos servir de referência sobre as projeções e organização de nossas atividades pessoais.
Muitos de nós vivemos (sentimos a vida) como se estivéssemos vivenciando o passado, ou nos projetamos mentalmente para o futuro. Na maior parte do tempo nos abstraímos do presente. Em ambos os casos, estaria ocorrendo uma inútil e inconsciente tentativa de o indivíduo evitar ou corrigir erros cometidos por si mesmo, em prejuízo próprio ou de terceiros. Por esse meio, tentaríamos corrigir um erro de cálculo, uma injustiça, uma imprudência cometida no passado. Contudo, em vista da impossibilidade de realizar tal ação, isso pode gerar angústia ou mesmo profunda depressão, tudo afetado de certa "síndrome de culpa", que logo se transforma em “busca dos culpados" pelos seus infortúnios.
Déjà vu é aquela sensação de que já vivemos certos acontecimentos que parecem estar se desenrolando outra vez, “neste” outro momento. Déjà vu é o presente acontecendo com todos os detalhes de um acontecimento passado. É como se estivéssemos acessando aquela lembrança fixada num dos departamentos da nossa memória. Parece o replay de um momento do passado. Esse fenômeno, tão comum entre nós, pode ser um momento em que, acidentalmente, a nossa consciência acessa a dimensão "passado" e temos a sensação de já ter vivido aquela cena em todos os seus detalhes.
Diante do exemplo da imaginária divisão do infinito-eterno, teorizando que, ao dividi-lo imaginariamente, obtêm-se dois infinitos-eternos, podemos concluir que, se continuarmos dividindo esses infinitos-eternos em progressão geométrica, obteremos um infinito número de infinitos-eternos. Esta é a característica fundamental do tipo de holograma mais conhecidos, aquele em que cada parte contém ou reflete o todo. O mistério persiste apenas até determinarmos a fronteira imaginária entre as partes. conforme já dissemos: se dividirmos o infinito-eterno ao meio, teremos dois infinitos-eternos, visto que, se imaginarmos um ponto, uma reta ou um plano e o colocarmos como representação da imaginária fronteira (espaço-cisão) do infinito-eterno, este marco seria, concomitantemente, o começo e fim “do infinito e, consequentemente, “da eternidade”. Basta que recapitulemos a questão dos raios simétricos que vão simultaneamente em direção ao macro infinito (ou macro universo) e ao micro infinito (ou micro universo), tendo como ponto de partida essa fronteira imaginária. A partir daí, ao analisarmos a representação gráfica de um holograma, precisamos pensar nele com o sentimento (intuição) de um espaço, não apenas tridimensional, mas, sim, quadrimensional (sentimento espacial e temporal). Quer dizer: imaginando o movimento a partir de uma das infinitas partes para outra de forma quadrimensional. Temos, então, como imaginar a nossa passagem de uma dimensão cósmica para outra.
Deus não é apenas essencialmente bom, ou o Bem, conforme entendemos essas palavras, ou de acordo com os significados que lhes atribuímos a nosso bel-prazer. Deus está acima do Bem e do Mal. Acontece que, entre nós, quando dizemos que alguém está acima do bem e do mal, queremos dizer que esse alguém é a personificação da arbitrariedade, com as inevitáveis associações ao que é violentamente despótico, atendente a interesses e caprichos pessoais. Porém, ao nos referirmos a Deus como um ser acima do Bem e do Mal, queremos dizer que Deus é perfeitamente justo, que a Justiça Divina não se limita a conceitos de bem ou mal, bom ou mau, certo ou errado, de acordo com os nossos interesses imediatos. Deus ― não personificado ― é a essência da própria Justiça Divina, e esta responde por todos os demais atributos de Deus, em que se destacam: onipresença, onipotência e onisciência. A nossa própria consciência é, por natureza, o repositório da Justiça Divina, entretanto ela é apenas uma entre todas as faculdades humanas em fase evolutiva, tanto que a Psicanálise identifica subsistemas, ou departamentos, da nossa consciência. Porém, mesmo embotada por falsos juízos alicerçados em preconceitos ― estes, por sua vez, frutos do nosso desejo individual, coisa muito natural ―, essa consciência em evolução pode assimilar que aquilo que para a nossa individualidade é bom ou mau, é o bem ou o mal, o certo ou o errado, pode apresentar-se com sentidos invertidos em outros indivíduos, ou seja, em outras consciências. Isso me parece tão evidente que acredito ser desnecessário expressar qualquer tipo de exemplo.
