Brasil: Sobre a demissão do ministro Mandetta

Brasil: Sobre a demissão do ministro Mandetta

  

Iraci del Nero da Costa

16 de abril de 2020

  

Acabo de ouvir do presidente

Jair Bolsonaro o aviso da minha

 demissão do Ministério da Saúde.(1)

  

  

Como sabido, o presidente Jair Bolsonaro há já vários meses colocou-se frontalmente contra as medidas preconizadas e postas em prática por seu ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Tal divergência decorre da atitude presidencial contrária ao isolamento parcial da população decorrente da quarentena proposta pelo ministro e contrária ao mero isolamento dos idosos defendido pelo governo federal. Para Mandetta a quarentena - medida adotada pela maioria esmagadora das nações e recomendada pelos órgão científicos mundiais e brasileiros - é a maneira mais correta de se enfrentar as limitações impostas aos brasileiros pela falta de um aparelhamento hospitalar apto a dar atendimento a todas as pessoas afetadas pelo coronavírus. Já o presidente deseja que a atividade econômica seja retomada com todo vigor com a participação de todos trabalhadores e respectivas empresas em ação; esta seria uma forma de evitar um retraimento econômico de larga proporção.

Aparentemente o presidente pretende com tal volta integral às atividades econômicas garantir o apoio da massa trabalhadora menos favorecida economicamente, da população despossuída, dos desempregados, do empresariado em geral bem como se seus apoiadores radicais. Esta simpatia de parte da população seria, sempre segundo a visão presidencial, muito relevante para a sua recondução à presidência nas eleições de 2022.

Esta perspectiva, além de emprestar privilégio ao econômico com desprezo pela vida humana, não corresponde à opinião da grande maioria da população brasileira; destarte, enquanto as ações de Mandetta recebem a simpatia de 76,2% dos indivíduos pesquisados por outro lado, apenas 23% de pessoas ouvidas consideram a gestão presidencial ótima ou boa, já o desempenho pessoal de Bolsonaro é aprovado por 37,6% dos pesquisados, contra 58,2% que o desaprovam (4,2% não souberam responder). (2)

Não seria descabido, pois, supor, como o faz a grande maioria dos jornalistas e pesquisadores, que a repulsa de Bolsonaro ao ex-ministro deve-se ao prestígio emprestado pela maioria da população, e certamente do eleitorado, a Mandetta, um eventual candidato à presidência nas eleições de 2022.

Em face de tal quadro, tamanhamente desconcertante, delirante e desconexo, não parece desacertada a pergunta: ao propor essa conclusão estará aloucado o articulista?

 

NOTAS

1. Adorno, Luís & Preite Sobrinho, Wanderley. "Teich aceitou cargo de Mandetta, segundo fontes do ministério da Saúde." Do UOL, em São Paulo, Disponível em: https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2020/04/16/conheca-nelson-teich-o-novo-ministro-da-saude.htm?cmpid=copiaecola

2. Cf. BORGES, Rodolfo. "76% são contra eventual saída de Mandetta da Saúde e 51,6% falam que já perderam renda com crise." EL PAÍS, São Paulo, 15/04/2020, Disponível em: https://brasil.elpais.com/politica/2020-04-15/76-sao-contra-saida-de-mandetta-da-saude.html

  

  

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Timothy Bancroft-Hinchey