Entre os dias 22 e 27 de novembro a Cinemateca Brasileira apresentará, em São Paulo, a 3ª edição da Mostra Mosfilm de Cinema. Serão exibidos 10 filmes do período soviético e pós-soviético, quase todos inéditos no Brasil.
A Mostra acontecerá também na Cinemateca Paulo Amorim, na Casa de Cultura Mário Quintana, em Porto Alegre, com a exibição de oito filmes entre os dias 24 de novembro e 2 de dezembro.
As duas mostras serão abertas com a versão restaurada em 2015 do clássico Aleksandr Nevsky, de Serguey Eisenstein.
A versão paulista contará com a apresentação especial, no dia 23 de novembro, de "Vermelho Russo", filme brasileiro que não é uma produção do Mosfilm, mas que, no entender dos produtores da Mostra, "tem tudo a ver com o intercâmbio entre Brasil e Rússia em matéria de cinema".
Fundado em 1924, o Mosfilm possui um acervo de 2500 obras, sendo hoje o maior estúdio da Rússia e um dos maiores da Europa.
Priscila Casale entrevistou Susana Lischinsky e Bernardo Torres, organizadores da Mostra.
PC - Neste ano, a mostra de São Paulo e a de Porto Alegre vão acontecer de forma quase simultânea. Está tudo pronto?
Susana - Para dizer a verdade, não. Houve um embaraço com a chegada dos filmes no Brasil, e a greve da Receita Federal nos impediu de resolver o problema. Os filmes voltaram para Moscou e tiveram que ser reenviados.
PC - E se não chegarem?
Bernardo - Vamos ter que pedir desculpas ao público e marcar outra data. Mas vão chegar. Deus é grande!
PC - Estamos sabendo que vocês vão passar um filme brasileiro na mostra de São Paulo...
Susana - É. Queremos aproveitar para agradecer à amiga Maria do Rosário Caetano. Crítica de cinema e agitadora cultural, ela assistiu "Vermelho Russo" no Festival do Rio e abriu uma campanha para que ele estivesse presente na nossa mostra. A equipe do filme concordou, de modo muito simpático, e resolveu nos dar essa canja. Não é uma produção do Mosfilm, mas tem tudo a ver. "Vermelho Russo" combina realidade e ficção na relação de duas amigas atrizes que vão estudar o método Stanislavsky em Moscou. É humano, inteligente e tem um humor finíssimo.
PC - Que mais surpresas vocês nos reservaram para esta Mostra?
Bernardo - Surpresas, acho que mais nenhuma. Temos algumas novidades. A primeira é que vamos abrir a mostra com a cópia restaurada em 2015 do clássico Aleksandr Nevsky. O filme é de 1938 e foi muito valorizado, como o próprio Eisenstein fez questão de sublinhar em prosa e verso, pela trilha monumental de Prokofiev. A segunda é que incluímos um filme de Aleksandr Ptushko, mago dos efeitos especiais, do tempo em que os computadores passavam longe do cinema...
Susana - A terceira é que na programação mantivemos o critério das mostras anteriores de selecionar obras de diferentes gêneros e épocas, mas demos uma enfatizada nos filmes produzidos a partir de grandes obras literárias. "Um Acidente de Caça" adapta uma novela de Chekhov; "Boris Godunov" e "O Conto do Czar Saltan" partem respectivamente de uma tragédia e um poema de Pushkin; "O Quadragésimo Primeiro" e "A Estrela", dos escritores soviéticos Boris Lavrenyov e Emmanuil Kazakevich, venderam milhões de exemplares antes de irem para as telas. E nem cito Stanislaw Lem, porque ele disse que a adaptação que Tarkovsky fez de Solaris foi tão pessoal que mudou o sentido da obra.
PC - Mas cinema é cinema...
Bernardo - É. Mas quem tem a tradição que os russos possuem na literatura, na dramaturgia, na música, na dança tem que fazer menos força para criar um bom cinema...
Susana - Gostaria de dar um exemplo. Emil Loteanu e Eugen Doga nasceram na Moldávia. Eles constituíram uma dupla, um como diretor e o outro como compositor, que realizou para o Mosfilm, entre 1971 e 1983, quatro filmes de extraordinário sucesso. A valsa de Doga para "Um Acidente de Caça" tornou-se tão popular que passou da tela para as festas de casamento.
PC - E a circulação da produção do Mosfilm no Brasil? Tem melhorado? Até que ponto o CPC-UMES Filmes tem contribuído?
Bernardo - O Mosfilm tem mais de 2.500 títulos. O CPC-UMES Filmes vai fechar 2016 com 22 DVDs lançados. É uma parcela muito pequena dessa produção. Não temos recursos para investimento de longo prazo, mas não temos do que nos queixar. Nosso site www.cpcumesfilmes.org.br é bastante visitado, as mostras têm obtido boa divulgação, nossos lançamentos passaram no teste de ficar em cartaz todos os dias deste ano, de terça a domingo, na Cinemateca Paulo Amorim, na Casa de Cultura Mário Quintana em Porto Alegre. Talvez por coincidência, talvez não, tivemos notícia de mais duas mostras de cinema russo no Brasil em 2016. Estamos cobrindo uma lacuna deixada pela inoperância de um poder público completamente tapado em matéria de cultura. Depois, quando a gente ficar rico com o ouro de Moscou eles vão chorar. Aí vai ser tarde demais. [risos]
PC - O que vende mais?
Susana - Da safra mais antiga, os filmes de Mikhail Romm: "Lenin em Outubro" e "O Fascismo de Todos os Dias". Da safra nova "Tigre Branco", de Karen Shakhnazarov, e da intermediária, "Solaris", de Tarkovski. E não pergunte quanto vende, porque dá azar ficar falando em dinheiro. [risos]
PC - Quando os entrevistamos para a 1ª. Mostra, vocês não quiseram antecipar os próximos lançamentos de DVDs, dizendo que, se não guardassem uns segredos, não os entrevistaríamos mais. Estamos na terceira entrevista. Podem agora fazer a fineza de antecipar?
Bernardo - Não tem mistério. Em geral os filmes que trazemos para as mostras do final do ano, são os lançamentos do ano seguinte. É só observar.