Somos a semelhança de Deus; não, iguais a Ele; apenas semelhantes porque caminhamos para a perfeição. E, graças à perfeição da Justiça Divina, nunca chegaremos lá, jamais seremos iguais a Deus. Ser igual a Deus seria descortinar o infinito (impossível), tendo, por assim dizer, vencido a eternidade (igualmente impossível). Seria o fim, a inércia total do processo evolutivo. Ponto final, a morte no seu mais amplo sentido. Precisamos compreender que o melhor da luta não é a vitória, o melhor de qualquer luta que empreendemos é ela própria, a luta em si. Vida é luta constante, ininterrupta. A vitória representa apenas a dilatação momentânea do prazer, um prêmio fugaz, um orgasmo. Os passos de uma caminhada deveriam ser moderados e continuamente prazerosos. Inclusive os passos aparentemente dados à ré; aparente porque, em todos os sentidos, o movimento nos conduz ao infinito. Se pararmos com intenção de "meditar", não estaremos propriamente estacionados, visto que o ponto de parada, nesse caso, representa uma caminhada em direção ao micro infinito, ao infinitesimal. Paramos de contemplar o mundo exterior e nos voltamos para dentro de nós mesmos. Mas acredito que não devemos, ainda muito jovem, nos enclausurar num mosteiro, numa caverna, ou reclusos no deserto ou no meio da mata, com o propósito de nos tornar ermitões, acreditando que assim seremos capazes de nos transformar em "sábios" gurus; mesmo que o faça com um computador interligado à internet e mantendo-se em interação ideológica com toda a Humanidade.
Já disseram que o homem inteligente aprende com os próprios erros, enquanto o sábio aprende com os erros alheios. Acontece que ninguém nasce sapiente, mas apenas inteligente, com a inteligência, a faculdade de conhecer, compreender e aprender. Portanto a verdadeira sapiência só pode vir com a vivência, a experiência própria do indivíduo. Sábio, entendendo este como sendo um indivíduo com a postura de mero observador, seria apenas aquele que não repete, ou repete o mínimo de vezes, seus próprios erros e, com a consciência de tê-los cometido, consegue identificar, através de processo analógico, os erros que os outros cometeram em áreas distintas às de suas experiências diretas, pessoais; e assim evitá-los, se necessário e possível for.
O Pai, aquele sobre quem Jesus falou, é Deus Personificado, um ser que já encarnou sob diversas condições viventes ― mesmo que, em algumas ocasiões, isso tenha ocorrido em outros orbes, que não seja este nosso Planeta Terra ―. O Pai e o próprio Jesus têm origem determinada, início, são perpétuos, eternizados. Vivem nos "universos holográficos" de acordo com os seus graus de evolução: a parte do holograma universal em que o Pai se encontra abrange a parte holográfica do Filho, o universo deste envolve os hologramas dos "santos", dos espíritos relativamente muito evoluídos, até o holograma em que vivemos sob envoltório material denso. O encaixe dos "hologramas universais" é infinito, assim como os deuses personificados também o são; assim sendo (por ser infinita), essa personificação de Deus faz de cada parte o Todo, pois o Todo está unificado pelo Deus Impessoal: Inteligência Suprema, Causa Primária de Todas as Coisas (realmente infinito, eterno), que emana da fronteira imaginária das infinitas partes holográficas e habita em toda parte sob o conceito de Espírito Santo.
Quando Jesus disse "Vós sois deuses", não estava usando figura de linguagem, fazia referência ao grau de evolução de cada um de nós (hologramas autoconscientes).
Transcrevo a seguir trecho do artigo de minha autoria intitulado "Deus crê em Deus que crê em Deus que crê em Deus...":
"Também o Pai a quem Jesus tantas vezes se referiu não é 'a causa primária de todas as coisas', mas, sim, a personificação de Deus, uma entidade em altíssimo grau de evolução, da qual Jesus é assessor direto para as questões referentes à humanidade terrena. 'Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém pode ir ao Pai senão por mim.' João, 14 - 6.
Quando Jesus afirmou “Eu e o Pai somos Um”, ele fazia referência à união entre as criaturas através do Espírito Santo (Inteligência Suprema, Causa Primária de Todas as Coisas), o Deus eterno e infinito, a Justiça Divina, aquilo de que jamais desvendaremos o mistério de sua natureza íntima em toda extensão; do contrário, não seria eterno, infinito."
A chave da onisciência e da onipotência está na consciência da nossa relativa onipresença. Relativa inclusive para o Deus Personificado, o Pai; para Deus-Jesus, para todos os deuses-santos, deuses-espíritos relativamente bem evoluídos etc. Os supra-humanos, vivendo sob roupagem de matéria quintessenciada.
