O ódio perigoso
Na narrativa dos textos sagrados encontramos muitos episódios de ódio nada saudáveis.
Desde Caim e Abel, Iaacov e Esau, Sodoma e Gomorra. Desde os guetos e a polícia judaica.
Desde os Zelotes e o resto da população judaica da época. Aliás, nossos sábios da época e de depois também, afirmam que o Segundo Templo foi destruído por causa de sinhat chinam, o ódio gratuito do hebreu contra hebreu.
Hoje em dia, os judeus também começaram a odiar outros judeus, aqueles que não compartilham de sua visão religiosa e aqueles que também discordam de suas ideias políticas.
Nesta época, em tempo de redes sociais, percebemos uma fissura na nossa comunidade, que ameaça nossa identidade judaica.Os judeus mundo afora criaram uma animosidade extremista, baseada em política.
Em Israel, nos Estados Unidos e até em nossas cidades e Estados, o ódio contamina nossas populações.
Até mesmo no conflito com palestinos, vemos condições opostas. Enquanto muitos no mundo acolhem e defendem a postura de Bibi Netanyahu, mais à direita, que enxerga todo palestino como um terrorista potencial que quer nos aniquilar, muitos outros acusam o governo de ser intransigente e injusto com o povo palestino em geral.
Estes judeus mais esquerdistas, até mesmo, numa colocação extremista, se distanciam de Israel porque acham que Israel é o opressor e os palestinos, os oprimidos.
Estes dois movimentos se cristalizaram e, atualmente, fica quase impossível um diálogo entre eles. Infelizmente, foi criado um sentimento de ódio disseminado que despreza bons argumentos e se alimenta da raiva.
Aqui, nesta última eleição, este sentimento de ódio se ramificou e impregnou todas as discussões online.
Nossos judeus importaram esta discórdia internacional, se apropriaram da fissura monumental que se criou entre nosso povo, e começaram a se atacar mutuamente.
Todos abriram mão de julgar argumentos lógicos e permitiram que a emoção irracional ditasse suas opiniões.
Esta divisão ficou patente quando o atual presidente eleito foi convidado a discursar na Associação A Hebraica do Rio de Janeiro. Os que eram contrários a esta visita fizeram uma manifestação acalorada na porta do clube e os defensores desta medida também se apresentaram de forma contundente. Quase saíram aos tapas.
Nestas eleições, passamos todos a desqualificar nossos valores morais e as discussões trouxeram o que de pior há em nós.
Com todos os votos já colocados e com as eleições definidas, é chegado o tempo de reconciliação.
Nós, judeus, devemos lembrar de nossa prioridade, que é alertar sobre as manifestações antissemitas que pipocam em todos os cantos do mundo, e que temos a obrigação de nos mostrarmos unidos nesta luta contra a intolerância. Chega de sinhat chinam, de ódio gratuito. Já deveríamos ter aprendido de seu perigo.
Somos todos judeus, e como uma minoria, devemos nos manifestar como um só povo, defendendo o judaísmo e o Estado de Israel acima de tudo.
Foto: Por Oren neu dag - Obra do próprio, CC BY-SA 3.0,
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Floriano Pesaro
Deputado Federal