Le Ciel Attendra (O Céu Esperará), filme ficção francês inspirado numa situação real, de Marie Castille Mention-Schaar, é um dos primeiros sobre o desvio de adolescentes, projetado nesta segunda-feira no telão da Piazza Grande, baseado numa série de encontros com jovens alistadas no exército de Daesch e com mães e pais desesperados
Por Rui Martins
Elas são adolescentes, boas alunas no colégio, mas de repente caem na rede dos islamitas de Daesch, que pretendem ter criado um Califado ou Estado Islamita. O aliciamento de jovens ingênuas é feito segundo a mesma tática das seitas, a diferença está no objetivo - geralmente as seitas propõem meditação, espiritualidade ou ações humanitárias, enquanto os islamitas, vindos da ramo sunita-salafista muçulmano propõe às jovens alistadas nas suas fileiras um casamento com um namorado (chamado príncipe), encontrado nas redes sociais, tão logo cheguem na Síria ou Iraque, e a participação em atentados ou se tornar mártir ou mulher-bomba kamikase.
Le Ciel Attendra (O Céu Esperará), filme ficção francês inspirado numa situação real, de Marie Castille Mention-Schaar, é um dos primeiros sobre o desvio de adolescentes, projetado nesta segunda-feira no telão da Piazza Grande, baseado numa série de encontros com jovens alistadas no exército de Daesch e com mães e pais desesperados ao constatarem a fuga de suas filhas rumo à Síria.
O filme focaliza duas adolescentes : Melanie, presa pela polícia francesa antes de atravessar a fronteira na rota para a Turquia, de onde iria para a Síria com mais duas amigas, doutrinadas principalmente pelo Facebook por rapazes islamitas de boa conversa, aliciadores de jovens.
Essas jovens ao chegarem na Síria serão casadas à força com soldados de Daesch (nada a ver com seus príncipes prometidos), ou transformadas em bombas-humanas ou torturadas e degoladas no caso de resistência ou de começarem a chorar pedindo para voltar.
A outra é Sonia, que burlando a vigilância da mãe, mentindo e simulando, conseguiu embarcar para Istambul e de lá para a Síria e Iraque, desaparecendo sem deixar traços.
Não sendo documentário, o filme reconstitui o quadro das mães desnorteadas, que não se perdoam por terem se deixado enganar por suas filhas, nunca tendo sequer desconfiado da conversão de suas filhas para o islamismo extremista. Sonia trancava-se no quarto para vestir a burca e tinha levado seu violoncelo ao porão, pois os extremistas islamitas, como os talibãs, são contra todo tipo de música.
Embora o filme não trate do alistamento de rapazes, existe igualmente um grande número deles convertidos e partindo para a Síria em busca de aventuras. Alguns se transformam em pouco tempo em temíveis assassinos, vídeos divulgados pela televisão mostrou como responsáveis pelos reféns degolados, outros enviam fotos via Internet portando uma Kalachnikov ou em cenas de combate.
Entre garotas e rapazes convertidos e transformados em combatentes, somando-se os da Belgica, onde a influência de imãs salafistas é maior, com França, Alemanha, mesmo Portugal, e Inglaterra, o número é de milhares, um certo número deles já mortos.
A França criou recentemente um Centro de Prevenção para orientar os pais, porém é dificil o contrôle dos jovens fanatizados por Internet. Na busca de sua identidade e do absoluto, os adolescentes acreditam nas mentiras que lhes são contadas, nas versões de complôs mostrando o mundo nas mãos dos inimigos de Alá. A versão mais comum é de que vivemos o fim do mundo e que esses jovens poderão salvar suas famílias tornando-se combatentes de Daesch. As doutrinas apocalípticas sempre conseguem seguidores, mesmo entre os cristãos.