Há anos que a Amazon vinha a resistir a pressões de várias associações e do próprio governo de Israel para deixar de vender obras que questionem ou neguem o Holocausto judeu no decorrer da Segunda Guerra Mundial, até há umas meras duas semanas era possível encontrar todo o género de livros revisionistas e negacionistas, em várias línguas, na Amazon uma vez que esta, como empresa estadunidense, sempre se valera do protecção da liberdade de expressão da Constituição dos Estados Unidos para manter à venda nas suas lojas todo o tipo de obras, por mais incómodas que pudessem ser.
Contudo desde início de Março que a Amazon, a segunda maior loja virtual a nível global e uma pioneira em soluções de edição para pequenos editores e edições de autor (sendo unicamente ultrapassada pela chinesa AliExpress), começou a remover do seu catálogo livros que considera como negacionistas ou críticos do Holocausto cedendo a uma campanha de pressão iniciada em Fevereiro pelo Museu Yad Vashem, dedicado à memória das vítimas do Holocausto, com o envio de uma carta aberta da autoria do Dr. Robert Rozett, director das bibliotecas do Yad Vashem, enviada a Jeff Bezos, director executivo da Amazon.
"Salta à vista há já muitos anos que a literatura negacionista do Holocausto é livremente disponibilizada para venda na Amazon. A maior parte desses artigos surgem-nos repletas de resenhas positivas por parte dos leitores e com a sugestão de outras obras do mesmo estilo", alertou Rozett. Em declarações ao "Jerusalem Post", Robert Rozett afirmou que a nível mundial havia um novo clima generalizado favorável ao anti-semitismo, pelo que "talvez a altura seja mais adequada para ponderarem que têm que ser mais cuidadosos com o que vendem." Na sua carta Rozett insistia, "uma vez mais, dada a existência do anti-semitismo em todo o globo, algo que se tornou mais recorrente nos últimos anos, insistimos para que removam das vossas lojas livros que neguem, distorçam ou banalizem o Holocausto."
O Dr. Robert Rozett ofereceu também os serviços do Yad Vashem caso a Amazon necessite que lhes forneçam uma lista das obras a banir ou precise de auxílio na investigação e detecção de obras, normalmente livros em formato papel e kindle bem como documentários em DVD, deste género. O receio de vários activistas é de que se aceitarem esta violação da liberdade de expressão, ainda pouco contestada, tal possa abrir um antecedente para que obras pró-Palestina e críticas da política de Israel ou do sionismo possam também ser incluídas numa futura revisão de obras que incomodem o Estado de Israel, mais especificamente as obras dos académicos Noam Chomsky, Gilad Atzmon e Norman Finkelstein, todos eles de etnia judaica, activistas de esquerda e severos críticos de Israel.
Nuno Afonso