E se o governo do Canadá decidisse imitar as loucuras dos dois Bush americanos e declarasse guerra aos talibãs? É claro que isso iria ativar a economia do país e o primeiro-ministro já tem quase o apoio do Parlamento faltando apenas um voto para poder concretizar essa medida.
Por Rui Martins, de Locarno
Esse é o tema principal do filme Guibord s´en va-t-en guerre do realizador canadense Philippe Falardeau, uma divertida, inteligente e criativa comédia exibida no telão de 300 m² da Piazza Grande, mostrando um hipotético Canadá, onde o primeiro-ministro tenta comprar o voto de um deputado, para obter a maioria, oferecendo-lhe mesmo um cargo de ministro.
Porém, o deputado independente dos grande partidos tinha preferido consultar o povo da circunscrição eleitoral num referendo, onde cada eleitor deveria se pronunciar Sim ou Não à guerra. Essa provocação de um referendo exige uma campanha de esclarecimento e consulta popular para se saber qual a opinião popular sobre o belicoso tema.
De um lado, os lobistas das empresas ligadas de maneira direita ou indireta à fabricação de armamentos e manutenção dos soldados em combate obtêm o apoio dos sindicatos de trabalhadores excitados com as novas perspectivas econômicas abertas ao país com a criação de novos empregos e reativação da economia. A filha do deputado milita francamente contra a guerra, mas dentro da família as opiniões divergem.
Felizmente, o deputado Guibord, que logo será candidato à reeleição, tinha acabado de encontrar por acaso um assessor vindo do Haiti, bem formado em questões políticas e sociais, que orienta o deputado nos momentos decisivos, pois falta a Guibord uma boa formação política.
A comédia poderia ter sucesso no Brasil, mesmo se lhe falta nosso elemento principal, a corrupção, porém mostra como funcionam as jogadas do poder para obter maioria e aprovar os projetos mais absurdos.
Não conto o final para não quebrar o suspense: afinal o governo canadense decide ou não entrar em guerra?
Philippe Falardeau é um conhecido cineasta do Quebec canadense, já premiado com o Prêmio do Público da Piazza Grande de Locarno, em 2011, com seu filme O Senhor Lazhar, tratando da integração dos imigrantes no Canadá.
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