Ucrânia não dialogará com DPR e LPR

O Presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko disse ao 8º Fórum de Kiev para Questões de Segurança que a Ucrânia não dialogará com representantes da autoproclamadas repúblicas populares de Donetsk e Lugansk (ing. "DPR" e "LPR", respectivamente). Disse, dentre outras coisas, que "Temos de garantir eleições justas. E dialogaremos com o Donbass, mas com um Donbass diferente, com um Donbass ucraniano." 


A mesma posição, mas em termos mais violentos, foi expressa no mesmo Fórum pelo primeiro-ministro Arseniy Yatsenyuk. Ele diz que está disposto a dialogar com representantes das Repúblicas "mas só depois que estiverem atrás das grades." E acrescentou: "Por falar nisso, temos muitas celas vazias".

Segundo Yatsenyuk, seu governo jamais negociará com os atuais representantes do Donbass. "Só nos comunicaremos com representantes legítimos dessa região, e queremos fazer eleições legítimas por lá" - disse o primeiro-ministro.

Poroshenko também disse que não há qualquer tipo de conflito interno na Ucrânia. "Não temos conflitos internos", disse Poroshenko. "Bem ao contrário, a Ucrânia está hoje mais unida do que nunca." 

"Farei todo o possível para garantir que nem algum idioma, nem alguma fé, nem questões de terra, nem a OTAN, nem qualquer outra questão dividam a Ucrânia," prometeu o presidente. "A segunda língua nas escolas e universidades na Ucrânia deve ser o inglês, não o russo."

Ao mesmo tempo, pesquisas mostram que a atitude dos residentes na Ucrânia quanto à questão do status do idioma russo e a trajetória até a inclusão como membro da OTAN claramente divide o país entre Oeste e Leste. Segundo resultados de estudo feito em março, encomendado a várias empresas internacionais e à Ukrainian Rating, 70-80% dos residentes no sudeste da Ucrânia declaram o russo como sua língua nativa; e no oeste, 92-97% escolhem o ucraniano. Em Carcóvia, o russo é usado por 84% dos residentes; e em Ternopol, nenhum dos residentes entrevistados declarou o russo como sua língua nativa.

O status das línguas russas converteu-se em uma daquelas questões que dividiram o país há um ano e serviram como estopim para o conflito no Donbass, conflito o qual, desde então, se converteu em guerra civil em grande escala. Mas o presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, ao longo do ano, várias vezes repetiu que só o ucraniano terá status de língua nacional no país. Há vários dias, em cerimônia em homenagem aos vencedores do 15º Concurso Internacional P. Yatsyk de Idioma Ucraniano, Poroshenko mais uma vez repetiu que na Ucrânia, "houve, há e sempre haverá uma única língua nacional - a língua ucraniana minha e de vocês."

Antes, o ministro do Interior, Arsen Avakov, manifestou seu apoio ao fechamento completo da linha de demarcação em torno do território do Donbass controlado pelas Milícias. "Minhas posições são as seguintes: a linha de demarcação deve ser completamente fechada. Contra tudo e todos. É o meu ponto de vista radical - é também o que todos pensamos na Junta. Gente a pé e carros de passeio dirigidos por civis passam. Mas nenhum produto ou bem. Eles que consigam da Rússia os produtos de que precisam" - disse Avakov em entrevista à agência de notícias LigaBusinessinform. Para ele, esse é o meio para derrotar o contrabando para dentro da zona de operação militar.

"Querem vida independente? Querem amizade com a Rússia? A Federação Russa está aí, perto de vocês - pois fiquem amigos dela. Querem viver pela lei ucraniana? São ucranianos? OK. Nesse caso, Acordos de Minsk: e nossos guardas de fronteira assumem o controle da fronteira com a Rússia. E lidaremos com isso à nossa maneira" - disse Arsen Avakov, ministro do Interior da Ucrânia (Tass.ru).

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Não é difícil perceber que essa posição, nos termos em que está sendo adotada pela Junta, impede todas as tentativas de chegar a algum acordo com os EUA em relação à Ucrânia. Depois do fracasso das conversações diretas entre Federação Russa e EUA (com visitas de Kerry e Nuland à Rússia), a Junta deliberadamente adotou a posição mais dura possível, o que demonstra o absurdo de todas as esperanças de que os Acordos de Minsk sejam cumpridos (ainda que os dois lados continuem a afirmar que tudo está de acordo com o que o acordo determina). 

Essencialmente, como já disse várias vezes antes, a própria lógica dos conflitos torna impossível que o Donbass volte a ser parte do estado ucraniano. Essa é a raiz das declarações dos EUA sobre "a posição agressiva do Kremlin" e dos atuais "tempos difíceis e importantes". É cada dia mais difícil encobrir com manobras diplomáticas a guerra que eclode e alastra-se, ou o conflito que não para de devorar vidas e equipamento, sob mantras do tipo "acordos de Minsk" e a inócua contagem do número de bombardeios ucranianos.

A simples verdade é que o Donbass nunca mais voltará a submeter-se à autoridade do atual governo de Kiev. O ponto depois do qual deixou de haver volta possível foi o verão de 2014. O que gente como Bolotov, Strelkov, Mozgovoy, Bezler e outros fizeram naquele momento foi mais do que suficiente para aprofundar de tal modo o cisma, que, nas tentativas para remendá-lo, arruinaram-se todas as esperanças dos "pró-unitaristas", "planejadores espertos" e outros, de que o Donbass possa, seja como for, voltar a integrar o estado ucraniano. 

Claro que nada disso aconteceu com a "ajuda" dos EUA e da Junta, porque todas as construções lógicas do tema do retorno do Donbass sempre partiram do pressuposto de que seria possível algum acordo com os EUA. 

Nem os líderes russos escaparam completamente dessas ilusões, e fizeram vastas concessões, sempre na esperança de baixar o tom do conflito. Não deu certo. Os EUA estão indubitavelmente e bem claramente decididos a infligir, seja como for, de um modo ou de outro, alguma derrota à Federação Russa. A Junta é instrumento dessa política dos EUA e, se se analisa o comportamento desse instrumento, pode-se ver em que direção os EUA desejam empurrar a guerra: aos russos na Ucrânia foi atribuído o papel de untermensch[al., "subumano", "povo inferior", todos os "não arianos, conforme a terminologia racial nazista contemporânea"]

Eis por que a guerra continuará, e as Repúblicas Populares de Donetsk e de Lugansk estão destinadas a continuar como formações não reconhecidas de estado, que não podem voltar à Ucrânia, e que a Rússia não integrará ao seu território. Mas o Donbass nunca mais voltará a ser ucraniano. Se Poroshenko dialogará ou não com Plotnitskiy e Zakharchenko é detalhe que pouco tem a ver com esse fato.

P.S. Por falar nisso: todos que, vez ou outra, reclamam que eu use a palavra "Junta" para falar do regime de Kiev vejam aí que, agora, até o ministro do Interior já reconheceu que sim, que não passam, eles mesmos, de uma Junta. *****

2/6/2015, Colonel Cassad, Slavyangrad (trad. ru. Gleb Bazov, ed. @GBabeuf)

http://slavyangrad.org/2015/06/02/ukraine-will-not-engage-in-dialogue-with-the-dpr-and-the-lpr/

 


Author`s name
Timothy Bancroft-Hinchey