Sátira: Bolsonazi também é família
por Fernando Soares Campos(*)
O bolsonazi bombado, portando um taco de beisebol, entrou no plenário do STF e gritou:
-- Cabo e soldado, porra nenhuma! Eu sozinho fecho essa espelunca!
A primeira tacada que deu foi no carrinho do copeiro, espedaçando tudo e produzindo tremendo estardalhaço.
A equipe de segurança de cada ministro socorreu seu magistrado e o levou para o seu gabinete. Parte dos que estavam na plateia correu para o banheiro, outros se abaixaram por detrás das poltronas.
O bolsonazi bombado e, certamente, cheirado continuou quebrando o que via pela frente. Subiu numa cadeira e gritou:
-- O Brasil é um país laico! Bolsonaro 17! -- dizendo isso, aplicou violenta tacada no crucifixo instalado numa gruta, no alto da parede por trás da mesa da Presidência, espatifando o objeto consagrado.
Depois de fazer um considerável estrago no ambiente, o bolsonazi observou que um senhor magrinho, de bigode fininho, cara de mineirinho, sentado na primeira fileira da plateia, acompanhava seus movimentos sem se perturbar.
O brutamontes olhou para aquela figura franzina e berrou:
-- Por que tá me olhando assim?! Nunca viu homem macho de verdade?!
-- Igual ocê, não!
-- Então, tá vendo agora, pela primeira vez, um sujeito homem!
-- Num é pela primeira vez, não...
-- Não?! O senhor já me conhece?!
-- Sim... Ocê num é filho da Ritinha, filha da dona Matilde?
-- Sou! O senhor conhece minha mãe e minha vó?!
-- Ih! conheço até demais. Comi muito a senhora sua vó, nos tempos em que ela trabalhava numa casa de luz vermelha lá na BR...
-- O quê?!
-- Foi nessa época que a sua mãe nasceu. A Matilde disse pra todo mundo que eu era o pai...
O bolzonazi largou o taco, ajoelhou-se aos pés do mineirinho, encostou a cabeça no seu colo, abriu o berreiro. Chorando que nem criança, desabafou:
-- Você é meu avô! Passei a vida toda procurando pelo meu pai ou pelo meu vô! Buuuááá... Você, eu já encontrei, agora só falta encontrar meu pai... Buuuááá...
Daí em diante ficou fácil, os seguranças da casa se aproximaram acompanhados dos enfermeiros, que colocaram a camisa de força e levaram o bolsonazi gritando sem parar:
-- Achei meu vô!
(*)Fernando Soares Campos é escritor, autor de "Fronteiras da Realidade - contos para meditar e rir... ou chorar" - Chiado Editora - Portugal - 2018.