O velho e o novo

Se você anda preocupado porque tem dificuldades de mexer com a internet, quando seu neto faz operações que até Deus duvida, como se já nascesse sabendo tudo sobre o mundo virtual, temos duas notícias para lhe dar.

Como sempre ocorre nesses casos, uma boa e outra má.

Nem vamos esperar que você escolha, vamos lhe dar logo a má.

A má notícia é que, ao que tudo indicam as estatísticas, não demora muito você vai perder a única coisa que realmente importa, a sua vida.

Os números estão contra você e a favor do seu neto, e mesmo que a expectativa de vida tenha crescido muito no Brasil, certamente porque os governos do PT melhoraram as condições de saúde e higiene dos mais pobres, você não terá ainda muitas copas do mundo para assistir, nem muitos livros para ler.

Segundo dados do IBGE de 2013, a expectativa de vida para os brasileiros subiu para 74,9. É pouco comparado com os 85,9 do Japão, mas é bem melhor do que os 45,9 de República Centro Africana, segundo dados da Organização Mundial da Saúde.

Se você fosse japonês, a notícia que vamos lhe dar em seguida talvez não tivesse grande importância porque boa parte da sua longevidade é devida a sua despreocupação com as boas e más notícias.

Se você fosse um centro africano, talvez não estivesse mais vivo para ouvi-las.

Mas, como você é brasileiro e curioso, vamos logo à boa notícia.

Pesquisas publicadas pelo Journal of Topics in Cogntive Science desmentiu a teoria até aqui aceita de que as conexões cerebrais são prejudicadas pelo avanço da idade. De acordo com a publicação, a lentidão de raciocínio dos idosos não advém do eventual declínio do processo cognitivo, mas do excesso de conhecimento. Em outras palavras, ao longo da vida se armazena coisa demais no disco rígido cerebral e aí o processamento de informações se torna mais lento, como num computador antigo com muitos arquivos.

Não é possível garantir que a fonte seja confiável, em todo o caso foi publicada por uma revista dessas modernas com o título em inglês mesmo que produzidas aqui mesmo.

Obviamente isso só é válido para pessoas que gastaram algum tempo da vida para aprender sobre o mundo lendo livros e não apenas a Zero Hora ou vendo a Rede Globo.

Ou seja, todos aqueles romances e biografias que você leu, além de milhares de informações colhidas ao longo da vida, indo ao cinema, falando com pessoas inteligentes, frequentando salas de aula e até mesmo vendo televisão, formaram um acervo que o torna mais inteligente que aquele jovem empresário que aparece no jornal falando sobre as maravilhas da livre empresa.

Pondo numa balança com a notícia ruim, esta notícia não é tão boa assim, pesa menos, mas de qualquer maneira é um consolo saber que num ranking cultural, você tem tudo para fazer uma boa figura.

Aproveite enquanto é tempo.

 Marino Boeira é jornalista, formado em História pela UFRGS

 


Author`s name
Timothy Bancroft-Hinchey