Fala, maluco

Fala, maluco

 

Jolivaldo Freitas

 

Complicado para quem pensa que terminadas as eleições a paz voltará a reinar neste paraíso tropical de nome Ilha de Vera Cruz, Terra de Santa Cruz. Estamos roubados, porque quem perder não vai se conformar e gerir o Brasil será um inferno para o vencedor. "Ao vencedor as batatas", disse o personagem Quincas Borba, do escritor Machado de Assis, cuja frase reflete muito o que vai acontecer por aqui a partir de janeiro do ano que vem quando o ganhador assumir o Palácio do Planalto. No todo do conceito impresso no romance, fica claro que enquanto o vencedor recebe seu prêmio, ao vencido só resta destilar ódio ou compaixão. E, podemos prestar atenção naquilo que virá, de mais ódio que compaixão.

Está ruim para quem, por exemplo, não professar nenhum sentimento para com os candidatos que aí estão, por saber que nenhum representa aquilo que o país pretende. E também não pensa em votar no que é menos ruim, ou que é menos ruim para o Brasil. São chamados de omissos e já colocam em suas costas a pecha de que será responsável por tudo de ruim que acontecer nas eleições de domingo, uma vez que na concepção tanto da esquerda, como do pessoal da direita e do centrão, que o omisso é o pêndulo, o equilíbrio , o fiel da balança e que todo omisso é execrável.

Daí que ouvi na fila do caixa do supermercado o desabafo de uma senhora, explicando que estava num dilem a imenso, uma vez que se votasse com Bolsonaro estará traindo aos seus parentes, amigos e conhecidos viados e às mulheres, bem como as minorias em si. E, se votasse no candidato do PT (que o povo sem saber dizer o nome chama mesmo de Andrade) estaria sendo conivente com tudo de ruim que o partido fez para com o Brasil a partir do Mensalão e do Petrolão e do aparelhamento do Estado.

Foi então que a resposta menos esperada veio da moça do caixa, que disse para a senhora que ficou com cara de espanto:

- Vote no cabo Daciolo!

A senhora perguntou porquê e ela disse:

- Ciro é doido de pedra, Marina parece que está se desmilinguindo toda, Alckmin está mais para agente comunitário que quer passar garrafada ao invés de remédios; os outros nem sei dizer quem são.

- E daí? - Perguntou a senhora.

A moça do caixa completou:

- Voltar em Daciolo é saber que está votando num maluco, mas maluco beleza, um bíblia, desses que não fazem mal e nem fazem o bem e o Brasil precisa disso, de algo mais zen. Daciolo vê disco-voasdor, já falou com Jesus e tem visões que antecipa o futuro.

- E isso é bom? - Perguntou a senhora.

- Bom não sei também se é tanto assim, mas o cara fala de um jeito que não entendo, E se não estou entendendo, melhor assim, pois os que falam  e eu entendo só me desagradam.

- Acho que você tem razão - Respondeu a senhora que foi esquecendo de política quando perguntou se não tinha ninguém para ajudar a colocar as compras nas sacolas.

 

Escritor e jornalista: Jolivaldo.freitas@yahoo.com.br

 


Author`s name
Timothy Bancroft-Hinchey