ICArabe prestigia celebração em São Paulo do patriarca da Igreja Ortodoxa Russa, Cirilo I
Representado por seu presidente, Professor José Farhat, o Instituto da Cultura Árabe prestigiou no domingo (21) a visita a são Paulo de Cirilo I, Patricarca de Moscou e de Toda a Rússia e primate da Igreja Ortodoxa Russa. Em celebração na Catedral Ortodoxa Antioquina do bairro do Paraíso, Cirilo rezou pela paz no Oriente Médio junto ao arcebispo metropolitano antioquino Dom Damaskinos Mansour.
Foto: ICArabe
Por Arthur Gandini - ICArabe
"Sua Santidade, os filhos de vossa Igreja Antioquina imigraram da Síria e do Líbano para este país hospitaleiro e benevolente", lembrou o religioso em texto lido ao final da missa. "Isso já há mais de 150 anos, não é de hoje. Participaram de atividades de ordem social e política ambicionando ter uma vida melhor, em paz, pare eles e para seus filhos", afirmou. "Mas o mais importante é que eles, em toda a história dessa imigração, trouxeram do Oriente a fé cristã de seus pais, de sua terra natal, santificada pelo sangue dos mártires. Construíram igrejas e elas se tornaram locais verdadeiramente de união."
Dom Damaskinos falou sobre a relação entre as igrejas ortodoxas russa e antioquina e pediu que se rezasse pela paz na região de onde sua igreja surgiu. "Pedimos a todos oração, especialmente pelo berço do cristianismo, o Oriente Médio, do qual faz parte a Síria. Rezemos pela sua unidade e paz, pelo fim dos conflitos, em toda a região, especialmente a Síria, a qual mais sofre agora."
Cirilo I agradeceu as palavras do religioso, que disse terem lhes tocado, e reforçou o pedido de paz. "Não se alcança a paz duradoura à força. A paz duradoura sempre está ligada à Justiça", disse por meio de um tradutor do russo para o português.
Igrejas e Oriente Médio
As relações entre as igrejas ortodoxas e a região remontam desde o início do cristianismo. A Igreja Católica primitiva era administrada por meio de um colegiado de cinco sedes: Roma (na parte ocidental do Império Romano) e Constantinopla, Alexandria, Jerusalém e Antioquia (no lado oriental). Esta última, a qual pertence a Catedral Ortodoxa do Paraíso, foi criada na cidade hoje chamada Antáquia (antiga Antioquia), que fica no sul da Turquia e na fronteira com a Síria. Foi em Antioquia, segundo a Bíblia, que os seguidores de Jesus foram chamados de cristãos pela primeira vez e também onde São Paulo fez seu primeiro sermão.
As sedes orientais se separaram da romana no ano de 1054, por conta de divergências políticas e doutrinárias, e deram origem a outras igrejas, que hoje são chamadas de ortodoxas. Mantêm sua comunhão por meio do Patriarcado Ecumênico de Constantinopla.
No ano de 1965, o patriarca ecumênico Atenágoras I e o Papa Paulo VI assinaram documento no qual aproximavam as igrejas novamente e cancelavam as excomunhões mútuas. As igrejas ortodoxas possuem hoje diferenças da romana como em normas de clero (o celibato só é obrigatório para os bispos), na doutrina (o dogma da virgindade de Maria foi promulgado pela Igreja Romana em 1854) e na liturgia. A missa na catedral foi celebrada com os religiosos de costas para a assembleia e o altar foi fechado ao público na hora da comunhão.
O papa Francisco, desde o começo do seu papado, tem se encontrado com líderes ortodoxos. Neste mês, encontrou Cirilo I em Cuba, onde assinaram declaração conjunta contra a perseguição a cristãos no Oriente Médio e também pela paz na região.
"Foi uma iniciativa que enche os corações dos cristãos deste continente de alegria e esperança pela unidade do amor, que foi coroada pela declaração contínua-conjunta", afirmou Dom Damaskinos ao patriarca russo.
Para o professor Farhat, Cirilo I traz consigo uma mensagem de mudança para o mundo. "É uma declaração de paz, ele está viajando em nome da paz, e fez isso de uma forma objetiva encontrando o papa Francisco em Cuba", disse. "Ambos declararam que não é com guerra que se resolve os problemas da humanidade. A única solução é o diálogo. É isto que está faltando para a humanidade, estamos precisando de paz."
Durante a comunhão, Dom Damaskinos se encontrou com o professor Farhat e concedeu sua benção ao Instituto da Cultura Árabe.
Estiveram presentes na missa cheiks de mesquitas de São Paulo, o arcebispo romano de São Paulo, Dom Odilo Scherer, e o prefeito da cidade, Fernando Haddad. O governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin, também compareceu ao coquetel realizado logo em seguida, fechado ao público.