Auto dos Físicos: "uma bufonada de Carnaval" no TCSB

A farsa "Auto dos Físicos", de Gil Vicente, terá sido representada pela primeira vez em época de Carnaval, há quinhentos anos. Isso ajuda a explicar o tom "chocarreiro" e brincalhão desta comédia, que continua a divertir plateias pelo país inteiro, cinco séculos depois. É também a pensar nisto que A Escola da Noite volta agora a apresentar a sua mais recente produção vicentina, em duas sessões especiais que terão lugar no próximo fim-de-semana: 12 e 13 de Fevereiro, sexta e sábado, às 21h30. Na semana seguinte há sessões especiais para escolas.


Escrito e representado pela primeira vez entre 1519 e 1524, "Auto dos Físicos" conta a história de um padre que está "a morrer" por causa de um amor não correspondido. Quatro médicos (os "físicos") visitam-no à vez, sugerindo estranhos remédios. Brásia Dias, a parente que primeiro o tenta ajudar, um moço transformado em (fraco) alcoviteiro e um padre confessor que compreende "bem demais" o sofrimento do seu colega completam o leque de personagens da peça, que termina com uma "ensalada" poética e musical, com referências a outras peças do autor e a elementos do cancioneiro tradicional.
O texto - que Carolina de Michaelis classificou como uma "bufonada de franca imoralidade de carnaval" - apresenta caricaturas de pessoas concretas (os quatro "físicos" correspondem a pessoas que realmente existiam e que o público facilmente reconhecia) mas é também, como quase toda a obra de Vicente, um retrato da corte, da Igreja e da sociedade portuguesas do século XVI em Portugal.
O espectáculo estreou em Setembro de 2014 e é uma co-produção com a Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos, a propósito das comemorações dos 35 anos do Serviço Nacional de Saúde. Com encenação de António Augusto Barros, "Auto dos Físicos" conta com as interpretações de Filipe Eusébio, Igor Lebreaud, Maria João Robalo, Miguel Magalhães e Sofia Lobo.

Sessões para escolas e digressão
Esta reposição do espectáculo marca também o início de uma "operação urbana" feita a meias com o Cendrev - Centro Dramático de Évora. Duas das companhias portuguesas com maiores tradições vicentinas dedicam parte do ano a aprofundar a exploração do reportório de Gil Vicente e estrearão no segundo semestre, em co-produção, o "Auto da Barca do Inferno". Até lá, farão um caminho que procurará envolver os públicos e as comunidades escolares das duas cidades e que incluirá intercâmbio de espectáculos, oficinas, exposições e debates. Esse caminho começa agora: na próxima semana, A Escola da Noite apresenta quatro sessões de "Auto dos Físicos" para o público escolar de Coimbra (15 e 16 de Fevereiro) e parte logo a seguir para Évora, onde cumpre uma temporada para escolas (18 e 19 de Fevereiro) e apresenta duas sessões para o público em geral (20 e 21 de Fevereiro). Entre 25 e 28 de Fevereiro, é a vez de o Cendrev trazer a Coimbra "Estes autos que ora vereis", um espectáculo a partir de fragmentos de vários textos de Gil Vicente. Também aqui haverá sessões para o público escolar (25 e 26 de Fevereiro) e para o público em geral (27 e 28 de Fevereiro).

Vânia Couto e Joana Monteiro nos Sábados para a infância
Ainda no que respeita à programação do TCSB, merecem destaque as duas próximas edições dos Sábados para a infância. Já a 13 de Fevereiro, pelas 11h00, Vânia Couto estreia-se neste espaço dedicado aos mais novos com o espectáculo de teatro e música "Catra... Pum!!!", para toda a família (M/3).
Uma semana depois, a designer Joana Monteiro regressa ao Teatro, propondo desta vez uma oficina de animação tipográfica. "Sempre à volta das letras - explica a formadora - os participantes vão utilizar materiais diversos, como carimbos, tintas, fios, papéis de cor, lápis, canetas e o mais que encontrarem na oficina e no sub-palco do Teatro" para construir, em conjunto e "frame" a "frame", um breve filme de animação. A oficina tem a duração de 4 horas e destina-se a crianças entre os 8 e os 12 anos. Tanto num caso como noutro, é possível (e aconselhável) fazer reserva prévia de lugares, pelos contactos habituais do TCSB.

 


Author`s name
Timothy Bancroft-Hinchey