Ser onipresente, na condição de ser humano, não é poder estar de corpo presente em todos os lugares, também não é a simples ação do fenômeno da ubiquidade (isso também vale para um deus personificado, em qualquer grau evolutivo, até mesmo o Pai). Ser onipresente, para nós aqui na Terra, é respeitar o nosso semelhante (ou igual), é ter consciência de que não somos apenas indivíduos, mas que fazemos parte da Humanidade. Ser onipresente é ter consciência de que aquilo que faço aqui e agora repercute em todo lugar, sem limite preestabelecido, em todo o universo. É, por assim dizer, o "efeito borboleta" que não pode ser facilmente detectado, mas somente intuído. E as nossas ações, quando praticadas sob essa consciência de onipresença, podem nos imbuir de uma sensação de o quanto somos, igualmente de forma relativa, oniscientes, e, daí, aflorar a sensação de onipotência. Basta agora nos impregnar do sentimento de humildade, concluindo que nossa onipresença, tanto quanto a onisciência e onipotência são relativas ao estado evolutivo de nossa consciência.
Conscientes de onipresença são os africanos, que dizem: "Eu existo porque nós existimos", trata-se do princípio da alteridade. E os "civilizados" foram lá ensinar religião a eles. E a nossa filosofia científica também foi lhes dizer: "Penso, logo existo". Ora, as pedras não pensam, mas elas também existem. Talvez fosse mais racional pensar e dizer: "Penso, logo sei formular conceito de tudo que existe", mesmo duvidando desses conceitos, ou, de preferência, sempre duvidando mesmo.
Penso, logo sei formular conceito de tudo que existe ou provavelmente deve existir, inclusive sobre a existência de Deus.
Já foi dito que se a Teoria do Big Bang, naquilo que diz respeito à origem do universo ― não, à simples evolução ― fosse um fato realmente comprovado, não teria mais um caráter especulativo, não seria mais simples teoria hipotética; mas, sim, um tratado científico incontestável, verdade “quase” absoluta, aquilo que ninguém poderia chamar de absurda. Entretanto, com a "verdade absoluta", estaríamos hoje trabalhando mecanicamente, apenas para observar os efeitos do Big Bang e preparar a "lavoura" contra ou a favor de tais efeitos. Não precisaríamos de cosmólogos estudando a origem (causa) do Universo, mas apenas preocupados com a sua evolução, seus efeitos. Seria um trabalho mecânico, tanto quanto trabalhar como operário numa linha de montagem industrial.
Por que o homem de ciência precisa ter fé na ciência? Porque aquilo que a ciência ainda não nos revelou é o que faz ela própria se mover. O que move a ciência não é o que temos cientificamente provado. Aquilo que a ciência ainda não conseguiu provar ou alcançar é o que realmente estimula seus propósitos.
Por que precisamos ter fé na existência de Deus? Porque a verdade absoluta (a certeza, o conhecimento perfeito e incontestável) sobre a sua origem e existência faria de nós "deuses perfeitos", completos, seria o fim, A fé, portanto, não nos impõe dogmas, ou não deveria impô-los; pelo contrário, a fé nos conduz à busca da compreensão do que seja Deus, e isso se traduz apenas em atividade intelectual, não em heresia ou ateísmo. E só temos como assimilar, de forma um pouco mais evidente, aquilo que venha a ser Deus Personificado, que se manifesta na nossa consciência em evolução. E devemos simplesmente reverenciá-lo com o devido respeito, sem necessidade de adoração fanática. O mesmo respeito que devemos ter uns com os outros, imbuídos da consciência de que "Eu existo porque nós existimos". Essa é a mesma reverência que devemos ao Deus Impessoal, à Justiça Divina, Inteligência Suprema, Causa Primária de Todas as Coisas, o Infinito e o Eterno, pois este também não exige de nós qualquer postura de adoração, mas tão somente de compreensão de sua existência, para que nos sintamos, cada vez mais, à sua semelhança.
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Milhões de anos depois da grande explosão do átomo primordial, um povo atravessava o deserto em busca da Terra Prometida. Numa noite estrelada, depois do jantar ao redor da fogueira, o líder daquele povo, um homem que guardava no seu inconsciente a história do mergulho no Universo repleto de galáxias, onde havia imensas nuvens de corpos luminosos e tantos outros iluminados, contaria aos seus seguidores a seguinte história:
1. No princípio, Deus criou o Céu e a Terra. A Terra estava sem forma e vazia; as trevas cobriam o abismo, e o Espírito de Deus pairava sobre as águas. Deus disse: "Faça-se a luz!". E a luz foi feita. Deus viu que a luz era boa, e separou a luz das trevas. Deus chamou a luz dia, e as trevas, noite. Sobreveio a tarde e depois a manhã: foi o primeiro dia.
