Sobre jornalistas

Alguns dos meus melhores amigos são, ou foram jornalistas e sempre lembro deles, como sujeitos inteligentes e cultos, embora boa parte dessas pessoas, me dou conta agora, eram mais intelectuais que jornalistas de tempo integral e que usavam os meios de comunicação para defender suas posições políticas ou ideológicas.

Eu mesmo tenho em minha primeira carteira de trabalho o registro como jornalista profissional de Última Hora, embora minha formação acadêmica tenha sido feita no curso de História da Faculdade de Filosofia da Universidade Federal.

Faço essa apresentação inicial para justificar minha implicância com a arrogância de um grande número de jornalistas que usam as páginas dos jornais e os espaços na televisão e rádio para pontificarem como donos do saber absoluto.

Nos velhos tempos em que fiz do jornalismo uma profissão, a maioria de nós, se dedicava a divulgar notícias colhidas nas chamadas fontes de informação. Claro que elas sempre apareciam, de alguma forma, tisnadas por nossas inclinações políticas e ideológicas, mas era algo sempre muito sutil e certamente na maioria das vezes não percebida pelos leitores, ouvintes ou telespectadores, para a nossa decepção.

As colunas de opinião eram poucas e reservadas apenas aqueles jornalistas de maior prestígio e vivência.

Assim, em Última Hora de Porto Alegre, quem pontificava com uma coluna cheia de ironias e escrita com grande qualidade literária, era Sérgio Jockimann.  Na Folha, você lia na secção de esportes, Cid Pinheiro Cabral, também um estilista, admirado até mesmo pelos gremistas.  Havia ainda o grande Jotabê  (João Bergmann), um precursor na arte de escrever com ironia do Luís Fernando Veríssimo  e no Correio,o P.F. Gastal, nos ensinando sobre cinema,sob o  pseudônimo de Calvero, para  reafirmar sua admiração artística e política por Chaplin.

Hoje, em Zero Hora, por exemplo, todo mundo tem colunas. Salvo dois ou três que merecem ser lidos, o jornal dá espaço para que gente de pouco talento e saber gaste tinta e papel para expressar opiniões que ficariam bem numa conversa de botequim, regada com muito chope e batatas fritas.

Como professor durante muitos anos na Famecos, conheci de perto a arrogância desses futuros jornalistas, que quase sempre refratários aos livros mais volumosos, se diziam "formadores de opinião", um dos qualificativos mais idiotas atribuídos a um grupo de pessoas.

Na época, eu  lecionava Criação para os alunos de Publicidade e quando eles se sentiam menosprezados pelos seus colegas do Jornalismo, costumava dizer a eles, que os publicitários eram muito mais honestos, porque não escondiam que iriam vender seus talentos para quem pagassem um salário maior e que eles , os jornalistas, apesar do discurso libertário, iriam escrever apenas o que seus futuros patrões permitissem.

Hoje, ainda penso do mesmo jeito. Sem que isso seja implicância de minha parte, tomo Zero Hora como exemplo. Na política, na economia, nos esportes, nos comentários internacionais, lá está sempre o mesmo discurso rasteiro e pouco criativo, nunca ultrapassando os limites ideológicos e políticos estabelecidos pelas normas da casa dos Sirotski.

Marino Boeira é jornalista, formado em História pela UFRGS

 


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Timothy Bancroft-Hinchey