Centenário de Vinícius de Moraes
O centenário de nascimento do eclético Marcus Vinícius da Cruz de Mello Moraes, no último dia 19 de outubro, revigora a tez músico-literal da mais alegre e lírica dupla desde o berço da MPB: Toquinho e Vinícius. As rádios modernas bem que poderiam tocar mais as composições de ambos, em nome da perpetuação de tão rica discografia.
Se o amor é fantasia, eu me encontro ultimamente em pleno carnaval
O centenário de nascimento do eclético Marcus Vinícius da Cruz de Mello Moraes, no último dia 19 de outubro, revigora a tez músico-literal da mais alegre e lírica dupla desde o berço da MPB: Toquinho e Vinícius. As rádios modernas bem que poderiam tocar mais as composições de ambos, em nome da perpetuação de tão rica discografia.
Vinícius de Moraes sabia o quanto a poesia é a mais intimista e perene das artes a despertar e revelar a polivalência artística que Deus faz nascer em nós; aprendizes criativos. Mas, por razões tantas, o entorno muitas vezes a adormece dentro da gente, no batente diário do frenesi consumista.
Muito bem! Desabava um tremendo temporal sobre o Rio de Janeiro, na madrugada de 19 de outubro de 1913, quando o nosso diplomata da poesia veio ao mundo para nos trazer emoção e magia. Ainda garoto Vinícius foi batizado pelo avô na maçonaria. Depois fez a primeira comunhão. Participou de teatros escolares infantis. No avançar dos anos tornou-se bacharel em letras e direito. Em 1933 iniciou a premiada carreira de escritor com o livro: 'O caminho para a distância'. Três anos depois ficou amigo de Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade. No ano de 1938 atravessou o Oceano Atlântico rumo ao Reino Unido, para estudar língua e literatura na Universidade de Oxford. No final do ano seguinte voltou ao Brasil junto com o amigo Oswald de Andrade - eclodia àquela época a II Grande Guerra.
Gigante o conjunto da obra desse bom combatente e contestador nos campos nem sempre livres do pensar literário, musical, jornalístico, teatral e cinematográfico. Antifascista convicto, ele foi companheiro de cabeças vanguardistas da cultura mundial. Concursado, ingressou à carreira diplomática aos completar 30 anos de idade.
Foi cronista, editou suplementos especiais, colaborou com importantes e combativos periódicos. Para o jornal Última Hora Vinícius escreveu a convite de Samuel Wainer. Era 1946 quando partiu para uma temporada de cinco anos na cidade de Los Angeles, onde ocupou o posto de vice-cônsul. Lá ele estudou cinema com Orson Welles.
Vinícius conviveu e trabalhou intensamente com figuras celebres como Pablo Neruda, Di Cavalcanti, Rubem Braga, João Cabral de Melo Neto, Jorge Amado, Antônio Carlos Jobim, Chico Buarque, Nara Leão, João Gilberto, Francis Hime, Edu Lobo, Roberto Menescal, Oscar Niemeyer, Aníbal Machado, Dorival Caymmi, Carlos Lira, Baden Powell, Pixinguinha... É extensa a lista de amigos do 'poetinha camarada'. Bamba do samba, o intrépido Vinícius de Moraes revolucionou a MPB e ajudou a criar a Bossa Nova.
Na fase diplomática na Embaixada Brasileira em Paris, compôs canções de câmara com o Maestro Cláudio Santoro. Em 1969 foi exonerado do Itamarati e no ano seguinte iniciou a mais popular, frutífera e marcante parceria da carreira ao lado do violonista, cantor e compositor paulistano Antonio Pecci Filho, o Toquinho; este que o acompanhou até a morte, em julho de 1980.
Seres despojados como Vinícius de Moraes ajudam-nos a entender a intemporalidade da vida e a importância da música na construção da história. Artistas assim são sustentáculos existenciais. No final das contas:
♫ A vida é pra valer, a vida é pra levar, Vinícius, velho, saravá ♫
Maria Esperança Marianno é advogada
Paulo de Tarso Porrelli é jornalista e poeta