2. Deus disse: "Faça-se um firmamento entre as águas, e separe ele umas das outras". Deus fez o firmamento e separou as águas que estavam debaixo do firmamento daquelas que estavam por cima. E assim se fez. Deus chamou ao firmamento céu. Sobreveio a tarde e depois a manhã: foi o segundo dia.
3. Deus disse: "Que as águas que estão debaixo do céu se juntem num mesmo lugar, e apareça o elemento árido". E assim se fez. Deus chamou ao elemento árido terra, e ao ajuntamento das águas mar. E Deus viu que isso era bom. Deus disse: "Produza a terra plantas, ervas que contenham semente e árvores frutíferas que deem fruto segundo a sua espécie e o fruto contenha a sua semente". E assim foi feito. A terra produziu plantas, ervas que contêm semente segundo a sua espécie, e árvores que produzem fruto segundo a sua espécie, contendo o fruto a sua semente. E Deus viu que isso era bom. Sobreveio a tarde e depois a manhã: foi o terceiro dia.
4. Deus disse: "Façam-se luzeiros no firmamento do céu para separar o dia da noite. Que sirvam eles de sinais e marquem o tempo, os dias e os anos. E resplandeçam no firmamento do céu para iluminar a terra". E assim se fez. Deus fez os dois grandes luzeiros: o maior para presidir o dia e o menor para presidir a noite; e fez também as estrelas. Deus colocou-os no firmamento do céu para que iluminassem a terra. Sobreveio a tarde e depois a manhã: foi o quarto dia.
5. Deus disse: "Pululem as águas de uma multidão de seres vivos, e voem aves sobre a terra, debaixo do firmamento do céu". Deus criou os monstros marinhos e toda a multidão de seres vivos que enchem as águas, segundo a sua espécie, e todas as aves segundo a sua espécie. E Deus viu que isso era bom. E Deus os abençoou: "Frutificai ― disse ele ― e multiplicai-vos, e enchei as águas do mar, e que as aves se multipliquem sobre a terra". Sobreveio a tarde e depois a manhã: foi o quinto dia.
6. Deus disse: "Produza a terra seres vivos segundo a sua espécie: animais domésticos, répteis e animais selvagens, segundo a sua espécie". E assim se fez. Deus fez os animais selvagens segundo a sua espécie, os animais domésticos igualmente, e da mesma forma todos os animais que se arrastam sobre a terra. E Deus viu que isso era bom. Então Deus disse: "Façamos o homem à nossa imagem e semelhança. Que ele reine sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos e sobre toda a terra, e sobre todos os répteis que se arrastam sobre a terra".
Deus criou o homem à sua imagem; criou-o à imagem de Deus, criou o homem e a mulher. Deus os abençoou: "Frutificai - disse ele - e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a. Dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se arrastam sobre a terra". Deus disse: "Eis que eu vos dou toda a erva que dá semente sobre a terra, e todas as árvores frutíferas que contêm em si mesmas a sua semente, para que vos sirvam de alimento. E a todos os animais da terra, a todas as aves do céu, a tudo o que se arrasta sobre a terra, e em que haja sopro de vida, eu dou toda a erva verde por alimento". E assim se fez. Deus contemplou toda a sua obra, e viu que tudo era muito bom. Sobreveio a tarde e depois a manhã: foi o sexto dia."
7. Assim os céus, a terra e todo o seu exército foram acabados. E havendo Deus acabado no dia sétimo a obra que fizera, descansou de toda a obra que Ele tinha feito. E abençoou Deus o dia sétimo e o santificou; porque nele descansou de toda a sua obra.
Uns 3.500 anos depois daquela explanação sobre a gênese da Terra, um daqueles que estiveram ouvindo seu líder ao redor da fogueira, agora reencarnado nesta Era Quântica, resolveu contar a mesma história, mas, desta vez, de uma maneira moderna, científica, ampliada, abrangendo muito mais que a Terra, tratando do surgimento de todo o Universo.
Disse ele:
1. No princípio, o Nada criou o Universo bem no meio do Nada.
2. O Universo estava contido num minúsculo espaço que se poderia chamar de Ovo Cósmico; as trevas o cobriam; ali dentro estavam guardados, além da matéria adâmica que daria origem ao Universo como vemos hoje, o espaço e o tempo.
