Eutanásia: Dignidade na Morte ou Eliminação do mais Fraco?
O debate da Eutanásia está na ordem do dia. Um dos argumentos mais
referidos pelos seus defensores é o "direito" a uma morte digna em
situação de doença terminal, para escapar ao sofrimento. Todavia o
argumento é falacioso desde logo porque nada deve sobrepor-se ao direito
à Vida, por esta ser inalienável. Além disso, quantos não têm sido
aqueles que, dados como mortos, "ressuscitam"... o que significa que
existe um lado enigmático da Vida que a Ciência não tem capacidade para
determinar, logo criar um quadro legal para aplicação da Eutanásia
poderá ser um erro sem reparo, sem considerar a evolução futura dessa
legalidade, a outros casos que não o de doenças terminais, como já
acontece na Holanda, que pode ser aplicada a crianças, e a Bélgica se
prepara para fazer o mesmo. Segundo um psicólogo que acompanha doentes
cancerígenos, numa palestra que assisti na Universidade dos Açores, 80%
dos pacientes que desejam antecipar a morte, abandonam essa ideia logo
que têm alívio para as suas dores!!!
As motivações da chamada eufemisticamente de "morte assistida" esconde
duas questões: a primeira, economicista, que ninguém tem a coragem de
falar, antes a escamoteia, preferindo focar-se no sofrimento do paciente
acamado... Na referida palestra questionei a mesa sobre os custos de uma
cama num hospital público. A representante da Liga contra o Câncer
esclareceu de imediato que no Estado fica por volta de 400€ por dia, mas
que na Liga, o custo é 50% menor. Só esqueceu de referir que a Liga
conta com trabalho voluntário... Foi aliás esta a mesma sinistra
preocupação que levou Hitler a justificar a aplicação da Eutanásia aos
chamados "indivíduos inúteis", que o mesmo é dizer improdutivas,
mandando assassinar cerca de 200 000 almas. Esta experiência foi a
antecâmara do famigerado Holocausto Nazi, onde foram ensaiadas vários
métodos de morte em massa. A segunda, de ordem sentimental, é a do
incómodo que tais pacientes representam para alguns familiares. Quantas
vezes não ouvimos a expressão tão comum: "mais valia que Deus o
levasse"... Mais, a legalização de tão hediondo crime, comparável ao
Aborto Social, como método de Controle da Natalidade, pode trazer
motivações de outra ordem: divisão antecipada de heranças e outras
coisas mais...
No debate da Eutanásia, a dimensão religiosa da questão é
propositadamente excluída como se a Religião pudesse ser separada da
nossa identidade cultural. Como se pudesse apagar a consciência
religiosa. Compreende-se, porém não se pode aceitar. O Cristianismo
exalta a Vida como um bem de origem divina, condenando todas as formas
que atentam contra ela, atribuindo a Deus o papel exclusivo de autor e
consumador da Vida. O homem, através do Estado, ou seja lá o que for,
tentar fazê-lo, está a substituir-se a Deus, o que do ponto de vista
Teológico, fere o mandamento "Não matarás". Poderemos dizer que o
Decálogo é coisa de um passado longínquo, querendo com isso afirmar que
a realidade de hoje é outra. É outra, mas a natureza humana é a mesma,
pelo que é um absurdo achar-se possível matar por compaixão... Mas não
somente o Cristianismo o condena. Não é por acaso que em todo o mundo
civilizado, incluindo povos de outras culturas, o homicídio é moralmente
condenável e por isso criminalizado nos diferentes Códigos Penais. E o é
porque consideram a Vida como um valor inalienável. Nesse sentido é
insano defender-se o "homicídio assistido" como forma de eliminar o
sofrimento de uma pessoa, além de contraditório. Se uma pessoa sofre em
razão de uma doença que consideramos terminal, é nossa responsabilidade,
como cristãos, tentar por todos os meios, incluindo os científicos,
aliviar o seu sofrimento.
Finalmente, a defesa da Eutanásia, bem como do Aborto Social, invés de
representar um avanço civilizacional, é antes um sinal grave de perda
significativa dos princípios morais que justificam a existência da
Sociedade, como a entreajuda, a solidariedade, etc. Mostra o perigoso
caminho que estamos a trilhar de destruição dela própria. Até advinhamos
o que se seguirá, graças à História...
Artur Teixeira
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