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Humboldt Forum abre suas portas com celebração do conhecimento indígena

Humboldt Forum abre suas portas com celebração do conhecimento indígena

Humboldt Forum abre suas portas com celebração do conhecimento indígena

Evento em Berlim apresentou contraponto à predação da floresta com conhecimentos indígenas para o manejo ambiental no Rio Negro

No aniversário de 250 anos de nascimento de Alexander von Humboldt, foi feita a projeção do ciclo anual no rio Tiquié na fachada do novo prédio do Humboldt Forum (veja aqui). Parte de um programa de atividades realizadas nos dias 13 e 14 de setembro no saguão e na chapelaria do castelo de Berlim, que ainda está em obras e deverá ser inaugurado integralmente apenas no próximo ano. Quando estiver concluído, o castelo será um grande museu etnológico e espaço cultural no centro de Berlin, que pretende colocar em prática algumas das ideias desenvolvidas por Humboldt, relacionadas à produção de conhecimentos e a interculturalidade. Segundo seu diretor geral, Hartmut Dorgerloch, "uma das tarefas centrais do Humboldt Forum é reunir diferentes perspectivas e fomentar o intercambio".

O foco na América Latina é privilegiado, considerando que a principal viagem de Humboldt foi para esse continente, que o marcou profundamente e gerou materiais extensos que o naturalista elaborou pelo resto de sua vida na Europa.

A participação brasileira nas comemorações do aniversário de Humboldt é o desdobramento mais recente de uma colaboração iniciada há pouco mais de um ano entre o Museu de Etnologia de Berlim, o Instituto Socioambiental (ISA) e Agentes Indígenas de Manejo Ambiental (AIMA) e conhecedores indígenas do Alto Rio Negro, envolvendo também artistas indígenas e não-indígenas, assim como etnólogos brasileiros e alemães. Juntos traduziram mitos indígenas sobre as constelações e o ciclo anual em uma narrativa visual, criando uma tensão entre as formas modernas do edifício e a complexidade da imaginação indígena sobre o tempo, o ecossistema e os rituais. A projeção abriu ao público berlinense um espaço de encontro visual entre dois mundos.

Essa obra original e única é resultado de um trabalho, que se iniciou em 2005, de manejo ambiental no Rio Tiquié e que se expandiu há três anos para outras regiões do médio e alto rio Negro - em uma parceria entre o ISA, organizações, escolas e comunidade indígenas e a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn). Um de seus objetivos é o entendimento dos ciclos ecológico-econômicos e socioculturais das comunidades dessa região, como base para o manejo ambiental - tanto de recursos e atividades específicos importantes para a segurança alimentar, como a pesca e a agricultura, como, de modo mais geral, a manutenção das paisagens florestais e dos rios e seus benefícios - e também para acompanhar e interpretar as mudanças ambientais e climáticas e como afetam essa região e podem ser mitigadas. Pesquisas indígenas e interculturais sobre o calendário anual têm mostrado como os conhecimentos indígenas são importantes para o manejo adequado da Amazônia. Os resultados da pesquisa intercultural no Rio Negro encontraram grande interesse e simpatia em Berlim, o diretor do Humboldt Forum ficou impressionado e agradeceu pessoalmente pela extraordinária contribuição.

Ismael dos Santos (desana), Damião e Felix Barbosa (yebamasa) foram os três indígenas do Rio Tiquié que estiveram em Berlim e, três meses antes, haviam também participado da oficina em São Gabriel da Cachoeira para preparar o material para a projeção.

Nessa oficina estiveram também outros AIMAs e desenhistas indígenas. Também participaram, nos dois momentos, Andrea Scholz (do Museu Etnológico de Berlin), Thiago Oliveira (do Museu do Índio), Raiz Campos (grafiteiro) e Aloisio Cabalzar (do ISA). O vídeo-artista Mikko Gaestel transformou os resultados do workshop na projeção de fachada, onde o público pôde assistir aos artistas indígenas em ação. Este trabalho artístico colaborativo inspirou tanto os organizadores do evento como o público.

Em Berlim, além da projeção durante as duas noites do evento, a equipe também realizou várias apresentações sobre o trabalho desenvolvido no rio Negro e recebeu uma homenagem da Ministra da Cultura, Monika Grütters e da secretaria de estado no Ministério da Fazenda, Bettina Hagedorn.

https://www.socioambiental.org/pt-br/blog/blog-do-rio-negro/humboldt-forum-abre-suas-portas-com-celebracao-do-conhecimento-indigena

 


Author`s name
Timothy Bancroft-Hinchey