3. Até então, havia uma mistura de partículas subatômicas (qharks, elétrons e neutrinos, entre outras) que se moviam em todos os sentidos com velocidades próximas à da luz. As primeiras partículas pesadas, prótons e nêutrons, associaram-se para formar os núcleos de átomos leves, como hidrogênio, hélio e lítio, que estão entre os principais elementos químicos do Universo.
4. Foi aí que o Nada disse: "Faça-se a luz!". Então, o Ovo Cósmico, também apelidado de Átomo Primordial, explodiu, criando o Universo. E a luz foi feita. O Nada viu que a luz era boa, e separou a luz das trevas.
5. Ao expandir-se, o Universo também se resfriou, passando da cor violeta à amarela, depois laranja e vermelha. Cerca de 1 milhão de anos após o instante inicial, a matéria e a radiação luminosa se separaram e o Universo tornou-se transparente. Com a união dos elétrons aos núcleos atômicos, a luz pôde caminhar livremente. Cerca de 1 bilhão de anos depois do Big Bang, os elementos químicos começaram a se unir dando origem às galáxias.
6. O Nada, ou o Coisa Nenhuma, disse: "Produza a terra seres vivos segundo a sua espécie, sejam animais domésticos, répteis e animais selvagens, segundo a sua espécie". E assim se fez. E o Nada, assumindo o lugar e a condição da Inteligência Suprema, Causa Primaria de Todas as Coisas, fez os animais selvagens segundo a sua espécie, os animais domésticos igualmente, e da mesma forma todos os animais que se arrastam sobre a terra. E o Nada viu que isso era bom, então, disse: "Façamos o homem à nossa imagem e semelhança”. O Nada entendeu que o mundo sem o homem e sua companheira poderia dar certo, seria o paraíso dos animais. Para evitar que isso acontecesse e para distinguir a vida celestial do mundo material, o Nada chamou o homem de Adão, e sua cúmplice de Eva, que, na verdade, era a Pandora, neta de Zeus.
Antes de se tornar Eva, Pandora ficou alguns dias passeando pelos Campos Elíseos, tocando sua harpa desafinada e recebendo instruções de deuses e deusas do Olimpo, a fim de aprender a tolerar a sua convivência com o seu Adão lá na Terra.
Com o deus Hermes, Pandora aprendeu a arte do engano e dos falsos encantos, enquanto a deusa Afrodite lhe despertava o poder da sedução. O Supremo Nada orientou Eva-Pandora sobre a sua futura convivência com Adão e lhe entregou uma caixa, dizendo que ela nunca deveria abri-la. O objetivo do Nada era fazer com que Eva-Pandora fosse testada sobre os ensinamentos que recebeu da deusa Hera, que lhe transmitiu as principais características de uma pessoa curiosa, tornando-a o que se pode classificar como abelhuda, bisbilhoteira, enxerida, indiscreta, intrometida, fofoqueira. Pandora... quer dizer... Eva-Pandora não resistiu aos impulsos de sua curiosidade e, quando já havia desfrutado de tudo de bom que o Olimpo poderia lhe oferecer, decidiu abrir a famosa Caixa de Pandora.
Hoje sabemos que este mundo só não ficou melhor porque Eva-Pandora desobedeceu às recomendações do Nada e abriu a misteriosa caixa. Para sua surpresa e desgosto, dela foram libertados os espíritos de todos os tipos de desgraça que hoje assolam o nosso planeta. Um a um foram se espalhando pelo mundo: o espírito da guerra, o da discórdia, o do ódio, o do nazifascismo, o da inveja, os das doenças do corpo e da alma. Porém, lá no fundo da caixa, restou a Esperança, único elemento positivo contido naquele recipiente, não em forma de pomba, mas, sim, em forma de maçã, à qual hoje nos apegamos.
7. Diante de sua obra completa, o Nada chamou a luz “dia”, e as trevas, “noite”. Sobreveio a tarde e depois a manhã. Foi o primeiro, único e eterno dia da criação.
Fernando Soares Campos é autor de "Saudades do Apocalipse - 8 contos e um esquete", CBJE, Câmara Brasileira de Jovens Escritores, Rio de Janeiro, 2003; "Fronteiras da Realidade - contos para meditar e rir... ou chorar", Chiado Editora, Portugal, 2018; e "Adeildo Nepomuceno Marques: um carismático líder sertanejo" (em parceria com Sérgio Soares de Campos), Grafmarques, Maceió, AL, 2022.