Santana do Ipanema, cidade bicentenária, tida como Terra de Escritores, localizada no Médio Sertão Alagoano, com as suas ruas, praças e avenidas distribuídas pelas escarpas de serras que formam pequeno vale, por onde fluem as águas do rio Ipanema, entra em 2022 com o lançamento do livro biográfico “Adeildo Nepomuceno Marques: um carismático líder sertanejo” ― Grafmarques.
Trata-se de obra escrita a quatro mãos pelos santanenses Sérgio Soares de Campos e Fernando Soares Campos, que contaram com a participação de dezenove colaboradores diretos, cujas cooperações se fizeram em forma de testemunhos, entrevistas ou fornecimento de matérias jornalísticas, correspondências e documentação iconográfica referentes à vida pública de Adeildo Nepomuceno Marques.
No prefácio, José Antônio Malta Marques, Promotor de Justiça, titular da 49ª Promotoria de Justiça da Capital – Júri, assim define a obra: “Este livro, tal como aconteceu comigo, levará todo leitor a reviver ou conhecer uma época nostálgica, onde o romantismo imperava, porém com fatos marcantes na política e na vida dos habitantes desta pujante terra de Senhora Santana, oportunizando a todos relembrar ou conhecer o ADEILDO em toda a sua multifacetada vivência: de vendedor de tecidos a empresário próspero, até o Adeildo maior líder político do Sertão das Alagoas, na sua época, vindo a galgar, para sua honra e glória, o cargo de Prefeito de sua terra, Santana do Ipanema, por três mandatos”.
O projeto literário foi idealizado por Sérgio Soares de Campos no início dos anos 80, dois anos após o assassinato do biografado, que ocorreu em janeiro de 1978. Já no ano 2000, Sérgio Campos, em visita ao seu irmão Fernando, que à época morava no Rio de Janeiro, falou sobre a sua intenção de desenvolver e publicar tal biografia, tendo como foco as atividades políticas de Adeildo Nepomuceno, estando ele exercendo, ou não, cargo eletivo. Para tanto, Sérgio já havia obtido algumas informações; inclusive, relatos de ligeiros fatos ocorridos em sua vida pessoal, contados por Nilza Marques, irmã de Adeildo, à época, chefe deste autor na Coletoria Estadual de Santana do Ipanema, órgão vinculado à Secretaria de Estado da Fazenda.
Em 2018, Fernando Soares Campos chega a Santana do Ipanema com o propósito de visitar sua mãe e junto ao seu irmão Sérgio Campos iniciarem o processo de elaboração do livro. Dois anos depois o trabalho foi concluído, porém só agora foi encaminhado para impressão.
Em Santana do Ipanema, a atividade do botador d’água, utilizando um jumento aparelhado com ancoretas, para abastecer residências, comércio e obras de construção civil com água levemente salobra do rio Ipanema, durou cerca de dois séculos, desde a formação do povoado que deu origem à vila até a cidade em pleno desenvolvimento.
Foi no segundo mandato do prefeito Adeildo Nepomuceno que os santanenses passaram a contar com o abastecimento d’água feito por moderno sistema de adutora, com água captada no rio São Francisco e tratada pelos mais avançados sistemas, com a utilização de processos químicos e físicos. Em vista dessa obra, conquistada pela pressão popular sobre o governo estadual e pela habilidade política do prefeito Adeildo, foi erguido em Santana do Ipanema um monumento em homenagem ao jumento e seu tangedor, conhecido também como “botador d’água”.
As entrevistas conduzidas por Sérgio Campos e os depoimentos e relatos de pessoas que conheceram, conviveram ou mesmo trabalharam com Adeildo Nepomuceno, estando este na condição de vereador, deputado, prefeito ou cidadão comum, contrariam a pecha de “coronel”, no sentido figurado, que alguns dos seus antigos adversários ainda tentam imputar-lhe, insinuando que se tratava de violento chefe de “curral eleitoral”.
Diálogo travado entre Osman Agra e seu filho Elvis (pág. 163) esclarece, definitivamente, essa questão, que foi disseminada por adversários políticos e até mesmo inimigos pessoais de Adeildo Nepomuceno.
− Painho, eu tenho uma preocupação danada! Tem gente que diz que seu Adeildo foi um homem violento. Isso é verdade?
− Como assim, meu filho?
− É que o senhor foi motorista dele. Minha preocupação é chegar nos cantos, falar disso e alguém dizer que o senhor fez alguma coisa... é... quer dizer... O senhor foi capanga dele?!
Nesse momento, Osman sorriu e, emocionado, respondeu:
− Fique tranquilo, meu filho! Seu Adeildo era um homem de paz, incapaz de fazer mal a alguém.
− Eu acredito no senhor.
− Pra você ter uma ideia, teve uma época que eu trabalhei para um coronel que foi intendente aqui de Santana até 1914. Eu fui motorista dele em 1966, nem carteira eu tinha, pois ainda era menor de idade. Naquela época ele já tinha mais de 90 anos e morava no Recife. Era o Coronel Luiz Gonzaga de Souza Góes. Hoje tem até uma rua com o nome dele lá no Domingos Acácio.
− Sim, mas o que é que esse coronel tem a ver com Seu Adeildo?
− A questão é que um dia o coronel me deu um revólver de presente, disse que era pra eu me proteger de gente perigosa. Quando eu fui trabalhar pra Seu Adeildo, botei o revólver na cintura e fiz de tudo pra ele não ver, pois ele era contra qualquer assessor dele andar armado.
− Então, quer dizer que ele não era nada do que disseram no artigo que eu li?!
− Veja bem, quando ele notou que eu estava armado, me deu um carão e mandou que eu deixasse aquilo em casa, ou vendesse ou fizesse qualquer coisa.
***
Além de Osman Agra, tantos outros testemunhos garantem que Adeildo Nepomuceno foi, na verdade, um pacífico cidadão dotado de carisma, alguém capaz de fascinar os que dele se aproximavam.
Em carta dirigida ao prefeito Adeildo em novembro de 1966, moradora de Major Izidoro conclui: “A única coisa que posso dizer é o meu muito obrigada e que Deus vos recompense por espalhar tanta alegria e felicidade ao vosso redor”.
O livro também trata dos trágicos acontecimentos que se abateram sobre a vida desse que é reconhecido como o mais expressivo líder político, em todos os tempos, no Sertão de Alagoas.
***
O lançamento do livro “Adeildo Nepomuceno Marques: um carismático líder sertanejo” deverá ocorrer em 22 de janeiro de 2022, a partir das 20h00, na Câmara de Vereadores de Santana do Ipanema - Assessoria Editorial.