Cultursintra leva "O Deus das Moscas" ao palco
Flávio Gonçalves
Flávio Gonçalves, Pravda.ru
Antes de ler "O Deus das Moscas" do nobelizado William Golding, tenho uma memória de infância que sempre me marcou: a RTP Açores (único canal existente nos Açores até à entrada do século XXI) emitiu numa das suas sessões da tarde a longa metragem "O Senhor das Moscas", com guião e direcção de Peter Brook em 1963, um clássico a preto e branco.
O filme foi tão marcante ao ponto de não resistir e comprar já no final da minha adolescência o remake de Harry Hook de 1990 em DVD, que a meu ver ficou muito, mesmo muito, aquém das expectativas (por vezes mais valia que os originais voltassem a rodar pelas salas de cinema do que insistirem tanto em remakes).
Ligando na perfeição as minhas duas paixões, a semana passada quando regressava de um repasto no Mineiro de Sintra reparei nos cartazes à beira da estrada: a Cultursintra terá "O Deus das Moscas" em cena na Quinta da Ribafria até dia 31 de Agosto. Para quem não esteja familiarizado com os filmes nem com o livro, eis a sinopse:
"Há um avião que se despenha numa ilha paradisíaca. Há um grupo de rapazes de colégios britânicos que sobrevive a esse acidente, quando fugia de uma (qualquer) guerra. Longe da supervisão dos adultos, começam por festejar, brincar, nadar nas águas cristalinas do ilhéu. O cenário do romance de William Golding fica esboçado logo no parágrafo inaugural do texto. É nesse ambiente exótico, luxuriante e tropical, conscientemente selvagem e sufocante, que o grupo procurará criar bases para a edificação de uma nova sociedade. Ralph será eleito o chefe, numa votação que o opõe a Jack, o líder do coro que se transformará num bando de caçadores, guerreiros, mais tarde, um exército. Começam por concordar em fazer uma fogueira no topo da montanha, com o objetivo de chamar a atenção de algum navio que possa passar perto da ilha. Mas, à medida que os dias vão passando, sem sinais do mundo exterior, sem salvamento à vista, percebe-se que Ralph e Jack têm prioridades diferentes. O primeiro preocupa-se em erguer abrigos e manter a fogueira acesa, com o auxílio dos óculos de Piggy, enquanto Jack insiste em percorrer a ilha à caça de porcos.
No espaço idílico de uma ilha deserta - que, à partida, estaria apto à construção de uma clássica utopia -, à medida que o frágil sentido de ordem começa a ruir, os jovens tornar-se-ão tribais e, depois de o corpo de um piloto cair de paraquedas na ilha, as suas inquietações ganharão contornos sinistros e bárbaros. O mundo paradisíaco das brincadeiras, dos livros de aventuras, acabará por dar lugar a um cenário assustador, a puerilidade dissolver-se-á na água do mar e os medos irão correr à solta, embrenhando-se na densa floresta tropical.
Publicado em 1954, "O Deus das Moscas" é um dos romances essenciais da literatura mundial e pode ser visto como uma alegoria, uma parábola, um tratado político ou até mesmo uma visão apocalíptica da fragilidade humana. Ao narrar a história deste grupo de rapazes (na versão original do texto) perdidos numa ilha deserta que, aos poucos, vai mergulhando em episódios cada vez mais violentos, o escritor britânico constrói uma história entusiasmante, ao mesmo tempo que desenha uma complexa reflexão sobre a natureza do mal e a ténue linha que poderá distinguir a civilização da barbárie."
Uma produção do Teatromosca com promoção da Cultursintra, com bilhetes disponíveis na Tickeline.
Em Portugal estão actualmente disponíveis três edições do clássico "O Deus das Moscas", a mais recente é da Leya e conta com um prefácio de Pedro Mexia e capa dura. Pessoalmente, e como os olhos também comem, prefiro a edição de 2012 da Dom Quixote que, a meu ver, tem uma capa bastante mais apelativa, utilizada originalmente na edição de bolso da BIS do ano anterior (2011)
Ficha técnica:
O Deus das Moscas
Editor: Leya
Ano: 2017
Páginas: 300
Preço: 10€
Capa: Dura
O Deus das Moscas
Editor: Dom Quixote
Ano: 2012
Páginas: 264
Preço: 15,90€
Capa: Mole
O Deus das Moscas
Editor: BIS
Ano: 2011
Páginas: 256
Preço: 7,50€
Capa: Mole
Flávio Gonçalves, Pravda.ru
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